Início Capítulo Dois

Parte 1...

 Quatro dias depois...

“Ganhe pra viver, viva com carinho. E de preferência, sem ter contas a pagar.

Olhe pra você, não pro seu vizinho, que o tempo passa, não vai nunca te esperar.

Tá bom, mas é bom não esquecer, que a vida não livra a de ninguém.

Nosso futuro ninguém vê. E o presente é o que se tem.

O amor e a paixão entram nesse jogo. A paixão é fogo, muito fácil de apagar.

O verdadeiro amor cresce diferente. Cotidianamente, a gente tem que cultivar.

A vida não é sempre o que se espera. Pobre de quem não se considera um aprendiz.

Cada um é um, tudo vale nada, se até o fim da estrada, não se chega a ser feliz.”

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Nathaly relia essas palavras desde que pegou uma revista no aeroporto, antes de embarcar, que falava sobre situações diferentes da vida e tinha algumas dicas, diretas e poemas sobre diversas situações. Mas nenhuma das dicas ali estava servindo para ela agora.

Ela estava com os ouvidos doendo de tanto ouvir as reclamações do tio sobre ela não ter pintado o cabelo de loiro como ele queria. No salão a pobre coitada da cabeleireira ficou preocupada por ela não aceitar que entupissem seu cabelo ruivo com as tintas para clarear, como ele havia mandado.

Seu cabelo era idêntico ao de sua mãe e amava demais sua cor. Disse não e arriscou a levar mais broncas. Deixou que cuidassem de suas unhas e fez uma limpeza de pele.

Adorou a sensação de ter as unhas pintadas porque quase não fazia isso. Não adiantava nada pintar e horas depois perder todo o esmalte limpando panelas e lavando pratos.

— Você é uma idiota - Yago xingou novamente quando viu que não pintou o cabelo — Deveria ter feito o que eu disse. Não gosto que me desafie, menina.

Nathaly estava se sentindo completamente deslocada. Aguardavam a chegada do possível futuro marido e a cada instante seu estômago ficava mais incomodado e tinha medo até de acabar colocando tudo pra fora.

Comeu bem pouco antes de sair para encontrar o tio porque o nervosismo não a deixara aproveitar a comida. Tudo o que pensava era em como seria esse Kostas. Uma coisa era ver seu rosto em fotos na internet e outra era pessoalmente.

— Se estragar tudo em cima da hora vai se arrepender - ele ameaçou — Não pense que vou deixar que manche meu nome de novo. E meu plano está perfeito, não estrague.

Ela nunca fizera nada para ele, no entanto o tio insistia em dizer que ela era culpada de algo que nunca foi feito. Começava a desconfiar de sua sanidade. Uma pessoa não podia ser tão ruim assim.

E começava a imaginar como sair logo dali, caso desse errado o plano dele. Talvez esse Kostas nem quisesse falar com ela. Teria que voltar de imediato para o Brasil e tentar achar outros meios para conseguir o dinheiro.

— E mantenha a boca calada. Não olhe diretamente para ele - apertou seu braço um pouco, o suficiente para não marcar, mas ainda assim doeu e ela fez uma careta — Lembre-se de parecer ser uma boa moça obediente e calma. Se mantiver sua língua travada ele nunca vai ter tempo de descobrir que você não é uma verdadeira grega e será tarde demais.

O barulho do helicóptero a deixava nervosa. Estavam se aproximando da terra firme e ela levantou o rosto.

— Mantenha a postura - apertou seu joelho — Olhos baixos, boca fechada. Lembre-se.

“O inferno que era obrigada a passar por causa desse homem. Poderiam ter ficado em sua mansão. Por que irem a uma ilha? Logo uma ilha? Com tanto lugar?”

Mesmo com o helicóptero voando baixo ela sentia medo e começava a suar um pouco nas mãos. Seu coração estava um pouco acelerado e controlava a respiração para não entrar em pânico.

Pelo menos o tio pensava que ela estava sendo obediente em não responder à ele. Melhor do que descobrir que estava com medo de outra coisa. Ele iria reclamar e com certeza rir de seu medo.

Olhava para o mar embaixo do helicóptero e mesmo sendo de um azul incrível ela não conseguia relaxar de fato. Sempre tivera um enorme medo do mar. Mesmo sendo muito bonito ela só pensava que se estivesse na água iria morrer.

Sua garganta até doía um pouco, de tão travada que estava, tentando não pensar em toda aquela água embaixo dela.

E ainda não estava certa sobre esse noivo. Se o tio já sabia sobre sua condição financeira e de saúde, o que garante que o noivo também não saiba?

De repente ele só queria rir da cara dela e pisar no tio por ter inventado esse acordo ridículo. Mas ela não tinha culpa. Não foi para isso que viera até a Grécia. Se isso acontecesse ela teria de voltar humilhada e sem o dinheiro que precisava.

Ela não deveria ter aceitado fazer isso. Estava errada. Ainda que o tio afirmasse que Kostas Megalo não sabia de nada ela tinha medo de que ele descobrisse, antes de assinar o acordo de casamento e ela ficaria sem o dinheiro. Além de ter se tornado uma golpista e mentirosa.

— Melhore essa cara feia - fez uma cara de desprezo — Como você é sem graça, garota.

Ela virou o rosto para o lado. Precisava demais do dinheiro, só isso justificava estar ali ao lado daquele homem sendo humilhada. Precisava lembrar que não era golpista, era necessitada.

Tinha que conseguir. O motivo para fazer tal coisa era muito importante e ela não tinha mais a quem recorrer.

A família Megalo não era tão inocente assim e Kostas não era um bom homem. Tinha aproveitado esses dias na pequena pousada onde o tio a instalou, para buscar informações sobre ele e tudo o que achou foram futilidades.

Não era tão errado assim fazer algo que iria ajudar sua mãe em troca de uma mentira para uma pessoa sem caráter como ele.

Se ele fosse um homem decente, dificilmente ela conseguiria levar isso adiante, mas visto que são farinha do mesmo saco, não tinha motivo para se sentir tão culpada.

Era só falta de costume de agir de uma forma maquiavélica como essa, que para essa família e até para seu tio parecia ser bem normal. Eram iguais.

E pelo que leu sobre seu comportamento, com certeza deveria ser um péssimo namorado e não seria um bom marido, que dirá pai. Era até bom mesmo que não pudesse ter filhos para não colocar no mundo uma criança que iria ser relegada a um canto qualquer, por falta de interesse e amor de seu pai. Isso não seria certo.

Uma coisa boa disso é que ambas as famílias acabariam ali mesmo. Ela não lhe daria filhos e sua herança moral não passaria adiante. O mesmo com seu tio.

As rivalidades e brigas e tudo mais que já havia acontecido entre as famílias terminaria ali naquele acordo. E ela gostaria de saber que foi por causa dela.

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