Eu não voltei a questionar, apenas deixei que Carlen me levasse de carro para casa.
No carro, ele me explicou toda a origem daquele acidente inesperado.
Nove meses atrás, durante uma negociação de negócios, ele teve uma droga afrodisíaca potente colocada em sua bebida e, em meio à consciência turva, foi levado para casa pela garçonete Lily.
Após aquele incidente, ele puniu o estabelecimento e deu uma quantia de indenização a Lily, exigindo que ela deixasse o território da Alcateia Silvermoon.
Mas ele não esperava que Lily acabasse engravidando.
Quando a mãe de Carlen soube do ocorrido, trouxe Lily de volta para a Alcateia e, com determinação, afirmou que aquele possível descendente deveria ser protegido a todo custo.
Eu conhecia profundamente a obsessão da mãe de Carlen por descendentes.
Sete anos atrás, após meu casamento com Carlen, fomos em lua de mel e, no caminho, fomos atacados por um lobisomem renegado.
Durante a fuga, Carlen, ao tentar me proteger, foi atingido por uma bala banhada em nitrato de prata.
Com o último resquício de força, ele me empurrou para um local seguro, permitindo que eu escapasse primeiro.
Mas como eu poderia abandonar meu companheiro?
Escolhi ficar ao lado dele, usando minha força de Loba para curá-lo, impedindo que morresse por causa do nitrato de prata.
Quando o reforço da Alcateia finalmente chegou, eu já havia esgotado grande parte do meu poder de Loba.
Carlen se recuperou rapidamente com o tratamento, mas eu, naquela tragédia, perdi o filhote que carregava no ventre e minha Loba ficou gravemente ferida, incapaz de gerar filhos novamente.
Desde então, o sentimento de Carlen por mim só se aprofundou. Ele dizia que nossas almas estavam completamente entrelaçadas e jurava que, acontecesse o que fosse, jamais se separaria de mim.
No entanto, a mãe de Carlen ficou extremamente insatisfeita com o fato de eu não poder gerar descendentes.
Diante desse filhote concebido por acaso, não era difícil imaginar até onde ela iria para protegê-lo.
Dentro do carro, Carlen apertava minha mão com culpa, transmitindo seu arrependimento pela conexão mental:
— Irene, isso foi realmente um acidente... Como compensação, vou te dar uma cerimônia de casamento grandiosa.
Olhei diretamente em seus olhos dourados, contendo a dor e perguntei:
— Entre o filhote e eu, quem você escolheria?
Ele mergulhou em silêncio, mas eu já havia obtido minha resposta.
Naquela noite, parecia haver um muro invisível e espesso separando nós dois. Seu abraço ainda era quente e familiar, porém, meu coração sentia uma distância inédita.
Na manhã seguinte, Carlen já não estava mais ao lado da cama.
Apenas um bilhete restava.
[Há assuntos urgentes na Alcateia, precisei ir antes. Preparei o café da manhã para você, não esqueça de comer.]
Na verdade, hoje pela manhã, ainda antes do amanhecer, ouvi Lily ligando para ele.
Foi Lily quem o chamou para sair.
Olhando para o café da manhã sobre a mesa, senti uma onda de náusea.
Um pensamento surgiu em minha mente, então fui até a ala de obstetrícia da clínica da Alcateia.
Diante do laudo em minhas mãos, com o resultado "gravidez confirmada", acabei rindo em meio às lágrimas.
A curandeira me olhou com compaixão e perguntou baixinho:
— Você já decidiu o que vai fazer com esse filhote? Com seu estado de saúde atual, se decidir abrir mão dele, nunca mais poderá engravidar novamente.
Pensei por um longo tempo, e então, em voz baixa, revelei minha decisão.
Ao sair da clínica, fui até a mansão luxuosa que Carlen me dera, batizada com o meu nome.
Vi, na pedra enorme diante da entrada da propriedade, meu nome gravado e, logo abaixo, a frase que Carlen escreveu de próprio punho:
[Eu caminho com Luna até a eternidade.]
Só pude achar aquilo irônico.
Foi Carlen quem me deu essa mansão, nosso ninho de amor exclusivo.
Exceto as empregadas, nenhuma outra mulher jamais teve permissão para entrar.
Mas, naquele momento, vi Lily dentro da mansão.
Ela me olhou com escárnio e provocou:
— O famoso lugar onde só o Alfa e a Luna podem entrar, afinal, não é grande coisa. Consegui entrar sem dificuldades.
— Dizem que aqui é o ninho exclusivo de vocês dois? Mas a mãe do Carlen disse que este lugar é ideal para gestar um filhote, e Carlen me deixou morar aqui. Você não vai ficar chateada, vai?
— Carlen tem medo que algo aconteça com o bebê, então trocou todos os móveis, tudo do jeito que eu gosto.
Olhei ao redor da mansão, agora completamente irreconhecível, e o amargor em meu peito quase me sufocou.
As memórias vieram como uma onda, vívidas diante dos meus olhos.
No terceiro aniversário do nosso vínculo de companheiros, Carlen se ajoelhou diante de mim e me entregou a chave dessa mansão.
— Irene, nunca deixarei ninguém pisar aqui. Este lugar carrega a Marcação do nosso vínculo de companheiros. É um mundo só nosso.
Aqui já foi o santuário do nosso amor, e agora ele mesmo entregou para outra mulher.
Senti minhas forças me abandonando, quase não consegui me manter de pé.
O lugar que antes era cheio de amor agora testemunhava a minha dor.
— Então por quanto tempo você vai ocupar a posição de Luna? Não enxerga o favoritismo de Carlen por mim e pelo filhote? — Disse Lily, cheia de maldade.
Ocupar?
Só se ocupa o que não pertence a você.
Talvez, aos olhos dos outros, eu realmente não fosse digna de ser Luna...
Sorri com amargura, tomada por uma sensação de impotência.
De repente, meu olhar caiu sobre um canto vazio do grande salão. Ali deveria estar a nossa foto de casamento, mas ela havia sumido.
— Onde está a minha foto de casamento com o Carlen?!
Minha voz subiu de repente, trêmula, tomada pela incredulidade.
— Achei desconfortável ficar olhando, então pedi para o Carlen guardar. — Disse Lily, com desdém, como se falasse de algo insignificante.
A encarei furiosa e, só então, ela foi buscar a foto a contragosto.
Logo em seguida, diante dos meus olhos, Lily sorriu de forma maliciosa e ateou fogo na foto.
Corri para tentar apagar as chamas, mas Lily caiu no chão, gritando de dor.
Eu não conseguia ouvir nada, só pensava em apagar o fogo.
Foi então que o grito incrédulo de Carlen explodiu nos meus ouvidos:
— Irene, por que você a empurrou?!