POV: AIRYS
As lágrimas escorriam quentes pelas minhas bochechas. Eu sentia a dor daquela criança como se fosse agora. Porque era. Era meu corpo ali. Era a minha essência sendo acorrentada.
Era a minha verdade sendo enterrada viva.
— Mamãe... tá doendo muito... para... — A voz da pequena tremia, os lábios trêmulos, o choro misturado com gemidos baixos e desesperados.
Mas minha mãe... ela continuava.
Cantava.
As correntes apertavam mais. Se cravavam na carne da menina, afundando como se estivessem se fundindo ao corpo. A pele enrubescia, depois queimava. O cheiro do ferro aquecido com pele era real demais.
— Está queimando! — a pequena gritava, o corpo se arqueando sobre a pedra. — Eu não quero! Para! Tá machucando... para com isso!
POV: AIRYSErgui a cabeça, os olhos vermelhos de tanto chorar, e gritei para os céus como se eles pudessem me ouvir:— EU SOU A VERDADEIRA MONSTRA AQUI!Gritei até a garganta arder, até a alma ecoar a dor que me consumia.Caí para frente, os dedos afundando na neve. Esfreguei as mãos com força, como se pudesse apagar o sangue, apagar o que tinha feito.Foi quando vi.As patas brancas pararam à minha frente.Congelei.Ergui o rosto, trêmula, os olhos ardendo de dor, e ali estava ela.A loba.Branca como a neve.Imóvel. Forte. Silenciosa.Me encarava com olhos dourados, os meus olhos. O vento passava por nós, mas ela não se movia.— Voc&
POV: AIRYSToquei meu rosto devagar, com a ponta dos dedos. A pele estava mais sensível, mais viva. Cada contato parecia percorrer direto até o centro do meu corpo. O ar ao redor vibrava, sutil..., mas perceptível.Meus ouvidos se moveram sozinhos, espasmos leves como se estivessem tentando captar sons escondidos na atmosfera e eu ouvia. O farfalhar da madeira. O sussurro do vento. O silêncio respirando pelas paredes.Me levantei.Ao tocar o chão gelado com a ponta dos pés, um arrepio subiu por toda a minha espinha, me fazendo encolher os ombros. O frio atravessava minha pele como se quisesse provar que eu era real.Calcei as botas pesadas deixadas ao lado da cama. Ao lado delas, roupas de tecido espesso me aguardavam. Me vesti devagar, o tecido roçando pela pele sensível me provocava sensações que antes jamais teriam me afetado.O ambiente era sóbrio, misterioso, mas foi o espelho no canto que capturou minha atenção.Me aproximei dele.Inclinei o rosto com cautela, como se fosse enco
POV: AIRYSAs palavras dela martelavam minha mente. Eu mal conseguia processar.— Assim como... Fenrir? — murmurei, perplexa, com o nome escapando de meus lábios.“Mais do que Fenrir.”A voz de Rielly reverberou com firmeza. Seus pelos brancos se agitaram ao redor do corpo forte, e o brilho dourado dos olhos se intensificou como uma tempestade prestes a explodir.“E mais selvagens. Mais perigosos. Mais brutais.”Minha garganta secou. O nome de Fenrir por si só já era o suficiente para causar um aperto entre as costelas. Mas aquilo? Era um abismo inteiro de força desconhecida que me puxava para dentro.— Queriam isso... queriam poder suficiente para derrubar os Alfas Supremos. — concluí com a voz embargada, mas sem desviar o olhar dela. — Foi por isso que minha mãe tentou mantê-la presa... contida...Engoli em seco, sentindo um peso estranho tomar meu peito.— E aquele líquido? A substância dos rituais... o que era?“Não sei.” respondeu com um tom baixo, mais sombrio. “Mas era eficaz.
POV: AIRYSO som reverberou no ar, me atravessando como uma descarga elétrica. Arfei, sentindo meu corpo todo reagir ao timbre primitivo que ele emitiu. Era uma advertência. Um aviso. Uma promessa.— Pequena... precisa controlar esses pensamentos maliciosos. — Sua voz chegou até mim com uma rouquidão preguiçosa e perigosa, como um sussurro arrastado de advertência.Ele se virou devagar, os músculos se movendo sob a pele exposta, e cruzou as pernas com naturalidade, posicionando os braços à frente do corpo enquanto me media com aquele olhar predatório.— Se quiser me pegar de surpresa.Engoli em seco.— Eu não estava... — Mordi o interior da bochecha, sentindo meu rosto esquentar. Era óbvio que minha mente estava repleta de besteiras. Uma enxurrada delas, aliás. Bastava olhar para ele... para lembrar como meu corpo reagia, entregando-se inteiro sem resistência.— Bem... — suspirei, tentando manter a compostura — ...se usasse mais camisas, facilitaria.Tentei soar casual, mas minha voz
POV: AIRYSFui leiloada.Como Luna de alta classe, a companheira do Alfa da minha alcateia, eu deveria ser respeitada, protegida, reverenciada. Mas não.Fui traída. Abandonada. Vendida como mercadoria barata.E o mais humilhante? A pessoa que me entregou foi o homem que jurei amar e servir por toda a vida.Minha cabeça latejava, um zumbido insistente martelava meus ouvidos. Gemi, tentando abrir os olhos, apenas para ser recebida por uma luz ofuscante que queimava minhas retinas. Algo áspero roçava contra minha pele, cortando meus pulsos já feridos. Minhas articulações gritavam em protesto.Respirar era um desafio. A coleira fria em meu pescoço apertava cada tentativa de puxar ar, até mesmo engolir saliva era difícil. Cada movimento era uma punição, minhas costelas doíam, prova da surra brutal que havia recebido antes de ser jogada aqui.Tudo por uma farsa. Uma armação cruel.E a responsável?A mulher que mais confiei na vida.Minha própria irmã.A mesma que peguei na cama do meu marid
POV: AIRYS— Meu pulso! — O homem baixo e repugnante resmungou, ainda preso no aperto do gigante à minha frente. Um estralo seco ecoou pelo salão, seguido por um grito de dor cortante.— Aí! Por favor... Aí...O cheiro de suor e medo emanava dele.— Se-senhor, por favor... — O leiloeiro balbuciou, a voz trêmula. — A mercadoria já foi vendida. O martelo já foi batido.O homem imponente que segurava o nojento torceu seu pulso mais uma vez, forçando outro gemido de agonia antes de soltá-lo bruscamente.— Dois milhões de dólares. — Sua voz saiu baixa, profunda, cortante e afiada. — E seus membros intactos.A ameaça era clara. Ou aceitavam, ou morreriam ali mesmo.— O quê?! — A voz estridente de Eloy explodiu em um grito irritante, me fazendo cerrar os dentes. — Airys não vale tudo isso! Por que pagar tanto por ela?!— A mercadoria leiloada é minha Luna renegada! — Malik interveio, tentando manter a compostura, mas falhando miseravelmente. O leve tremor em suas pernas não passou despercebi
POV: AIRYS— Por que está me levando? — Indague nervosa, me ajustando ao banco próxima à porta do veículo. — Havia várias lobas naquele lugar, por que escolheu uma humana?Ele não respondeu, seus olhos se mantinham firmes na estrada, ignorando minha presença.— Pretende me matar? — Insistir, apertando o cinto. — O que você quer de mim?— Você faz perguntas demais. — Ele bufou baixo, mal-humorado. Engoli em seco. Cada fibra do meu corpo gritava em revolta. O alfa supremo, o maldito, Daimon Fenrir tinha uma reputação perigosa, um Alfa cuja fera ancestral o tomou em fúria, massacrando todos em sua volta e tirando a vida do próprio irmão.Seu lobo era hostil com qualquer um que se aproximasse, muitos não saiam vivos ao se aproximar demais dele, ao menos, era o diziam em minha alcateia.Eu precisava fugir!Daimon dirigia em silêncio, seu olhar fixo na estrada, enquanto eu olhava para os lados agitada, até que quebrou o silêncio.— Antes... — Seu tom desceu uma nota, ele me olhou de canto
POV: AIRYSRecuei alguns passos, meu coração batendo contra as costelas. Ele avançava devagar, sua forma lupina imponente, cada passo calculado, silencioso e letal. O ar gelado queimava minha pele, mas o frio não era nada comparado ao pavor que percorria minha espinha.— Me recuso a acreditar que a Deusa enviaria um monstro para me buscar. — Gritei, mesmo tremula.Medo. Raiva.Um instinto primitivo pulsava em minhas veias mandando fugir.Daimon rosnou, o som profundo vibrando no peito dele, reverberando dentro de mim.— Estou tão surpreso quanto, você, pequena coelhinha. — A provocação escorreu de seus lábios com um sarcasmo afiado, enquanto ele continuava a me encurralar.Senti a borda do penhasco sob meus pés. Um passo a mais e eu cairia. Meus olhos desceram para o vazio abaixo, a neve deslocada rolando em queda livre.— Salte! — A ordem veio como um desafio, fria e cruel. — Ou além de fraca, também é uma covarde?Engoli seco. Ele me testava. Queria ver até onde eu iria.— Eu te ace