CAPÍTULO 3

O avião estava quase finalizando o embarque quando ouvi passos pesados ecoando pelo corredor da executiva. Não aquele passo comum de passageiro atrasado. Era… firme. Preciso. Como se a pessoa estivesse acostumada a entrar em qualquer lugar esperando que tudo se abrisse em respeito.

Olhei para cima por reflexo.

E vi os dois.

Dois homens entraram lado a lado, ambos vestindo blazers pretos que pareciam moldados ao corpo deles. Não era só elegância — era presença. Uma presença que deixava a cabine menor, mais densa… como se até o ar prestasse atenção.

O da frente era… impossível de ignorar.

Alto. Muito alto. Algo em torno de 1m93. Ombros largos, corpo forte, proporções que fariam qualquer alfaiate chorar de alegria e desespero ao mesmo tempo. O blazer negro abraçava o tórax firme dele como se tivesse sido costurado diretamente sobre a pele. Rosto masculino, marcado, bonito de um jeito perigoso. A mandíbula definida, o nariz reto, os olhos escuros que varreram o ambiente num único segundo.

E então eu senti.

O perfume.

Um aroma amadeirado, profundo, quente. Tinha algo turco nele — especiarias, madeira e um toque de mistério que parecia atravessar a cabine e me enlaçar. Meu corpo reagiu antes da minha mente. Eu respirei mais fundo sem querer.

Atrás dele, o outro homem — mais baixo, ainda que “baixo” não fosse exatamente a palavra certa para quem tinha 1m86**. Também forte, mas com um rosto menos duro. Ele exalava um perfume francês, fresco e masculino, contrastando com o aroma mais denso do primeiro. A combinação deles era tão absurda que algumas mulheres da executiva se ajeitaram na poltrona sem nem disfarçar.

Eles eram… uma visão.

E eu me senti subitamente muito pequena dentro da minha poltrona reclinável.

O primeiro — o mais alto — estava prestes a passar direto quando seu olhar atravessou o corredor e encontrou o meu.

Foi rápido.

Um segundo. Talvez menos.

Mas eu senti.

Como se alguém tivesse parado o ar entre nós. Como se o ruído dos passageiros, o barulho do motor sendo preparado, o arrastar de malas… tivesse sumido.

Seus olhos eram escuros, intensos. E por um instante — um único instante — passaram por mim com algo que não consigo descrever. Reconhecimento? Surpresa? Uma lembrança antiga que não deveria existir?

Eu quase desviei.

Quase.

Mas então…

Ele sorriu.

Não um sorriso aberto. Não um daqueles sorrisos “eu sei que sou bonito”.

Foi… pequeno. Sutil. O tipo de sorriso que diz “eu te vi”. “Eu sei quem você é”. Mesmo que claramente, não soubesse quem ele era.

Meu estômago fez um movimento estranho, como se tivesse caído alguns centímetros dentro de mim.

O amigo dele — o do perfume francês — percebeu o sorriso e deu uma olhada rápida para mim também. Só que o olhar dele era diferente: analítico. Como se estivesse confirmando alguma coisa.

Eu imediatamente endireitei minha postura, tentando parecer ocupada demais com meu cinto de segurança para notar dois homens absurdamente lindos me observando.

Ridículo. Claramente falhei.

Eles estavam parando duas fileiras à frente da minha, no canto esquerdo da cabine. O primeiro — o do sorriso — colocou sua mala no compartimento superior com tanta facilidade que pareceu uma cena ensaiada. Depois se sentou com a postura de quem está sempre pronto para se levantar e agir, mesmo dentro de um avião.

O amigo dele ocupou o assento ao lado.

Por um momento, enquanto eu me ajeitava, minhas mãos tremeram levemente. Não pelo medo — mas porque meu corpo inteiro parecia… atento.

Havia algo naquela presença.

Algo que não tinha explicação racional.

Como se eu tivesse visto aquele homem antes. Em sonhos borrados. Em flashes que eu não conseguia organizar. Ou como se minha pele o conhecesse antes do meu cérebro.

Dei uma risada interna. Deve ser o perfume. Homens que cheiram assim deviam ser ilegais.

A comissária passou oferecendo toalhas quentes, e eu aceitei com a mão ainda meio trêmula. Quando virei discretamente o rosto para a frente, vi que o homem — o alto — tinha voltado a olhar na minha direção.

Não de forma insistente.

Não como alguém que flerta.

Era… estranho.

Quase como se estivesse esperando que eu lembrasse de alguma coisa que, aparentemente, não fazia o menor sentido.

O avião fechou as portas, e o movimento suave da aeronave sendo empurrada para a pista começou. Eu tentei focar na janela, no céu nublado lá fora, em qualquer coisa que não envolvesse o olhar dele queimando de forma intermitente na minha direção.

Mas então o amigo dele falou algo, um murmúrio baixo, e o sorriso que o homem tinha me dado antes reapareceu — agora voltado para a frente, como se estivesse rindo de um segredo privado.

Eu não sabia por quê, mas senti um arrepio subir pela espinha.

E então, como se o universo tivesse decidido complicar minha vida mais um pouco, ouvi apenas uma palavra — dita pelo amigo dele, baixa demais para ser realmente destinada a mim, mas clara o suficiente para que meus ouvidos captassem:

Cassiopeia.

Meu coração falhou um batimento.

Não… não era comigo. Não podia ser. Ninguém nunca me chamou por esse nome. Nem deveria. Era bonito demais, mítico demais — algo que soava como estrela, como constelação… como destino.

Mas o homem alto — o do sorriso que ainda queimava na minha mente — inclinou levemente a cabeça, como se tivesse ouvido, como se concordasse.

Cassiopeia.

Fingi que não ouvi e virei o rosto para a janela, forçando minha respiração a desacelerar. Talvez fosse o nome de um código. Ou de uma operação. Ou de uma empresa. Sei lá.

Mas quando tive coragem de olhar novamente, ele estava me observando.

Não de forma invasiva.

Não de forma inconveniente.

Mas com uma expressão que me deixou sem ar.

Como se eu fosse exatamente aquilo que ele estava procurando.

E não fazia sentido nenhum.

Ele não me conhecia.

Eu não conhecia ele.

E, ainda assim…

Quando nossos olhos se encontraram pela segunda vez, senti que o universo tinha acabado de mexer uma peça importante em algum tabuleiro invisível.

E ele parecia reconhecer mais sobre mim do que eu mesma.

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