04

p.o.v. Kat

Fiquei mais um pouco na banheira depois que Jasper saiu, ele veio já vestido até o banheiro perguntando o que eu gostaria de comer.

- Um sanduíche natural e um suco de laranja. – respondi.

- Você come igual a um passarinho, sabe muito bem que os sanduíches de hotéis como este são pequenos demais para pedir só um. – ele disse, depois de ligar para o serviço de quarto.

- Preciso manter a forma.

- Ok, mas você sabe que eu não gosto de garotas magras demais.

- Vá se fuder, você vai gostar de mim de qualquer jeito.

Eu joguei água nele e ele reclamou, ele era mais vaidoso com as roupas dele do que eu com as minhas.

Saí da banheira e fui me vestir. Eu e Jasper tomamos o café da manhã e depois saímos de carro do motel. Ele parou em frente a casa da minha mãe.

- Eu não quero voltar pra cá, quero ficar na sua casa hoje. – eu insistia, mas ele só dizia que já tinha marcado uma social masculina com os caras do futebol à noite.

- Não dá pra desmarcar, amor. – ele disse pela milésima vez.

- Mas eu não quero ficar na casa da minha mãe. – bati o pé e fiz biquinho.

- Então eu te deixo na casa da Kristina ou da Pamela.

- Mas eu não tenho roupa pra ficar lá.

- Você tem roupas na casa do seu pai?

- Sim, mas...

- Mas nada, eu vou te levar lá então, mas você sabe que em algum momento vai ter que voltar pra cá.

Ele me levou até a casa do meu pai, mas eu não queria e quando chegamos lá eu dei um beijo nele e entrei no prédio.

Era um condomínio de luxo e meu pai morava num duplex, cuja porta de entrada ficava no sexto andar.

Subi o elevador e abrir a porta do apartamento assim que cheguei no hall de entrada. Por sorte eu sempre carregava as chaves comigo.

A sala, a cozinha, a varanda, a área de serviço, o escritório e um banheiro ficavam no andar de baixo e parecia estar tudo muito arrumado. Em cima ficavam três quartos: um do meu pai, um meu e um do Caique. Foi preciso muita insistência para meu pai comprar este apartamento, ele odeia hóspedes, então queria apenas um quarto.

Parecia não ter ninguém no andar de baixo, entrei no escritório e meu pai não estava lá, muito estranho, pois já era quase meio-dia.

Subi as escadas e resolvi bater na porta do quarto, ninguém atendeu então resolvi abri-la. Tinha uma mulher aparentemente nua e apenas coberta por lençóis deitada na cama e a porta do banheiro estava fechada (tinha um banheiro em cada quarto).

- Quem é você? – perguntei.

- Sou Valeska. O senhor Raul não me disse que eu deveria fazer o serviço com mulher também, vou ter que cobrar mais caro. – ela respondeu se levantando ainda enrolada no lençol.

- O que? – perguntei na hora em que meu pai saiu do banheiro vestido num roupão branco.

- Oi filha – ele disse parecendo envergonhado – Valeska, você pode ir se vestir no banheiro... é... quanto é mesmo? – balbuciou ele.

- Cento e cinquenta – ela disse recolhendo suas roupas e indo para o banheiro, depois fechou a porta.

Papai depositou cento e cinquenta dólares na bolsa que estava em cima da escrivaninha e falou:

- Bem, eu não sabia que você ia vir hoje, acordamos tarde... Sabe como é.

- Acredita que ela achou que eu fosse cliente também? Pelo menos ela não achou que eu fosse outra p**a, senão eu teria partido pra cima dessa vadia.

- Não fale assim enquanto estiver na minha casa, eu liguei para Caique ontem e ele disse que você tinha saído com o Jasper e disse também que estava muito machucado por sua causa.

- Dormi na casa do Jasper – menti, eu não tinha vergonha de falar de sexo e palavrões na frente do meu pai, mas não tava fim de dar explicações sobre um motel – e o Caique mereceu tudo o que eu fiz e ainda merece muito mais.

- Casa do Jasper? Sei... Mas o que você fez com o Caique?

- Pergunta pra ele, a única coisa que eu sei é que ainda vou me vingar.

Papai revirou os olhos e abriu a boca pra falar, mas foi interrompido por Valeska.

- Cadê o meu dinheiro? – perguntou ela.

- Está na bolsa.

- Essa é sua filha? – ela falava de mim como se eu nem estivesse ali, mas que cachorra intrometida.

- Isso não é da sua conta – respondi, antes que meu pai tivesse essa chance – você não tem nada a ver com a vida do meu pai.

- Não fale assim Katleia – meu pai me repreendeu – bata a porta quando sair Valeska.

Ela passou por mim me fuzilando com os olhos. O que aquela bitch queria? Tratei ela do jeito que ela merece.

- Vá para seu quarto – disse papai – talvez você queira tomar banho ou se trocar, eu vou me vestir e depois nós vamos almoçar no restaurante japonês da rua de baixo.

Saí do quarto dele sem falar nada. Já tomei banho no motel, então apenas troquei de roupa e liguei pra Kristina.

- Falaí gatz. – disse ela com a voz fraca, parecia sonolenta.

- Ta acordando agora é?

- Ainda to dormindo.

- Ok, eu to indo almoçar com o meu pai e depois vou pedir pra ele me levar aí, então nós vamos no seu carro até o shopping.

- Hoje é dia de você ficar na casa da sua mãe, ta doida é? Cadê seu carro, amiga?

- Eu te explico quando eu chegar aí, agora levanta dessa cama e vai se arrumar, deixa que eu ligo pra Pamela pra avisar que eu vou aí.

Desliguei na cara dela. A Kristina fica meio idiota quando ta com sono. Aquela preguiçosa, dormindo até uma hora dessas.

- Fala amiga. – ela disse ao atender, tomara que essa lesada não fique me fazendo perguntas.

- É só pra avisar que nós vamos pra casa da Kristina.

- Ok, mas por que essa mudança de planos?

- Porque sim, vê se não se atrasa, ta fazendo o que?

- Descendo para almoçar antes que a gorda da Miranda devore tudo.

- Ok, tchau.

- Beijinhos.

Ela desligou o telefone. Miranda é a irmã mais nova da Pamela, ela tem 10 anos e está acima do peso. Aquela gorda só faz gordice. Pamela também tem um irmão mais velho, o Fred, tem vinte anos e faz faculdade de jornalismo.

Os pais dela são casados e ela mora numa “pequena mansão”.

Kristina é filha única e também mora com os pais. Que sorte, não ligo dos meus pais serem divorciados, mas aturar o Caique é horrível, preferia que aquele peste não tivesse nascido.

Caique sempre infernizou minha vida, mas isso ficou pior quando meus pais se separaram há quatro anos, porque minha mãe vive passando a mão na cabeça dele. Meu pai sempre achou melhor não tomar partido das nossas brigas, ele quase não parava em casa mesmo, mas ele sempre fazia o possível para Caique não tornar minha vida um inferno.

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