A Filha do Dono do Morro
A Filha do Dono do Morro
Por: Nayrareis
Capítulo Um

_ Estou indo pai - falo enquanto pego a minha mala de rodas de cor preta e desço as escadas.

_Você pegou tudo filha?- pergunta o meu pai - tem certeza que não quer que eu peça para um dos seguranças te acompanhar até o aeroporto?

_ Lembra da palavra confiança pai?- o pergunto pela a milésima vez desde que o falei que iria viajar sem seguranças nesse final de semana - Eu sou bem grande e aliás, a Melissa estará me esperando lá no Aeroporto e eu já chamei o Uber.

_ Tá bom Miranda - responde ele- você pegou o cartão Black que eu deixei em cima da sua mesa lá no quarto?

_ Sim, está na minha bolsa, mas você sabe que eu quase não uso. Vai ficar tudo bem pai, eu prometo.

_ Tudo bem, vai logo então - lhe dou um abraço, pego a mala a levando até o Uber que acabou de chegar e entro no carro dando o meu primeiro "olá" para a liberdade.

Eu me chamo Miranda, tenho quase 17 anos e moro no Morro do Complexo da Maré. O meu pai se chama Roger e ele é o chefe do morro aonde moramos. Ele tem essa pinta de durão, mas é um amor de pessoa. Mas quando se trata de mim ele é um completo super protetor. Desde que comecei a morar com ele- desde os meus 5 anos - ele tem sido muito cuidadoso comigo, mas até demais, pois nenhum rapaz é capaz de se aproximar de mim. Eu acredito que seja por medo, pois ninguém é capaz de desafiá-lo.

Eu sempre saía com escolta para todos os lados. Se era para viajar, teria que ser com um segurança por perto, mas tudo isso começou depois que eu perdi a minha mãe. Eu e ela morávamos em outra cidade, devido ele trabalhar muito e querer nos manter longe dessa vida dele e então um dos inimigos dele descobriu o paradeiro da minha mãe e como o meu pai estava devendo uma grana alta, por vingança a matou. Só não aconteceu nada comigo, pois nesse dia eu estava na casa da Melissa. Depois desse dia eu me mudei para o Morro e o meu pai começou a colocar seguranças por perto para me proteger, com medo de me fazerem mal. O meu pai conseguiu se vingar do cara que matou a minha mãe, mas o medo de algo me acontecer ainda o atinge.

Eu entendo o fato dele querer sempre me proteger, mas eu já quase de maior e quero viver a minha vida sem ter um segurança do meu lado, poder namorar sem que um homem sinta medo do meu pai. Foi difícil, mas finalmente ele me deixou viajar sem querer me espionar. O pai da Melissa - Rodrigo- é amigo de anos do meu pai e eu conheci a Melissa quando estávamos no jardim de infância e desde então somos inseparáveis. Ela mora na Central do Brasil, em um dos prédios mais chiques da cidade.

Eu e Melissa vamos viajar para o México. O nosso vôo dura cerca de 17 horas e 55 minutos, sendo que o avião vai fazer duas paradas: uma em Guarulhos - SP e outra em Miami. A passagem custou cerca de quase 4 mil reais e isso porque escolhemos a classe econômica, pois queríamos ir sem chamar a atenção e aproveitar sem muito luxo - pelo menos uma vez na vida.

Meu telefone toca me tirando do devaneio e da ansiedade da viagem:

"Oi amiga, sim, estou no Uber. Sim, daqui a pouco eu chego aí no aeroporto. Beijos."

A Melissa também está prestes a completar 18 anos e o pai dela disse que ela poderia escolher o que quisesse de presente de aniversário e ela escolheu viajar comigo. Eu fiquei muito feliz quando ela me convidou e eu tive que implorar muito para o meu pai deixar eu ir sem seguranças.

Flashback On:

Havia chegado da escola fazia poucos minutos. Ainda estava com o uniforme da escola: blusa branca, saia rodada vinho, meia longa e sapatilha preta. Fui até o escritório do meu pai e toda animada lhe disse:

_ Pai, o aniversário da Melissa está chegando e ela me convidou para ir ao México com ela daqui uma semana. Eu posso ir também?

_ Claro que pode. Me fala o dia certo que eu chamo um dos seguranças para irem com vocês.

_ Mas pai, como está chegando o meu aniversário também, eu pensei que o senhor poderia me dar esse voto de confiança e me deixar ir sem nenhum segurança.

Ele se levantou, olhou em meus olhos e disse:

_ E porque eu permitiria isso?

Eu respirei fundo e disse:

_Por que eu sou uma garota responsável e jamais te decepcionei. Por favor, é só por uns dias. Você pode até escolher o hotel que vamos nos hospedar.

_ Vou pensar no assunto Miranda. Você sabe que é perigoso sair sozinha, ainda mais sem escolta.

_ Eu sei pai, mas por favor, me dê esse voto de confiança.

_ Tudo bem, só espero que não me decepcione.

_ Tá bom, obrigada - lhe dou um abraço forte e saio de seu escritório, indo ligar para a minha amiga.

Flashback Off:

O motorista pisa fundo na pista e chegamos no aeroporto em uma hora. Eu já tinha ido a alguns países: Portugal, Estados Unidos e Alemanha. Mas o México havia sido o nosso sonho desde pequena, mas como as coisas que queríamos fazer por lá só era permitido quando fizéssemos 18 anos, tivemos que esperar um pouco mais para irmos para lá.

Como havia dito para o meu pai que ele poderia escolher o hotel que ficaríamos hospedadas, ele escolheu um dos mais famosos de Cancún chamado Empório Cancún. Só a diária custou R$1.397, mas isso porque pedimos dois quartos. Tem uma linda vista para uma praia privativa, o que eu achei incrível e super chique.

Desço no aeroporto, pago o Uber e pego a minha mala de rodinhas e minha bagagem de mão e vou andando até a ala C aonde a Melissa está me esperando.

Ela está usando uma calça jeans escura e uma blusa branca e claro que ela estava segurando um cartaz escrito LIBERDADE em caixa alta, o que me fez rir muito antes de ir abraçá-la.

_ Conseguimos amiga- grito enquanto damos pulos de alegria enquanto estamos abraçadas - pelo menos assim vamos ter mais tranquilidade, sem aquela coisa de segurança pra lá, segurança pra cá.

_ Verdade amiga- responde ela - mas vamos logo por que o nosso vôo sai daqui 1 hora e eu quero passar na loja de doces antes.

_ Tá bom, vamos.

Eu escolhi uma calça jeans e uma blusa preta para a viagem e calcei um tênis da Nike preto com rosê para ser mais sofisticado, mas sem exagerar.

Entramos na loja de doces e compramos algumas guloseimas: salgadinhos de queijo, balas e chicletes. Escolhi uma coca cola e ela uma Pepsi - tem outros tipos de refrigerantes e biscoitos mais chiques, mas as vezes eu gosto da simplicidade.

Saímos da loja de doces e eu quis comer algum salgado, pois não tinha jantado- culpa da ansiedade.

_ Vamos comer um salgado ali- aponto para uma lanchonete- a comida ali parece ser boa.

_ Você sabe que se usar esse cartão que o seu pai te deu num lugar desses ele vai reclamar com você - responde ela- vamos comer ali- ela aponta para um restaurante chique.

_ Ah, mas eu queria comer uma coxinha ou uma fatia de pizza - falo com voz manhosa.

_ Nada disso, vamos comer algo saudável - responde ela- e lá deve vender algum salgado que você goste.

_ Odeio quando você está certa- falo bufando, mas não dura muito porque começo a rir - tá bom, vou deixar para comer besteira quando chegarmos no México.

_ É assim que se fala- responde ela- agora vamos- ela me pega pelo o braço e me arrasta até o restaurante chique.

Paramos de frente para o restaurante e vejo escrito em letras grandes:

JANTAR DA NOITE:

★ARROZ COM BRÓCOLIS

★SALADA DE BATATA COM COUVE FLOR

★ ACOMPANHA ATÉ DUAS CARNES

★ REFRIGERANTE NÃO É INCLUSO

_Não tem feijão? Como vamos comer comida seca?

_ Ah, claro que deve ter feijão, é só que eles não vão colocar isso no cardápio e se não tiver, a gente pede algo que tenha molho. E aí, o que acha?

_ Ainda prefiro a pizza- respondo por fim.

_ Eu também, vamos lá naquela lanchonete mesmo e outra, você já tem quase dezoito anos, então ele não pode brigar com você por não querer comer em um lugar chique.

_ Verdade, vamos lá.

Fomos até a lanchonete e pedimos duas fatias de pizza de calabresa, duas porções de mimi coxinhas para viagem e um copo de chopp de vinho - eu tomei um pouco do dela, pois não serviam bebidas para menores de 18 anos- mesmo que o aniversário dela seja só depois de amanhã, ela tem esse dom de parecer mais velha ou ela subornou o cara, não sei dizer.

As pessoas ao nosso redor nos olhava como se estivéssemos esfomeadas, mas era porque comíamos muito e ainda assim éramos bem magras- lado bom de ter uma boa genética.

_ Falta quantos minutos para sair o nosso vôo?- pergunto quando vejo que a Melissa não para de olhar o seu celular.

_ 39 minutos. Acho que é melhor irmos - responde ela.

_ Verdade, vou só lavar as mãos e aí nós vamos.

_ Tá bom.

Vou até uma parte da lanchonete que tem um lavabo e lavo as minhas mãos, depois, peço dois brigadeiros para a viagem, pago tudo e vou em direção a minha amiga, lhe entregando um doce.

_ Toma.

_ Ah, obrigada - responde ela- está com tudo pronto?

_ Sim, vamos- pego a minha bolsa de mão que está em cima da cadeira e a mala de rodinhas e vamos em direção ao balcão para fazer o check-in.

Ao chegarmos, passamos pelo o detector de metal, depois colocamos as nossas malas de rodinhas em uma larga rampa para ser despachada e após mostrarmos o nosso passaporte, entramos na plataforma C para embarcarmos no avião.

Eu sempre fico muito animada quando vou viajar - mesmo quando estava com escolta- mas dessa vez será muito mais divertido, pois eu tenho uma boa impressão sobre essa viagem.

_ Vamos tirar uma foto?- diz a minha amiga já pegando o telefone dela, um Galaxy S20- vamos tirar uma fazendo bico e a outra normal?

_ Tá bom- fazemos as nossas caras e bocas e ela tira as fotos- vou mandar mensagem para o meu pai avisando que está tudo bem.

Pego o meu celular e realmente já tinha algumas mensagens dele em meu celular:

W******p On:

"Boa viagem filha. O pai te ama. Toma cuidado hein. Estou confiando em você. A reserva no hotel já está feita, mas se precisar de mais alguma coisa, é só me mandar mensagem ou me ligar- 18:55"

_ Coloquem bem os cintos e- a aeromoça começa a dar todas as orientações necessárias e apesar de saber os procedimentos, sempre presto atenção em caso de acontecer alguma emergência e eu não ficar nervosa e acabar me esquecendo- o seu banco é flutuante e- ela continua falando, até que ela termina de falar tudo e eu respondo o meu pai antes que eu tenha que colocar o celular no modo avião.

"Obrigada pai, já estamos no avião, só aguardando a hora dele sair. Amo você e obrigada pela confiança-18:50"

W******p Off

Coloco o meu celular em modo avião e o guardo dentro da minha bagagem de mão.

_O que você pediu de aniversário?- Melissa me pergunta de repente.

_ Por enquanto nada, mas o meu pai quer fazer uma festa lá no morro e claro que você está convidada. Mas não é uma festa, pois eu disse que apenas queria comer churrasco e ouvir música, mas vindo do meu pai, até sabemos como que é né?

_ É uma boa ideia - responde ela.

_ Como eu pedi a viagem de presente, então não vou ter festa, mas nós duas comemoraremos quando chegarmos lá. Compramos um bolo, alguns salgados e refrigerante.

_ Tá bom, pode ser- respondo e acabo me distraindo ao ver um lindo rapaz de pele clara e cabelos lisos passando por perto de nós.

_ Miranda - chama a minha amiga, mas ainda estou em transe - Ah, está de olho no gatinho né?- pergunta ela- até que é bonitinho mesmo, mas não faz o meu tipo.

_ Oi? Você falou algo?

_ Hahaha, ficou mesmo gamada hein - debocha ela de mim- relaxa, vai lá e pede o número dele.

_ Tá loca? Esqueceu que os caras tudo fogem quando descobrem de quem sou filha.

_ Relaxa, é só você não falar nada - responde ela- oh, Vou jogar uma bolinha de papel nele e você pede o número dele.

_ Isso parece coisa de adolescente - respondo rindo.

_ Mas nós somos mesmo.

Eu achando que ela estava só brincando, mas ela realmente tacou uma bolinha de papel no rapaz. Ele olhou meio assustado para o lado e Melissa logo apontou pra mim e fez sinal de que eu queria o número dele. Ele pegou um pedaço de papel, escreveu algo e pediu para me entregarem.

Eu peguei o papel e li o que estava escrito:

"Meu número: 552195939593"

Lhe entrego de volta o papel e passo o meu número para ele. Como o celular está em modo avião, não sei se ele mandou mensagem, mas se não mandou, tudo bem. Eu ainda tenho muito o que aproveitar nessa viagem, pois quando eu voltar para o Brasil, tudo será diferente. Eu só não imaginava que as coisas mudariam tanto assim.

_O avião vai decolar - fala Melissa animada- a nossa primeira viagem sozinha.

_ Sim e que seja a nossa primeira de muitas - digo animada também.

O avião decola e passamos uma parte da nossa viagem, até São Paulo - que será a primeira parada- assistindo filme numa televisão e eu acabo adormecendo devido ao cansaço.

Continua...

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