Capítulo 4

Maeve

Curar alguém sempre foi algo difícil para mim. A cura em si não apresentava dificuldade alguma, pelo contrário, toda vez havia sido natural. A energia fluí de mim fácil como uma respiração, envolvendo a outra pessoa e trabalhando para curá-la. É quase como montar um quebra cabeça - só preciso conectar os pontos certos e tudo fica bem.

A parte difícil é lidar com a intimidade.

Curar alguém é tocar nessa pessoa. Em todas as partes. A energia que flui é parte de mim e percorre todas as partes machucadas de alguém. Às vezes um toque superficial é o suficiente. Mas hoje esse não era o caso. As lesões dele eram profundas e se espalhavam por quase todo o corpo.

Suspirei, me concentrando para bloquear a presença da bruxa, me observando pelo espelho retrovisor. Tirei a camiseta de cima do machucado, passando a pressioná-lo com minha mão esquerda. A direita posicionei em sua testa, que ardia sob meu toque. Ele gemeu com o meu contato, claramente tão incomodado quanto eu com aquilo.

Fechei os olhos, mentalizando seu rosto e deixei a energia fluir. A sensação conhecida de ser puxada para baixo apareceu, logo sendo substituída pela presença do corpo dele sob mim. Era musculoso e firme. Me foquei na mordida no pescoço primeiro, ignorando o formigamento de tê-lo em contato comigo.

Imaginei minhas mãos puxando os músculos, conectando as beiradas da ferida, juntando as veias em uma dança tranquila. Conforme eu tecia, ele gemia e esse era o indicativo de que estava funcionando. Coloquei mais energia em meu toque, fazendo a pele crescer lisa onde antes a lesão estava exposta. Terminando a parte mais crítica, usei a última parte da energia que me restava para suas costelas. Quando as toquei, constatei que já tinham se curado, assim como seus hematomas. Provavelmente sua própria cura estava ajudando-o agora que a pior parte tinha passado.

Exausta, tirei minhas mãos dele, recostando a cabeça no banco. Abri os olhos, trêmula, suor pingando pelas minhas costas pelo esforço. Colocar ossos no lugar e fechar machucados era uma coisa, mas fazer crescer músculos e ossos exigia muito toda vez.

Ao meu lado, ele se moveu, sentando num sobressalto. Agitado, ele olhou ao redor, buscando uma saída como um animal enjaulado. Antes que eu conseguisse dizer algo, a conhecida energia o nocauteou, mantendo ele preso ao lugar. Seus olhos azuis brilharam claros e eu sabia o que estava por vir.

-Ei, ei! -disse colocando a mão em seu braço e gesticulando para a bruxa parar. -Já chega disso, não vou poder curar ele de novo.

A bruxa diminuíu a pressão, oferecendo seu sorriso mais largo.

-Ainda não fomos apresentados. -ela estendeu uma mão, como se estivesse em uma entrevista de emprego. -Leona Dupree.

Ele rosnou, olhando de mim para ela. Quando percebeu que eu não estava fugindo dela, puxou seu braço com violência, tirando minha mão.

-Cadê o Blake? - seu olhar veio para mim agora, inflado de ódio.

Leona levantou um dedo, animada.

-É exatamente aí que eu queria chegar! Vamos às apresentações: Maeve, Trevor. Trevor, Maeve. - eu não me mexi, cansada demais para lidar com suas gracinhas. -A partir de agora, você Trevor, será o guarda-costas da nossa princesinha.

Ela bateu palmas.

E eu achei que iria vomitar.

-O que? - ele perguntou como se ela estivesse louca. Tinha que admitir que talvez ela estivesse.

-Seu querido irmão está eternamente ligado à nossa princesa Maeve. - ele empalideceu e eu me senti afundar no banco do carro. -Maevezinha é a filha de Robert, o Alfa que você teve o prazer de conhecer. -ele me encarou com nojo e a vontade de vomitar aumentou. -Nosso Robert não pode ter nenhum impecilho enquanto conquista novos territórios na guerra que está por vir. Por isso, você, Trevor. Posso te chamar de Trev? -ela fez que não com a cabeça. -Estou me perdendo com tanta animação.

Trevor rosnou e ela riu.

-Ah, você é o espécime perfeito para o trabalho! Bom, continuando. Por isso, Trev, você e Maeve vão se mudar para o bando do tio de Maeve e fingir que são primos.

A overdose de informações me deixou tonta.

-Eu tenho um tio?

-Lá, absolutamente ninguém pode saber quem ela é, pelo bem do futuro dos lobos. E você vai garantir que isso aconteça. E que ela não morra, claro.

O silêncio permaneceu quando ela terminou. Nós dois ficamos imóveis, digerindo o que ela tinha dito. Meu guarda-costas? O que meu pai estava pensando? Não ousei olhar para Trevor, certa de que se o fizesse ele me mataria.

E eu não estava errada.

Se movendo em um borrão, ele me puxou para o seu lado, as mãos em minha garganta. Garras cresceram de seus dedos e ele rosnou uma ameaça para a bruxa. Parecendo cansada, ela olhou para nós com pena.

-Trevor, ainda bem que coloquei uma cueca em você. - ela riu. -Não que a visão seria indesejada.

Ele apertou minha garganta e eu gemi em busca de ar. Qualquer indício de brincadeira desapareceu do rosto de Leona.

-No instante em que falamos, seu irmão deve estar lutando para respirar. -ele mostrou os dentes e eu senti sua mão tremer em minha garganta. -Toda dor que Maeve sente, seu irmão também sente. - ela o fitou com intensidade, marcando cada palavra. -Se ela morrer, ele morre.

Ele me soltou na mesma hora e eu engolfou uma grande quantidade de ar, tossindo e arfando.

-Onde ele está? - ele grunhiu, os pulsos tremendo para controlar o impulso assassino.

Leona soltou um riso seco.

-Está perfeitamente bem, servindo nosso Alfa. Cumpra sua parte e ele continuará assim.

Engoli em seco, tentando controlar a vontade de chorar. Não tinha pedido por nada disso. Preferia morrer a viver como prisioneira de Robert. Parecendo ler meus pensamentos, Leona me olhou de canto de olho.

-Robert tem interesse em você viva. -então adicionou. -E te conhecendo, sei que você não quer que Trevor perca seu amado irmão. Quer?

Uma lágrima escorreu e eu a sequei rapidamente.

-Quero falar com Blake. - exigiu Trevor, a voz cheia de poder. Ondas alfa tomaram o ambiente do carro, fazendo a bruxa fechar os olhos para se equilibrar.

-Ora, ora. Nosso Trevor é cheio de surpresas. - ela sorriu, entregando um celular para ele. -Aqui, sinta-se à vontade para falar com seu irmãozinho quando quiser. -ele pegou o celular de sua mão, começando a discar o número. -No porta-malas tem tudo que precisam.

Ela olhou dele para mim, sorrindo triunfante. Abriu a porta, invadindo a rodovia movimentada e recebendo várias buzinas irritadas. Só quando ela subiu na moto, foi que percebi que tínhamos parado ao lado do veículo. Ela acelerou pegando a estrada e deixando nós dois sozinhos.

Trevor discou algumas vezes no celular, tentando contanto com Blake antes que eu conseguisse pensar em algo para dizer.

-Eu…

-CALA A BOCA!

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