Capítulo 5

Maeve

Seu grito quase me ensurdeceu.

Atônita, eu vi ele discar frenéticamente o número no celular, ficando cada vez mais irritado quando não conseguia. Ver ele fazer aquilo estava me irritando. Ele podia só estar vendo um lado da situação, mas eu não era obrigada a aturar sua babaquice só porque ele era desinformado. Precisando de ar, abri a porta do carona, sentindo o ar frio em meu corpo seminu.

Caminhei até o porta-malas, ignorando as buzinas dos carros que passavam. Lá dentro, encontrei uma sacola com duas mudas de roupa, minha bolsa e um bilhete com o endereço do bando. É, com certeza isso é tudo que precisamos para viver. Trincando os dentes, peguei minha bolsa para checar se meus cartões de crédito ainda estavam ali, quando mais uma buzina soou.

-Filho da puta. - resmunguei. -Ao invés de parar e ajudar uma pessoa seminua e cheia de sangue na beira da estrada, vamos apenas buzinar e pensar em como ela é gostosa.

Ainda checando minha bolsa e as roupas, eu mal reparei que meu “desejo” tinha sido atendido.

-E aí? Está precisando de ajuda?

O cara da buzina gritou em meio ao barulho do trânsito, a porta do carro aberta. Eu me amaldiçoei por pensar que aquela era uma melhor opção. Coloquei meu melhor sorriso no rosto, torcendo para ele ir embora logo.

Mas antes que eu percebesse, Trevor tinha saído do carro e estava de braços cruzados na frente do cara. Suspirei, me repreendendo por pensar que ele ficava bem demais de boxer, e caminhei até os dois. Alguém com a cabeça no lugar precisava para Trevor antes que ele surtasse mais ainda.

-Vaza. -ele falou, inflando o peito.

O cara ergueu uma sobrancelha, olhando de mim para Trevor. Ele era bonitinho, com o cabelo cortado no estilo militar e os olhos cor de mel.

-Uau, vocês dois parecem gostar de um sexo bem selvagem. -ele me deu um sorriso malicioso. -Tem lugar para mais um?

-Não. -respondi seca, cansada demais para corrigí-lo.

Trevor, por outro lado, parecia ter se recuperado muito bem.

-Cara, some da minha frente. - ele deu um passo ameaçador à frente, olhando o cara de cima.

-Tá, ok. -ele levantou as mãos em sinal de rendição, mas me deu uma olhadela que rendeu um grunhido irritado de Trevor. -Está tudo bem mesmo?

Trevor partiu para cima dele, mas eu o segurei pelo pulso antes que ele fizesse uma besteira.

-Tá, sim. Agora é melhor você ir. - eu respondi, tentando lhe dar um sorriso tranquilizador, o braço de Trevor tremendo descontroladamente. Por dentro eu fervia de irritação.

Quando o cara saíu cantando pneu, eu soltei a mão de Trevor, pressionando a ponte do nariz para mandar a dor de cabeça que aparecia em bora.

-Olha aqui, Maeve. - ele estendeu um dedo acusador para mim.

Ah, não. Isso não ia ficar assim.

-Olha aqui, você. -coloquei um dedo no meio do seu peito, levantando o rosto para encara-lo de frente. Ele era uns quinze centímetros mais alto que eu, mas isso não me intimidava. -Nós estamos nessa merda juntos. E eu não preciso estar na merda E ter um babaca do meu lado. -dei um empurrão em meu dedo. -Então para de bancar o machão e começa a ajudar.

Tirei meu dedo de seu peito, ainda encarando-o nos olhos. Ele fechou a cara e eu pude ver a fúria o corroendo por dentro. Seu corpo irradiava calor por todos os poros e perto assim como eu estava, pude sentir o cheiro de sangue misturado com algo que não consegui discernir.

Mas era perigosamente bom.

Meu coração acelerou, subitamente ciente de sua proximidade. Mordi o interior da boca, um arrepio percorrendo todo meu corpo quando meu olhar passou de seus olhos para sua boca. Era bem desenhada e completamente beijável. O ar frio mordeu minha pele nua, me lembrando que eu estava de calça e sutian. E ele nem isso.

Me afastei, batendo o pé até o porta-malas. O cansaço estava levando a melhor comigo e eu precisava corrigir isso. O quanto antes. Peguei uma camiseta e me vesti, xingando Leona por não ter nem deixado algum dinheiro para nós. Ou um carregador de celular. Minha barriga roncou. Ou comida.

Separei as roupas de Trevor e marchei de volta até ele.

-Se veste. Não sou obrigada a ficar tendo que te ver pelado.

Ele riu, um meio sorriso perigoso surgindo.

-Ainda não estou pelado.

Eu bufei, me virando para sair, mas ele segurou meu pulso com uma força desnecessária.

-Ainda não concordei com o acordo. - ele declarou, seus olhos brilhando de um jeito selvagem. -Blake não atende o telefone e até eu ter a confirmação dele, tudo isso pode ser uma farsa. - ele apertou meu pulso um pouco mais. -Posso muito bem acabar com tudo agora.

Dei de ombros.

-Fique à vontade. Eu não tenho nada a perder. -o olhei com intensidade. -Quanto a você, já não posso dizer o mesmo. - olhei para meu pulso que começava a latejar. -É Blake o nome dele, não é?

Ele soltou meu pulso, arrancando com violência as roupas da minha mão. Me virei, dando um sorrisinho para mim mesma. Parece que lidar com ele seria como lidar com qualquer babaca da faculdade. Entrei no carro, colocando o endereço do bando no GPS do carro, já que meu celular estava sem área. Com certeza Leona tinha um ótimo motivo para ter estacionado em um lugar longe de tudo e ainda sem sinal de celular.

Quando a previsão de chegada eu amaldiçoei ela e Robert com todas as minhas forças. Doze horas de viagem até o bando. Olhei para o relógio que marcava sete horas e o sol que começava a se por. Encostei a testa no volante, o cansaço me consumindo. Teríamos que dormir no carro um pouco antes de continuar ou então eu dormiria no volante.

-Deixa eu dirigir. -Trevor abriu a porta do motorista, fazendo sinal para que eu saísse.

-Não, você não vai tocar nesse carro. - disse empinando o queixo.

Ele riu, amargurado.

-A bruxa pode dirigir e eu não. Isso diz mais sobre você do que sobre mim.

Agarrei o volante com força, trincando os dentes.

-Ela também não podia. Foi sem consentimento.

-Ok, então vai ser assim comigo também.

Como um homem das cavernas, ele me puxou pelo braço, me colocando sobre o ombro, como um saco de batatas.

-Ei! -soquei suas costas, mas ele não parou.

Me colocou no banco do carona sem cerimônia, roubando as chaves da minha mão. Cruzei os braços, mordendo o lábio. Ele sentou na direção, o olhar irritado para minha ceninha.

-Tem um hotel na região.

-Você não vai dirigir meu carro. - repeti mesmo sabendo que a luta já estava perdida.

Ele revirou os olhos.

-São vinte minutos, ele vai sobreviver, princesa.

A palavra em sua boca pareceu pior ainda do que quando Robert a dizia. O encarei com um ódio mortal quando ele deu a partida em meu bebê e seguiu para a estrada. Meu carro tinha a chance de sobreviver nas mãos dele, isso eu tinha que admitir.

Mas não sei por quanto tempo eu conseguiria sobreviver em suas mãos.

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