CAPÍTULO 5

DANTE


Segunda-feira. 9h32 da manhã.

Eu estava no escritório havia quase duas horas, mas não tinha conseguido avançar em nada. A tela do computador à minha frente mostrava o relatório financeiro do último trimestre — números que eu deveria estar analisando, decisões que precisavam ser tomadas.

Mas tudo o que eu conseguia ver era ela.

Lívia, sentada na beirada da piscina.

Lívia, passando pela área gourmet.

Lívia, na janela do quarto, me observando ir embora.

Pare com isso.

Esfregei o rosto com as mãos, tentando afastar os pensamentos. Mas eles voltavam. Sempre voltavam.

Não importava o quanto eu tentasse me concentrar. Não importava quantas vezes eu me lembrasse de quem ela era, de quem eu era, de tudo o que estava errado nisso.

Ela estava na minha cabeça.

E eu não sabia como tirá-la de lá.


A porta do escritório se abriu, e Rafael entrou sem bater — como sempre fazia.

— Bom dia para você também — disse ele, sarcástico, fechando a porta atrás de si.

Não respondi. Apenas voltei os olhos para a tela do computador, fingindo estar ocupado.

Rafael puxou uma cadeira e sentou do outro lado da mesa, me estudando com aquele olhar que eu conhecia bem demais. O olhar de quem sabia que algo estava errado e não ia deixar passar.

— Você está uma merda — disse ele, direto.

— Bom dia para você também — repeti, sem tirar os olhos da tela.

— Dante, eu te conheço há quinze anos. Sei quando você está bem, e sei quando você está se autodestruindo. E pelo jeito que você está agora... você não dormiu, não é?

Suspirei e finalmente olhei para ele.

— Dormi.

— Mentira.

Ele estava certo. Eu não tinha dormido. Tinha passado a noite inteira olhando para o teto, lutando contra pensamentos que não deveria estar tendo.

— O que está acontecendo? — Rafael insistiu, cruzando os braços. — E não me venha com "trabalho". Eu sei quando é trabalho. Isso é outra coisa.

Fechei os olhos e respirei fundo.

Podia mentir. Podia inventar uma desculpa qualquer. Podia continuar fingindo que estava tudo bem.

Mas estava cansado.

Cansado de lutar sozinho. Cansado de carregar esse peso sem poder falar com ninguém.

E Rafael... Rafael era a única pessoa em quem eu podia confiar.


— Tem uma mulher — disse, baixo.

Rafael arqueou as sobrancelhas, surpreso.

— Uma mulher?

Assenti.

Ele se inclinou para frente, claramente interessado.

— Isso é bom, Dante. Faz três anos desde Helena. Você tem o direito de seguir em frente.

— Não é tão simples assim.

— Por que não?

Hesitei. As palavras estavam presas na garganta, como se dizer em voz alta tornasse tudo real demais. Tornou tudo mais errado.

— Porque é complicado — murmurei.

— Complicado como? — Rafael franziu a testa. — Ela é casada?

— Não.

— Tem filhos?

— Não.

— Então qual é o problema?

Fechei os olhos e respirei fundo.

Diga. Apenas diga.

— Ela é a filha do Roberto.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.

Abri os olhos e vi Rafael me encarando, boquiaberto, como se tivesse certeza de que tinha ouvido errado.

— O quê? — ele disse, devagar.

— Lívia — respondi, a voz saindo mais rouca do que eu esperava. — Eu... não sei o que está acontecendo comigo. Mas não consigo parar de pensar nela.

Rafael continuou me olhando, processando. Então se levantou da cadeira e começou a andar de um lado para o outro do escritório, passando a mão pelo cabelo.

— Dante... — ele começou, mas parou. Respirou fundo. Tentou de novo. — Você está me dizendo que está interessado na Lívia? A Lívia? A filha do seu melhor amigo?

— Eu não escolhi isso — respondi, defensivo. — Você acha que eu quero sentir isso? Que eu não sei o quão errado é?

— Ela tem vinte anos!

— Eu sei.

— Você a viu crescer!

— Eu sei!

— Dante, isso é... — Rafael parou, procurando as palavras. — Cara, você entende o que isso significa? Se Roberto descobrir...

— Eu sei — cortei, passando as mãos pelo rosto. — Eu sei de tudo isso. Eu sei que é errado. Eu sei que é uma traição. Eu sei que vou perder meu melhor amigo se ele souber. Mas não consigo parar.

Rafael parou de andar e me encarou.

— Desde quando?

— Não sei. Acho que... sempre esteve lá. Mas eu ignorava. Ou tentava ignorar. Até domingo.

— O que aconteceu domingo?

— Ela me olhou — disse, simples. — E eu olhei de volta. E foi como se... — hesitei, procurando as palavras certas. — Como se algo tivesse acordado dentro de mim. Algo que eu não sentia há anos.

Rafael suspirou e voltou a sentar.

— Você falou com ela?

— Não.

— Ela sabe?

— Não sei. Talvez. Ela me olha de um jeito... — parei, sem saber como explicar. — De um jeito que me faz sentir coisas que eu não deveria estar sentindo.

— Dante... — Rafael me olhou sério. — Você precisa parar com isso. Agora. Antes que fique pior.

— Você acha que eu não sei? — respondi, frustrado. — Você acha que eu não estou tentando? Mas toda vez que eu fecho os olhos, eu a vejo. Toda vez que eu respiro, sinto como se ela estivesse ali. E eu... eu não sei como fazer isso parar.

Rafael ficou em silêncio por um longo momento. Então suspirou.

— Você está apaixonado por ela.

— Não — neguei, rápido. Rápido demais.

— Dante...

— Não é amor. É... — procurei as palavras. — É desejo. Atração. Algo físico. Vai passar.

Rafael me olhou como se soubesse que eu estava mentindo para mim mesmo.

— Se você acredita nisso, por que está tão destruído?

Não respondi.

Porque ele estava certo.

E eu sabia.


— O que você vai fazer? — Rafael perguntou, depois de um longo silêncio.

— Nada — respondi. — Vou ignorar. Vou me afastar. Vou fazer o que preciso fazer para que isso não aconteça.

— E se não conseguir?

— Vou conseguir.

Rafael me estudou por um longo momento, então assentiu devagar.

— Só... tome cuidado, Dante. Você está brincando com fogo. E se queimar, não vai queimar sozinho.

Assenti, mas não disse nada.

Porque eu sabia que ele estava certo.

Sabia que o que eu estava sentindo era perigoso.

Sabia que, se eu não controlasse isso, ia destruir tudo.

Minha amizade com Roberto. Minha reputação. A vida de Lívia.

Mas saber disso não fazia a vontade desaparecer.

Não fazia o desejo sumir.

Não fazia meu coração parar de acelerar toda vez que eu pensava nela.


Rafael saiu do escritório pouco depois, me deixando sozinho com meus pensamentos.

Voltei os olhos para a tela do computador, mas os números continuavam sem fazer sentido.

Porque tudo o que eu conseguia pensar era nela.

Em como seria tocar nela. Beijá-la. Sentir o corpo dela contra o meu.

Pare.

Você não pode.

Ela é a filha do Roberto.

Mas então uma voz sussurrou no fundo da minha mente — uma voz que eu tentava sufocar, mas que estava ficando cada vez mais alta:

E se você não conseguir parar?

E se já for tarde demais?

Fechei os olhos, respirando fundo.

E pela primeira vez, permiti que o pensamento tomasse forma.

E se eu a quiser de verdade?

E se isso não for só desejo?

E se for algo muito maior — e muito mais perigoso — do que eu estou pronto para admitir?



"O desejo que você tenta sufocar é o que mais te consome. Porque o coração não obedece à razão — ele apenas sente."

— Sophie Castellan

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