Mundo ficciónIniciar sesiónEu tinha quinze anos quando entendi o que era sentir o coração parar.
Não foi em um filme. Não foi em um livro. Não foi em nenhuma história romântica que eu tinha lido escondida debaixo das cobertas.
Foi em um dia comum. Em um momento que não deveria significar nada.
Mas significou tudo.
Era inverno. Junho. A casa estava fria, e minha mãe tinha acendido a lareira na sala. Cheirava a lenha queimada e chocolate quente — aquele cheiro de conforto que só o inverno traz.
Eu estava estudando para uma prova de matemática na mesa da sala, rodeada de livros e cadernos, quando ouvi a campainha tocar.
— Lívia, pode abrir? — gritou minha mãe da cozinha.
Suspirei, deixando a caneta de lado, e fui até a porta. Quando abri, ele estava lá.
Dante.
Vestindo um casaco preto, o cabelo escuro levemente molhado pela garoa fina que caía lá fora. Ele sorriu — aquele sorriso que sempre me fazia sentir segura, como se tudo ficasse bem só porque ele estava por perto.
— Oi, Lívia. Seu pai está?
— Está no escritório — respondi, dando espaço para ele entrar.
Ele passou por mim, trazendo consigo o cheiro de perfume masculino misturado com o frio da rua. Algo em mim se mexeu — mas eu não sabia o quê. Ainda não.
— Obrigado — disse ele, caminhando até o corredor.
Eu fechei a porta e voltei para a mesa, tentando me concentrar nos números à minha frente. Mas minha mente estava em outro lugar. Estava nele.
Por que eu estava prestando atenção no cheiro dele?
Por que eu reparei no jeito como o cabelo dele estava bagunçado?
Por que eu queria que ele ficasse mais tempo?
Sacudi a cabeça, tentando afastar os pensamentos estranhos, e voltei para a prova.
Meia hora depois, Dante saiu do escritório com meu pai. Eles estavam rindo de algo, e o som da risada dele — grave, rouca, quente — fez meu estômago se revirar de um jeito que eu não entendia.
— Quer jantar aqui? — meu pai ofereceu.
— Não posso. Helena está me esperando em casa. A gente vai sair para jantar.
Helena.
A esposa dele.
Eu conhecia Helena. Ela era bonita, delicada, sempre sorria para mim. E Dante a olhava como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo.
Algo dentro de mim se contraiu.
Algo que parecia... ciúme?
Não. Isso é ridículo.
Por que eu estaria com ciúmes?
Dante passou pela sala novamente, indo em direção à porta. Mas então parou. Virou-se para mim.
— Estudando para alguma coisa importante?
Ergui os olhos do caderno e encontrei os dele. Castanho-escuros. Profundos. E, pela primeira vez, senti algo diferente quando ele me olhou.
Algo que fez meu coração acelerar.
— Prova de matemática — respondi, tentando soar casual.
Ele se aproximou da mesa, olhando para os papéis espalhados.
— Funções quadráticas?
Assenti.
— Odeio isso.
Ele riu — e o som daquela risada fez algo dentro de mim se despedaçar e se reconstruir ao mesmo tempo.
— Quer ajuda?
Pisquei, surpresa.
— Você sabe matemática?
Ele arqueou uma sobrancelha, divertido.
— Sou engenheiro de formação, Lívia. Matemática é minha língua nativa.
Meu pai riu do outro lado da sala.
— Cuidado, Dante. Se você começar a ajudá-la, vai acabar virando tutor oficial.
Dante sorriu, mas não desviou os olhos de mim.
— Não me importaria.
E então ele puxou uma cadeira e sentou ao meu lado.
Durante vinte minutos, Dante me explicou funções quadráticas. Pacientemente. Com calma. Como se não tivesse nada mais importante para fazer.
Ele se inclinava sobre a mesa, apontando para os números, desenhando gráficos com a minha caneta. E cada vez que ele se aproximava, eu sentia o calor do corpo dele. Sentia o cheiro do perfume dele. Sentia a presença dele de um jeito que nunca tinha sentido antes.
E quando ele olhou para mim — realmente olhou, não apenas para explicar algo, mas apenas... olhou — algo dentro de mim despertou.
Foi como se o mundo inteiro parasse.
Como se nada mais existisse além daquele olhar.
Como se meu coração finalmente entendesse algo que minha mente ainda estava tentando negar.
Eu estou apaixonada por ele.
Dante não percebeu. Claro que não percebeu. Para ele, eu era apenas a filha do melhor amigo. A menina que ele viu crescer. A garota de quinze anos que precisava de ajuda com matemática.
Mas para mim... para mim, tudo mudou.
Quando ele finalmente se levantou e disse que precisava ir, eu só consegui acenar. Minha voz tinha sumido. Meu coração estava acelerado demais para formar palavras.
Ele sorriu — aquele sorriso gentil, quase paternal — e bagunçou meu cabelo.
— Qualquer dúvida, me chama.
E então ele foi embora.
Deixando para trás o cheiro do perfume dele. O calor da presença dele.
E o caos absoluto que ele tinha causado dentro de mim.
Naquela noite, deitada na cama, olhando para o teto, eu tentei entender o que tinha acontecido.
Por que meu coração disparou quando ele sentou ao meu lado?
Por que eu prestei atenção em cada detalhe — no jeito como ele segurava a caneta, no som da voz dele, no modo como ele sorria?
Por que eu senti ciúmes quando ele mencionou Helena?
E então, no silêncio do meu quarto, admiti para mim mesma a verdade que eu não queria aceitar.
Eu estava apaixonada por Dante Carvalho.
Pelo melhor amigo do meu pai.
Pelo homem que tinha vinte anos a mais que eu.
Pelo homem que era casado com outra mulher.
Eu sabia que era errado. Sabia que era impossível. Sabia que nunca poderia acontecer.
Mas o coração não liga para o que é certo ou errado.
Ele simplesmente sente.
E o meu sentia Dante.
Nos dias seguintes, tentei esquecer. Tentei me convencer de que era só admiração, que ia passar, que era só uma fase.
Mas sempre que ele vinha em casa, meu coração acelerava. Sempre que ele sorria para mim, eu esquecia como respirar. Sempre que ele falava meu nome, algo dentro de mim se acendia.
E então, três anos depois, Helena morreu.
E tudo mudou de novo.
Porque, pela primeira vez, senti algo que me fez odiar a mim mesma:
Esperança.
Eu não desejei a morte de Helena. Nunca desejei. Ela era boa, gentil, e Dante a amava.
Mas quando ela se foi... uma parte egoísta de mim — aquela parte que eu tentava sufocar — pensou:
Agora ele está livre.
Agora, talvez, ele possa me ver.
E foi nesse momento que eu percebi a verdade mais assustadora de todas:
Eu não ia desistir dele.
Não importava quanto tempo levasse.
Não importava o quão errado fosse.
Não importava quantas pessoas julgassem.
Dante Carvalho era meu. Sempre foi.
Ele só ainda não sabia.
"O amor não escolhe o momento certo. Ele apenas chega — e muda tudo para sempre."
— Sophie Castellan






