CAPÍTULO 2 - NUNCA FAÇAS O QUE TE DESAGRADA VER FAZER A OUTROS

FOI COMO NUM PISCAR de olhos, a primeira viagem ainda tinha demorado uns cinco minutos, mas a segunda viagem foi extraordinariamente rápida papai.

Cheguei em 583 a.C, como já falava grego muito bem, não demorei para encontrar Tales, sabia que era ele a segunda pessoa que você procuraria, sempre me falou muito dele, ele é realmente uma pessoa extraordinária, é o que chamamos de cientista no mais puro sentido, tinha o rosto engraçado, meio abobalhado, mas era muito inteligente, apesar de muito ingênuo, mas acho que era isso o que encantava nele, ele parecia uma pessoa de total confiança.

Depois de um mês em convívio com ele, fomos para Babilônia, ele me disse que tinham construído os famosos Jardins Suspensos Babilônicos, e que estava louco para conhecê-los, então fomos, e era realmente espantoso aquilo, talvez a obra arquitetônica mais linda que já vi, era muito perfeito – perfeito até demais na minha opinião.

Fomos falar com o rei Nabucodonosor, mas um tal de Beltessazar nos atendeu, anos depois vim saber que ele era o tal Daniel das covas dos leões, ele nos disse que o rei estava temporariamente louco...

Temporariamente louco?

Nunca tinha ouvido falar naquilo, e foi realmente a única vez em que ouvi aquilo, mas esse Beltessazar era muitíssimo inteligente, ensinou algumas coisas a Tales e me falou que o rei tinha surtado por causa dos seus jardins maravilhosos, e que quis se colocar no lugar de Deus, por isso tinha surtado, mas que logo ele estaria de volta, e realmente voltou rápido.

Uma semana depois, ele estava de volta, com a aparência de um lobo selvagem, era assustador, mas Tales logo o reconheceu, pois ambos estudaram juntos com alguns sábios persas.

Assim que o rei recobrou o seu estado normal, contou a sua experiência nos campos, falava muito mansamente, nem parecia um rei.

Voltamos a Mileto, pois Tales me contara que haveria um eclipse, segundo alguns estudos que tinha feito em Sardes na Lídia, achei aquilo o cúmulo à princípio, ele estava esperando por aquele dia ansiosamente, tinha plena convicção do que falava.

Um dia me explicando como descobriu que tal fenômeno iria acontecer, sobre as coordenadas na constelação da Ursa Menor, caiu em um buraco, no momento pensei que ele iria morrer, ele era muito desligado, quando ficava olhando as estrelas, parecia que ele estava lá, chamei alguns oficiais do palácio e eles foram socorrê-lo, ainda bem que tudo estava tranquilo, ele apenas desmaiou de susto, mas logo que saiu de lá já estava novinho em folha.

Disse que iria criar uma escola de filosofia, pois queria compartilhar seus ensinamentos com outras pessoas. Ele era muito respeitado politicamente, ainda mais depois que construiu o porto de Mileto, pois tinha ensinado seus antigos mestres.

Jamais pensei que veria as pirâmides, algumas delas estavam recém construídas, era lindo, ele me ensinou matemática, e me disse que era fácil medir a altura das pirâmides usando a regra de três, seus antigos mestres ficaram realmente impressionados com aquilo, ele era um fenômeno.

Acabamos indo almoçar com o Faraó, era um nome esquisito, nunca consegui decorar os nomes dos egípcios, mas voltamos para Mileto para ver o eclipse, e realmente aconteceu na data e hora que ele tinha falado, parecia até mágica, o primeiro eclipse previsto por um humano e eu estava lá, ele gritava feito uma criança...

"Deu certo... deu certo... eu sabia... as estrelas nunca se enganam..."

Era um espetáculo aquilo, mas era engraçado ver aquele quase senhor pulando e gritando feito uma criança, mas eu só conseguia admirar a beleza do eclipse.

ASSIM QUE ELE TERMINOU o porto, ele começou a implantar um sistema agrícola que tinha aprendido no Egito nessa última jornada, como eu não entendia nada do que os egípcios falavam, nem dei muita importância, mas ele acabou ficando riquíssimo com aquilo, pois aumentou demais a safra daquele povo, os egípcios eram agricultores excepcionais, e como Tales conhecia à todos eles, pois tinha estudado lá também, essas "seriações estatísticas", era assim que eles falavam, era medida pelos ciclos de escassez agrícola às margens do rio Nilo, e ele fez as suas pesquisas para implantar em Mileto, e deu certo, além de um lucro absurdo.

ASSIM QUE A ESCOLA FICOU PRONTA, parece que ele ficou ainda mais inteligente, falava coisas do nada, ele inventou umas contas que até hoje não consigo entender, pois ele misturava os hieróglifos dos egípcios com as contas matemáticas que fazia, criou uma geometria dedutiva, aquilo era uma coisa de louco, era fundamentada em teoremas gerais daquela época, mas eu mesma... não entendia nada daquilo.

Depois de tudo isso... começou a se interessar na origem do universo, a gente dava muita risada, pois até ele chegar à um ponto lógico, ele falava muita besteira, que depois caíamos na risada... mas ele disse uma coisa que eu nunca tinha parado pra pensar...

"Que todo ser se nutre daquilo que se origina..."

Realmente bebemos água, comemos frutos que vêm da terra... foi quando ri ainda mais ...quando ele disse que a terra estava sobre as águas, e que tudo tinha se originado das águas, aquilo era absurdo, brinquei com ele dizendo...

–– Então estamos em um barco de terra?

Ele parou e pensou...

–– É... realmente vou ter que pensar melhor sobre isso... mas se pararmos para pensar... não é tão absurdo assim... afinal...ao nosso redor é tudo água..."

Daí eu disse...

–– A terra por si só se sustenta... mas a água... ninguém consegue segurá-la em suas próprias mãos, quanto mais, ela se segurar por si só...

Era muito bom ver ele pensando sobre as coisas, a sua simplicidade de se chegar em algo, pensava nas coisas mais absurdas até chegar em algo de concreto, foi algo fantástico.

Na escola, ele começou a lecionar, e entrou um garoto extraordinário chamado Anaximandro, foi realmente o sucessor que Tales sempre quis, tinha ideias próprias, não fiquei para acompanhá-lo, queria conhecer mais...

Foi quando entrei de novo no barril e acionei o relógio...

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo