— Pare aí mesmo, Isla! — Gabriel gritou e sua voz ecoou pela sala silenciosa.
Ela parou de andar e enrijeceu. Quando se virou, seus olhos estavam cheios de raiva. Seu peito subia e descia como se ela tivesse reprimido muita coisa por tempo demais.
— Gabriel, eu não posso mais continuar com você. — Disse ela com voz trêmula.
— Precisamos acabar com isso agora. Eu quero o divórcio.
Ele avançou com passos lentos e firmes, até ficar bem diante dela.
Os olhos frios, duros, pareciam querer obrigá-la a mudar de ideia.
— Preciso te lembrar que a carreira do seu pai vai sofrer se você ousar seguir adiante com esse divórcio? — Disse ele num tom baixo e ameaçador.
A testa de Isla se franziu, o espanto estampado no rosto.
— O que está dizendo, Gabriel?
As mãos dele continuaram nos bolsos do terno impecavelmente alinhado, o corpo ereto e orgulhoso.
— Exatamente o que eu disse. — Respondeu calmo.
— Você não pode fazer isso! — Ela exclamou, cerrando os punhos ao lado do corpo.
— Ah, mas eu posso — retrucou Gabriel, sem hesitar.
— E você sabe disso. Me ouça com atenção agora que estou sendo generoso. Pare com essa loucura. Esqueça essa conversa de divórcio e vamos continuar fazendo a nossa parte para manter este casamento vivo. Os documentos do contrato do seu pai estão bem ali na minha mesa, esperando a minha assinatura. O maior contrato que ele já solicitou. Uma simples assinatura minha decide tudo.
Isla ficou sem voz. A boca aberta, o coração disparado.
— Pense na sua mãe. — Ele prosseguiu, suavizando o tom, como se quisesse parecer razoável.
— Você sabe o quanto ela valoriza este casamento. Isso não é só sobre você e eu, Isla. É sobre nossas famílias.
Não seja tola.
Dito isso, Gabriel se virou e saiu.
A porta se fechou com firmeza atrás dele, deixando Isla sozinha, imóvel, olhando para o nada.
O corpo inteiro dela tremia. Os punhos cerrados com tanta força que as unhas cravavam nas palmas.
A raiva fervia em suas veias mas sob a raiva, vinha a vergonha.
Porque ela sabia, no fundo, que ele tinha razão.
Não tinha pensado nas consequências.
Não tinha pensado no peso da própria decisão.
Não tinha considerado o que o divórcio causaria à família.
Só havia pensado na própria dor, no desejo desesperado de escapar. E agora, em meio ao silêncio sufocante, Isla percebeu o quanto estava presa.
Doía admitir, mas Gabriel a tinha encurralado mais uma vez.
Ficou na sala de pinturas por alguns minutos, lutando contra as lágrimas, tentando controlar a respiração.
Por fim, endireitou os ombros e voltou para o salão de jantar da família.
Quando entrou, as conversas cessaram.
Todos se voltaram para ela.
Isla forçou um sorriso, embora o coração ainda pesasse no peito.
Deu alguns passos à frente e abaixou levemente a cabeça.
— Avô, pai, mãe. — Disse num tom suave.
— Mais uma vez, peço desculpas pelo que aconteceu antes. Por favor, me perdoem.
Anna, a sogra, soltou um riso irônico e virou o rosto com desdém, recusando-se a encará-la novamente.
Mas Alfred Wyndham, o patriarca, levantou-se lentamente.
O ambiente inteiro ficou tenso.
Ele deixou o assento na cabeceira e caminhou até Isla.
Ao alcançá-la, segurou-lhe a mão com firmeza.
Os olhos cinzentos e afiados varreram a mesa, detendo-se por um instante em Gabriel.
— Isla é nora desta família. E será respeitada por todos aqui. — Disse num tom profundo e autoritário.
Ninguém ousou mover-se enquanto ele falava.
— E como eu dizia antes — continuou Alfred —, para celebrar o aniversário de casamento de Isla e Gabriel, tomei minha decisão: estou nomeando Isla como a nova gerente-geral da nossa linha de roupas, The Wyndham Wardrobe. Espero contar com a cooperação de todos. Quero que cada um de vocês a apoie neste novo cargo.
Um murmúrio de espanto se espalhou pela mesa.
Os olhos de Anna se arregalaram, a boca se abriu mas ela não disse nada. Sabia que seria inútil.
As outras noras permaneceram paralisadas, os rostos pálidos.
Mas, como sempre, ninguém ousou contestar Alfred.
Sua palavra era lei.
Gabriel se levantou, aplaudindo com um sorriso estudado.
John o acompanhou, genuinamente feliz, chegando a abraçar Isla com entusiasmo e parabenizá-la.
Alfred observou a cena satisfeito.
Isla, porém, estava imóvel.
Ainda tentava compreender o que havia acontecido.
Aquele cargo… não era uma simples função. Era poder. Confiança.
Ser nomeada gerente-geral de uma das marcas de moda mais prestigiadas do país estava além de tudo que ela havia sonhado.
Gabriel passou o braço pela cintura dela e a puxou para perto.
Inclinou-se e beijou-lhe os lábios, sussurrando:
— Parabéns, meu amor.
Ao redor da mesa, Wyatt e Landon também a parabenizaram, mas suas vozes soaram vazias, desprovidas de sinceridade. Isla percebeu, mas se manteve calada.
O jantar prosseguiu, mas ela mal provou a comida.
A mente girava em um turbilhão de perguntas, dúvidas e possibilidades.
Mais tarde, a caminho de casa, o silêncio dominava o carro como sempre. Isla mantinha os olhos fixos na tela iluminada do tablet, lendo atentamente a descrição detalhada de suas novas funções.
O coração acelerava a cada linha: responsabilidades, projetos, planos ambiciosos que Alfred tinha para a marca.
Parou de ler quando encontrou uma nota sobre o lançamento de uma nova coleção. Um pequeno sorriso se formou em seus lábios.
Mas ele durou pouco.
— Ouvi da Delphine que a Wyndham Wardrobe vai lançar uma nova coleção. — Disse Gabriel, casualmente, sem desviar o olhar do celular.
— Me faça um favor, Isla. Garanta que ela seja contratada como modelo principal do desfile.
O sorriso de Isla desapareceu.
O coração parou por um instante.
Que tipo de absurdo era aquele?