A celebração havia terminado.
Os convidados já tinham ido embora.
A casa dos Ainsworth estava em silêncio agora.
Gabriel e Isla também haviam voltado para casa.
Como sempre, entraram em quartos separados. Nenhuma palavra foi dita. Apenas silêncio.
Mas Isla não dormiu.
Em vez disso, ela puxou duas malas grandes do closet e começou a arrumar suas coisas. Dobrava roupas, guardava sapatos e cada pequeno objeto que lhe pertencia. Naquela noite, não restavam lágrimas. Apenas determinação.
Aos vinte e cinco anos, ela disse a si mesma que sua vida não havia acabado.
Ela ainda tinha sonhos, metas, e um futuro inteiro pela frente.
Não podia continuar desperdiçando-se em um casamento sem amor, tentando agradar a todos enquanto destruía a si mesma.
Na manhã seguinte, Gabriel se preparou para o trabalho como fazia todos os dias. Sua rotina nunca mudou.
Antes de sair, foi até a cozinha para buscar a única coisa que jamais deixava pra trás: o consomê de frango que Isla fazia.
Ele havia se tornado viciado naquele sabor. Não importava o que estivesse acontecendo entre eles, ele sempre esperava ansiosamente por aquela sopa.
Quando entrou, a governanta, Magdalene, o cumprimentou com cortesia.
— Bom dia, senhor Wyndham. Sua sopa já está pronta.
Ela serviu rapidamente e saiu. Gabriel sentou-se no banco alto e começou a tomar o caldo quente e translúcido. Era tão reconfortante quanto sempre fora. Ele não percebeu que, em outro lugar, sua esposa já estava traçando um novo caminho para a própria vida.
Isla havia se levantado muito cedo. Ao amanhecer, já estava no escritório do advogado. Sem hesitar, assinou os papéis do divórcio.
Estava pronta para deixar o marido.
Quando voltou ao carro, o telefone tocou. Era sua melhor amiga, Betsy.
— Recebi sua mensagem. — Disse Betsy rapidamente.
— Onde você está?
— Acabei de sair do escritório do advogado. — Respondeu Isla, em voz baixa.
— Estou indo para a sua casa agora.
— Ok. Te vejo em breve.
— Finalmente! Você fez a coisa certa! — Exclamou Betsy, aliviada, ao abrir a porta e puxar Isla para um abraço apertado.
Isla forçou um pequeno sorriso enquanto puxava a mala para dentro.
Largou-a perto do sofá e se sentou, sentindo um cansaço repentino.
— Vou voltar para Teriporto. — Disse após um momento.
— Aquele espaço ainda está disponível?
Betsy inclinou a cabeça, franzindo a testa.
Ela sabia exatamente do que Isla estava falando.
Anos atrás, quando estavam na faculdade, as duas tentaram abrir juntas uma pequena joalheria em Teriporto.
Usaram um apartamento de dois quartos, transformando um deles em oficina. Mas o sonho acabou rápido, o dinheiro acabou primeiro.
— Sim, ainda está lá. — Respondeu Betsy.
— Tudo continua do mesmo jeito. Mas me diga, Isla, o que pretende fazer naquele lugar velho?
— Já te disse. Quero abrir minha própria empresa. Algo que me ocupe. Algo que seja meu.
Betsy se recostou na cadeira, observando a amiga.
— Você quer mesmo deixar Carminton? Está levando isso a sério?
— Eu preciso de um novo começo. — Afirmou Isla com firmeza.
— E Teriporto é o melhor lugar para isso.
Betsy suspirou.
— Você contou aos seus pais?
— Não. E nem pretendo. Eles nunca aprovariam. Mas desta vez, eu não preciso da aprovação deles. Preciso fazer isso por mim.
— Eu te apoio, Isla. Mas eles deveriam saber. E não se esqueça: você vai precisar de dinheiro. Foi por isso que desistimos da outra vez porque não tínhamos como sustentar o negócio.
— Eu tenho dinheiro agora. — Disse Isla calmamente, os olhos firmes.
— Nunca toquei na mesada que Gabriel me dava. Ele me deu tudo... menos o coração dele.
Betsy arqueou as sobrancelhas.
— Uau. Então você planejou tudo.
— Sim. — Respondeu Isla, levantando-se devagar.
— Vou embora hoje à noite. Meu voo já está marcado.
Ela puxou a mala em direção ao quarto de hóspedes sem dizer mais nada. Betsy a observou em silêncio, o peito apertado de preocupação.
Ela sabia que Isla era corajosa mas também sabia que estava ferida. Teriporto não era uma cidade fácil.
A vida lá era cara, dura. Sem o dinheiro de Gabriel, sem o apoio da família… como Isla sobreviveria?
Ao anoitecer, Isla chegou em segurança a Teriporto, a "Cidade da Vida". O ar ali era diferente, cheio de energia e barulho.
Ela se sentia assustada, mas determinada.
Pegou um táxi direto para o antigo apartamento onde ela e Betsy moraram. A casa térrea de dois quartos ainda estava de pé, embora coberta de poeira. O portão rangeu alto quando ela o abriu.
Ali, anos atrás, as duas sonharam em construir um império de joias. Agora, Isla estava decidida a transformar esse sonho em realidade.
Ela entrou, levando a mala, e começou a limpar as superfícies empoeiradas. Não era muito, mas era dela.
De volta a Carminton, Gabriel estava mergulhado no trabalho.
As reuniões se arrastaram do início da manhã até a noite.
A agenda era tão cheia que ele mal tinha tempo de respirar.
Normalmente, Isla quase nunca ligava, mas de repente ele sentia falta dessas ligações, e o silêncio dela o incomodava.
Quando finalmente olhou para o Rolex dourado no pulso, já passava das oito da noite.
E ainda nenhuma chamada.
Algo dentro dele se agitou, uma sensação que não sabia nomear.
Enquanto começava a arrumar suas coisas, seus olhos pousaram em uma pasta fina que estava cuidadosamente sobre sua mesa polida. Na capa, em letras garrafais, lia-se: "Muito Confidencial".
Curioso, ele a abriu.
Dentro havia um único conjunto de papéis.
Quando seus olhos pousaram na primeira linha, sua garganta se apertou.
Um Acordo de Divórcio.
Gabriel congelou, o peso das palavras oprimindo seu peito.