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Gabriel não poderia dar o seu coração a Isla. Ele sabia disso, e ela também sabia. Ainda assim, ele não conseguia deixá-la ir.

Não era amor o que o prendia a ela, mas medo.

Medo do único homem que toda a família Wyndham temia: seu avô, Alfred Wyndham.

Alfred podia ser velho, mas a idade não o havia amolecido.

Era poderoso e assustador. Até mesmo John, o pai de Gabriel, se curvava diante dele. E assim como o neto, Alfred também amava profundamente Isla. Para ele, ela era a esposa perfeita para Gabriel, a única mulher que conseguira ganhar sua afeição.

Se Alfred descobrisse que Isla havia pedido o divórcio, Gabriel nem queria imaginar o que o velho seria capaz de fazer.

Naquela noite, depois do trabalho, Gabriel correu direto para casa e foi imediatamente ao quarto de Isla. Mas o quarto estava vazio.

A mala dela havia sumido.

Um nó apertou-se em seu peito. Ele puxou o celular e discou o número dela.

— Desligado.

Passou a mão pelos cabelos, andando de um lado para o outro.

— Onde você está, Isla? — Murmurou, entre os dentes.

Seu corpo inteiro tremia, não apenas de raiva, mas de medo.

Tentou novamente. Dessa vez, chamou, mas ninguém atendeu.

Tentou outra vez. E outra.

Até que a frustração ferveu dentro dele.

— Que jogo você está jogando, Isla?

Antes que pudesse rediscá-la, o telefone tocou.

Sem nem olhar quem era, atendeu de imediato.

— Gabby, onde você está? — A voz doce e delicada do outro lado era de Delphine.

— Preciso da sua ajuda. Acho que torci o tornozelo. Está inchado.

Gabriel congelou.

— O quê? Como isso aconteceu? …Não importa. Estou indo agora mesmo.

Naquele instante, esqueceu completamente de Isla.

A simples ideia de Delphine estar sentindo dor o fez sair apressado da mansão sem pensar duas vezes.

Enquanto isso, em Teriporto, Isla começava a se adaptar à nova vida.

Ela havia voltado a se conectar com pessoas que conhecia do passado, reconstruindo pequenas redes de contato e dando seu primeiro passo corajoso no mundo dos negócios.

Tinha comprado um lote de diamantes brutos e contratado um artesão local especializado em lapidar e polir pedras preciosas.

Aos poucos, começou a criar suas primeiras joias.

O que tornou tudo isso possível era um segredo que ela guardava havia anos: suas economias.

Isla havia acumulado uma pequena fortuna em silêncio.

Além da mesada mensal que Gabriel depositava, a família Wyndham tinha uma tradição: cada membro, de sangue ou por casamento, recebia um subsídio mensal direto do fundo familiar.

Era um valor generoso, quase excessivo.

Desde o casamento, Isla também recebia e, ao contrário dos outros, mal tocava no dinheiro.

Agora, todo aquele montante estava financiando seu sonho.

O celular vibrou, e ela atendeu rapidamente.

— Sim?

— Seus brincos esgotaram. — Informou a voz do outro lado.

— Já temos novos pedidos.

O coração de Isla disparou. Ela levou a mão ao peito, como se quisesse conter a alegria.

— Obrigada. Eu retorno mais tarde. — Disse, a voz trêmula de emoção.

Quando encerrou a ligação, sentou-se na beira da cama e sussurrou para si mesma:

— É isso. É o começo.

Ela não esperava que o sucesso viesse tão rápido. Achava que levaria meses para vender as primeiras peças, mas elas já haviam encontrado compradores.

Parecia um sinal.

Sua pequena celebração, porém, foi interrompida por uma nova ligação. Dessa vez, era sua mãe.

— Querida. — A voz animada de Diana soou alegre.

— Quero convidar você e Gabriel para jantar neste fim de semana. Tenho boas notícias para compartilhar com você e suas irmãs.

Isla se enrijeceu.

Detestava esse tipo de conversa.

— Mãe, estou ocupada neste fim de semana. E Gabriel também. Ele vai viajar a trabalho. Se puder me contar agora...

— Não. — Diana não aceitou.

— Se Gabriel estiver ocupado, você pode vir sozinha. Sem desculpas.

E desligou antes que Isla pudesse protestar.

Isla suspirou fundo e jogou o telefone na cama.

— O que será que ela está aprontando agora?

Ela conhecia bem a mãe.

Diana adorava se exibir, principalmente com os casamentos das filhas. Casou as três com homens ricos e ostentava isso como seu maior troféu. Para ela, o casamento de Isla com Gabriel Wyndham era sua joia mais preciosa.

Mas Isla sempre detestou isso. Por isso prometeu a si mesma nunca escolher um homem pelos mesmos motivos que a mãe.

No entanto, a vida a encurralou e ela acabou casando com Gabriel. E agora… agora se arrependia a cada respiração.

Seu pensamento voltou ao divórcio.

Ainda não tinha notícias do advogado, mas imaginava que Gabriel já teria assinado os papéis.

Rezava para que ele não envolvesse Alfred Wyndham, isso só pioraria as coisas.

Talvez, pensou ela, voltar a Carminton por um fim de semana não fosse tão ruim. Seus pais ainda não sabiam da separação.

Ela poderia encenar uma aparência de normalidade, ver o advogado na segunda-feira e verificar o andamento do processo.

Na sexta-feira, Isla seguiu para o aeroporto.

O saguão estava cheio de vozes e malas rolando pelo chão.

Quando estava prestes a entrar no terminal, percebeu um movimento à frente.

Vários homens de terno preto corriam, abrindo caminho e cercando a passagem.

Curiosa, Isla ergueu o olhar para ver o que estava acontecendo.

E então parou, paralisada.

Era Gabriel.

Ele estava em Teriporto cercado por quatro seguranças.

Mas o que fez o coração de Isla afundar não foram os homens, foi Delphine.

Delphine caminhava ao lado dele, de mãos dadas, o rosto radiante, como se pertencesse àquele lugar e a ele.

Gabriel não recuou. Nem sequer pareceu desconfortável.

As pessoas ao redor começaram a murmurar.

— É Gabriel Wyndham… e o amor da vida dele.

— Ouvi dizer que a melhor amiga dela a traiu. — Cochichou alguém.

— O seduziu até ele se casar.

— Eles formam um casal perfeito. Que inveja… — Comentou outra voz.

O estômago de Isla se revirou.

Ela virou-se depressa, caminhando na direção oposta, o rosto em chamas.

Mesmo ali, em Teriporto, as pessoas conheciam a história de Gabriel e Delphine. O caso deles havia se transformado em fofoca, um conto sussurrado entre estranhos.

Naquele instante, Isla teve certeza de uma coisa:

tinha tomado a decisão certa.

Assim que o divórcio fosse concluído, ela finalmente seria livre.

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