Gabriel caminhou para a frente com sua habitual calma e sofisticação, o tipo de atitude que sempre atraía olhares. O coração de Isla disparou dentro do seu peito. Ela não sabia o que ele estava prestes a fazer.
E então ele surpreendeu a todos.
Suas mãos envolveram firmemente a cintura dela, puxando-a para perto. Antes que ela pudesse reagir, os lábios dele foram pressionados contra os dela. Ele a beijou profundamente, intensamente, ali mesmo, diante de todos.
Um murmúrio de espanto percorreu a multidão. Até Isla congelou, os olhos arregalados.
Ela o amava havia anos, mas também sabia a verdade: aquele beijo não era amor. Não era destinado ao seu coração. Era apenas uma encenação. Gabriel estava representando seu papel mais uma vez: o de marido perfeito diante da família e dos amigos.
Ainda assim, Diana, sua mãe, parecia radiante. Um sorriso iluminou seu rosto, os olhos cheios de alívio. Tudo o que ela sempre quisera era a felicidade da filha. Para ela, aquele beijo significava esperança.
— Feliz aniversário de casamento, Diana, Charles. — Disse Alfred Wyndham, com um sorriso caloroso, ao se aproximar.
O restante da família Wyndham o seguiu, cumprimentando os pais de Isla e desejando-lhes muitos mais anos juntos.
Embora a celebração fosse para os Ainsworth, a atenção de todos permanecia fixa em Isla e Gabriel.
O beijo deles durou mais do que qualquer um esperava. Isla finalmente se afastou para recuperar o fôlego, o rosto corado. Saiu rapidamente dos braços dele, sentindo o peso de dezenas de olhares sobre si.
Alisou o vestido e caminhou em silêncio até Alfred Wyndham, seu avô por casamento, o homem mais rico e poderoso de Richbouph.
Todos na cidade o respeitavam… e o temiam.
— Vovô. — Ela disse suavemente.
O velho se inclinou e beijou o topo de sua cabeça. Alfred conhecia suas lutas.
Foi ele quem forçou Gabriel a se casar com ela, apesar da obsessão do neto por Delphine. Alfred sempre deixara claro que nunca aprovaria Delphine. Ele havia escolhido Isla para Gabriel e aquilo era definitivo.
Enquanto os convidados voltavam às risadas e conversas, Gabriel apresentou um presente extravagante aos sogros.Um carro de luxo novíssimo brilhava sob as luzes.
Diana levou as mãos à boca, emocionada. Charles, embora sorrisse, parecia desconfortável.
— Gabriel. — Disse ele com cautela
— Isso é demais. Você não precisava ter nos dado algo tão caro.
Gabriel abriu a boca para responder, mas Alfred interveio com naturalidade.
— Vocês merecem, Charles. E minha nora merece ainda mais. Aqui, um pequeno presente da família Wyndham.
Ele entregou um cheque a Diana. Os olhos dela se arregalaram; ela olhou para o número escrito ali como se não acreditasse no que via.
A música continuava tocando, e o riso ainda enchia o jardim.
Gabriel se voltou para Isla e estendeu a mão.
— Dance comigo.
O estômago dela se revirou, mas Isla assentiu educadamente e colocou a mão na dele. Os dois se moveram para a pista de dança, passos suaves, perfeitamente sincronizados. Aos olhos dos outros, pareciam um casal profundamente apaixonado.
Mas, por dentro, Isla estava despedaçada.
Cada giro, cada toque das mãos dele em sua cintura, apenas a fazia lembrar da noite anterior, da videochamada.
Ela estava cansada daquela performance, desse fingimento sem fim. Amava-o de verdade, mas ele não lhe dava nada em troca.
— Desculpe por não atender suas ligações. — Disse Gabriel de repente, os lábios próximos ao ouvido dela enquanto dançavam.
— Eu estava ocupado com o trabalho. Espero que entenda.
O peito de Isla apertou. Ela ergueu lentamente o rosto e fitou os olhos verdes dele.
— Eu sei que você estava com Delphine. Recebi a mensagem. E entendi muito bem.
As palavras o atingiram como uma pedra. Ele parou no meio do passo, os olhos arregalados. Sem dizer nada, segurou a mão dela e a puxou para fora do jardim, passando pelos convidados, até o quarto dela no andar de cima.
Fechou a porta com força.
— Repita o que acabou de dizer. — Exigiu, o olhar faiscando.
— Eu quis dizer cada palavra. — Respondeu Isla, a voz trêmula.
— Não precisa mentir. Eu sei de tudo. Você estava com Delphine ontem à noite. Então, por favor, não venha falar de trabalho.
Gabriel passou a mão pelos cabelos sedosos, andando de um lado para o outro. O maxilar contraído.
— Vamos esclarecer uma coisa. Você sabia sobre mim e Delphine. Então, qual é o problema agora?
A voz dele estava um pouco alta, mas ele continuou:
— Você sabia desde o início o que esse casamento significava. Então pare de agir como uma criança e tente ser razoável pela primeira vez.
As lágrimas brilharam nos olhos dela.
— Já não importa mais. Mas você tem razão em uma coisa: eu estou sendo infantil. Acho que é hora de encarar a realidade.
Ele parou de andar. A voz agora saiu mais baixa, contida.
— Olha, me desculpe. Mas nada muda o fato de que eu estava com Delphine, e você sabia disso quando se casou comigo. O que eu preciso de você é simples: continuemos representando nossos papéis, Isla. Não vamos decepcionar meu avô nem seus pais. Eles não precisam saber o que acontece entre nós em particular. Tente entender.
O peito dela subia e descia em desespero.
— Eu não consigo mais viver assim. Fingindo, escondendo, chorando todas as noites. Eu não aguento mais.
Gabriel se aproximou, os lábios roçando seu pescoço, as mãos deslizando pelo corpo dela.
Mas quando seus lábios chegaram perto dos dela, Isla o empurrou com as mãos trêmulas.
— Não. — Sua voz se quebrou. — Chega. Eu não vou mais fazer isso com você. Eu quero o divórcio.
Aquelas palavras o atingiram com força.
— Você está magoada. É normal sentir isso. Mas você sabe que isso não vai acontecer. — Respondeu ele friamente, sem sequer vacilar.
Ela o encarou, as lágrimas agora caindo livremente.
— Estou falando sério, Gabriel. Eu não posso mais continuar assim.
O maxilar dele se contraiu; os punhos cerraram-se. Ele estava perdendo o controle.
— E pela última vez: não vai haver divórcio. Sugiro que se recomponha e pare com esse comportamento infantil.
Ele deu um passo à frente, os olhos verdes intensos.
— Eu te dei meu nome, minha riqueza, proteção, tudo o que um homem deveria dar à sua esposa.
Abriu os braços, a voz carregada de frustração.
— Você era minha melhor amiga antes de tudo isso, Isla. Por que não consegue aceitar o que temos?
Os ombros dela tremiam.
— Porque o que temos não é real. É só sexo quando precisamos convencer o seu avô. Mas não há amor, Gabriel. — Ela hesitou, depois completou, com os olhos presos aos dele:
— Eu te amo, Gabby.
A expressão dele mudou num instante. A voz endureceu.
— Não me chame assim. Você não tem esse direito. Só uma… — Ele parou, respirou fundo. — Apenas… não me chame assim.
As palavras o cortaram mais fundo do que qualquer lâmina.
Isla assentiu lentamente, enxugando as lágrimas com o dorso da mão. Sua voz saiu em um sussurro:
— Está bem. Você não me ama. E nunca vai amar. Eu já entendi. Amanhã de manhã, você verá os papéis do divórcio na sua mesa. Por favor… apenas assine. Eu terminei com isso. Adeus, Gabriel.
Ela caminhou até a porta, o corpo trêmulo, mas os passos firmes.
Com um último olhar para ele, saiu do quarto, fechando a porta suavemente atrás de si.
Gabriel ficou ali, sozinho, atordoado. O eco das palavras dela preenchendo o silêncio.