No escritório da companhia Harrison Giordano, o CEO comprimiu o olhar quando verificou a hora no relógio Le Roy Paris outra vez.
Ele sabia que a esposa não foi para casa após sair do ateliê Maison Delacroix, onde trabalhava como designer de moda. Cansado dos passeios misteriosos da esposa, ele pegou o telefone e ligou para o assistente de confiança. — Alessandro, siga a Justine e não perca ela de vista. — A voz profunda deu a ordem de maneira hostil. Aos 23 anos, Kevin possuía a postura ameaçadora de um homem que nasceu para comandar. Ele herdou a fortuna da família Harrison Giordano depois que os pais faleceram em um acidente suspeito em Miami. Um ano após assumir os negócios na Itália, ele triplicou a fortuna e casou-se com uma designer de moda por quem se apaixonou perdidamente. A primeira vez que viu Justine Delacroix foi num evento promovido por um famoso estilista. Os olhos do CEO acompanharam a linda mulher, que usava um vestido prateado, enquanto desfilava pelo saguão. Após algumas noites com o amante viril, Justine ficou surpresa com o reluzente anel de diamantes acompanhado de um pedido de casamento. Tudo estava saindo da maneira como ela planejou. Alguns funcionários diziam que o senhor Harrison estava completamente enfeitiçado pela beleza daquela francesa e, por isso, ele fazia tudo o que a esposa pedia. Apesar da paixão avassaladora que envolvia o casal, Justine Delacroix já estava dando sinais de que tinha um amante após o sétimo mês de casada. Certo dia, Kevin deu outro celular para a esposa, mas antes de entregar o presente, ele instalou um spyware no aparelho telefônico. Logo, passou a monitorar todos os passos de Justine. Naquele dia, Kevin sabia que a esposa tinha ido à clínica médica e que foi à joalheria Tiffany, na Via della Spiga. Em seguida, Justine ficou meia hora em uma cafeteria do centro de Milão. Depois da última localização, o celular dela ficou desligado por mais de uma hora. “Onde ela está?” Ele murmurou a pergunta para si enquanto tocava as veias saltadas no pescoço. Furioso, Kevin saiu de trás da mesa e perambulou pelo escritório feito um bicho enjaulado. Passou os dedos longos pela testa enquanto a mente ponderava sobre os últimos acontecimentos. Na noite anterior, ele comemorou o aniversário de 21 anos da esposa no restaurante de luxo da cidade de Milão. Além do celular, ele deu um belo colar e brincos de diamantes, que comprou na loja Tiffany. Quando voltaram para a mansão, ele a levou até a garagem para mostrar o Audi A1 Diamond Edition com um enorme laço vermelho. — De quem é esse carro, querido? — Justine questionou. — É seu, amore mio — disse ele. — Que surpresa maravilhosa! — Exclamou Justine antes de ficar na ponta do sapato para beijá-lo. Os braços musculosos de Kevin envolveram a esposa em um abraço caloroso conforme ele a beijava com sofreguidão. Balançando a cabeça para se livrar das lembranças, Kevin sentou-se na cadeira e olhou para o porta-retratos que exibia a mulher de mechas longas com um tom loiro escuro. O par de olhos dourados de Justine parecia penetrar a sua alma. O nariz arrebitado e o sorriso encantador compunham os traços delicados da esposa. Instintivamente, a mente o levou de volta para o momento em que ambos chegaram ao segundo piso da mansão. Pelo amplo corredor, ele carregou a esposa nos braços fortes até chegar à suíte principal. — Te amo! — A voz rouca de Kevin confidenciou. Justine não respondeu, apenas abriu um sorriso malicioso e passou os braços pelo pescoço forte quando ele a beijou vigorosamente e despiu-a sem qualquer pudor. Pelo resto da noite, ambos uniram-se, movendo-se vigorosamente sobre o lençol de seda branco em busca de satisfação até alcançarem o clímax. Durante a madrugada, Justine saiu da cama e foi direto para o toalete, onde ela atendeu uma ligação. No quarto, Kevin fingiu estar dormindo quando ela voltou e deitou-se de costas para ele. Aproximando-se, o homem vigoroso distribuiu beijos em seu pescoço, mas ela se afastou. — Estou com enxaqueca, querido — Justine inventou uma desculpa enquanto estendia a mão para apagar a luz do abajur. — Vou dormir mais um pouco. Amanhã, eu preciso chegar cedo no ateliê. Absorto, ele ainda olhava para a foto e escutava a voz suave de Justine ecoando em sua mente no instante em que o toque do celular interrompeu suas lucubrações, trazendo-o de volta para o escritório. Ele apertou o botão, aceitando a chamada. — O que foi, Alessandro? — indagou Kevin. — Chefe, encontrei a sua esposa. — informou o assistente do outro lado da ligação. — Diga logo onde ela está. — Desta vez, Kevin falou mais alto. — A sua esposa está na mansão do senhor Turner, em Lombardia. O punho cerrado chocou contra a mesa. Andrew Turner era o maior rival de Kevin e fez tudo para destruir a companhia após a morte de seu pai. A queda da companhia seria iminente se Kevin não tivesse tino para os negócios. “O que Justine estava fazendo com aquele homem?” Ele fez a pergunta em pensamentos. — Chefe, o que faço? — Fique onde está, estúpido. — Compelido pelo ódio, ele mandou. — Avise-me quando ela sair da mansão do Turner. Kevin ajeitou as costas no encosto macio da cadeira do presidente da companhia. “Talvez Justine esteja obtendo informações confidenciais e levando-as para o amante.” Os dedos não paravam de tamborilar na mesa enquanto ele lutava contra as especulações que o perturbavam. O som das batidas leves na porta fez Kevin voltar a si mais uma vez. — Vá embora! — A voz grave esbravejou rudemente. — Eu não quero falar com ninguém. — Por que você está tão irritado? — indagou Beatrice após abrir a porta. — Não quero conversar. — Ele grunhiu. — Calma, amigo, não se estresse tanto. Acho que você precisa de uma boa massagem. Beatrice posicionou-se atrás da cadeira de Kevin e tocou-lhe os ombros largos. — Relaxe, meu amigo! — Ela apertou os dedos esguios nos músculos tensos, massageando devagar. Em certo momento, ele fitou o reflexo da mulher através do espelho na parede à frente dele. As mechas castanhas caíam sobre os ombros. Embora fosse bonita, Beatrice não o atraía. — Brigou com a sua esposa? — Curiosa, ela indagou. — Não quero falar sobre isso. Levantando-se bruscamente, Kevin pegou o sobretudo marrom-escuro e, mais que depressa, saiu do escritório. — Espero que você não perdoe Justine se ela estiver com o amante. — Beatrice acrescentou enquanto seguia o homem mais alto. Ao entrar no elevador privativo, ele deu uma olhada na mulher parada no corredor, mas não retorquiu. — Posso ir com você para te apoiar? — Deixe-me em paz, Beatrice. — Exasperado, ele retrucou. Kevin apertou o botão e as portas fecharam. Ele passou as mãos nos fios lisos e curtos pouco antes de sair no estacionamento e ir direto para o Porsche preto, onde o motorista aguardava.