O sol daquela quarta-feira apenas ameaçou sair no horizonte, Valcolink era uma cidade fria e chuvosa, poucos foram os momentos que tiveram de um verdadeiro verão. E apesar de crescer junto ao calor massivo de sua cidade natal, acordar todos os dias com um amanhecer congelado, por assim dizer, se tornou ponto principal do dia. Aos poucos se afastou da janela de quarto admirando o corpo ainda dormindo na cama, ele poderia acordar sozinho, não teria problema passar direto para ir até o quarto de seu filho.
O pequeno Jasper Tornnegth não acordava sozinho, mesmo que já estivesse acostumado com a aula cedo. Beijou seu rosto meigo até ver o garoto abrir os olhos revelando a cor clara e tão transparente que chegava a ser comparado com o vidro. Os próprios olhos de vidro a qual Clarisse sentia tanto orgulho. Seu filho era uma criação dos deuses, com certeza. — Bom dia meu querido. Já é hora de levantar. – Docemente o menino sentou na cama querendo chorar, mas acabou sendo levado pela mãe amorosa. Desde que se tornou mãe a cinco anos atrás, sua vida havia sido totalmente dedicada ao pequeno Jasper. Ele era sua maior preciosidade. Sem amigos, amigas, trabalho, marido, nada ficava acima de seu pequeno. — Esse fim de semana vamos mesmo ao parque que prometeu? – Perguntou o garoto novamente quando já estavam descendo para a cozinha. — Papai disse que vai trabalhar. — Mas eu posso ir com você. Mesmo se ele não for. Mas não se preocupe com isso. – Serviu ao menino o seu café preferido. — Mas não é a mesma coisa se o papai não for. – Reclamou o menino, fazendo Clarisse apenas sorrir. Depois do café agradável com Jasper, acabou por se despedir dele quando a babá o levou para o colégio. E então, esse era o momento de ficar sozinha e correr para terminar de escrever seu livro? Colocar toda a casa em ordem? Não iria precisar, já que estava cercada de empregadas que faziam todo o trabalho de casa, menos o de ser mãe. Esse ela nunca abriu mão. Antes de ir para seu escritório, escutou quando os passos de seu marido chegaram a cozinha, procurando por seu café amargo e mesma expressão de sono do outro dia. O sono dele parecia nunca, nunca sumir. — Bom dia, querido. Não sabia que ia mais cedo hoje. — Tenho muita coisa para resolver, gostaria de ter um final de semana para nós dois – Clarisse sorriu gostando de ouvir aquilo e se aproximou. — Jasper quer ir ao parque no final de semana e espera que você vá também. – Após um selinho, Ronny segurou o rosto de sua esposa encarando os olhos claros como os céus. — Ou podemos apenas viajar para um lugar onde fique eu e você, somente. – Clarisse perdeu o sorriso e se afastou aos poucos. — Então não vamos viajar. Deu as costas ao marido e subiu para seu escritório. Jamais sairia em uma viagem e deixaria seu filho sozinho com empregadas ou babá. Ronny revirou os olhos e seguiu para sua empresa. Não era longe de casa, mas algumas quadras e estacionou em frente, chamando atenção de algumas pessoas pelo carro importado e chique, sem contar com o terno de grife sempre bem arrumado e ajustado corretamente em seu corpo. Era um homem rico, filho e neto e pai de pessoas ricas, tinha que andar como tal. — Como sempre, veio correndo assim que amanheceu, está querendo se matar, por acaso? – a secretária seguiu correndo ate o homem que ia em direção a sua sala — Hoje você irá falar com os Holandeses que estão querendo abrir uma empresa aqui, logo terá sua conta para a gente e podemos divulgar com todo gosto. E o aniversário do seu sogro está chegando, tomei a liberdade de comprar outro presente grande para mandar, só vou precisar que assine o cartão quando estiver aqui. E tem um recado de seu pai. De repente, Ronny ergueu a cabeça, realmente interessado quando o assunto era Vicent Tornnegth. — Que recado? Pra quem é o recado? – A mulher pareceu desconfortável enquanto se aproximava para lhe entregar um convite. Ronny pregou nas pressas e levantou da cadeira rasgando todo o envelope apenas para encontrar de fato um convite para uma grande festa que teria na empresa. Seu pai estava comemorando o sucesso de outra conta e um novo sócio que arrecadou milhões para sua conta. E queria seu único filho presente, o filho e sua família. Ronny baixou os olhos revirando logo depois. O que Vicent queria com aquele convite? Se aproximar de Clarisse mais uma vez? — Posso ver o valor das passagens para você e sua família se quiser. — Não vamos a nenhuma comemoração desde homem. — Ele é o seu pai. Achei que dessa vez o senhor iria querer o vistar. Fazem seis anos que não se vêem. A senhora Clarisse disse que se fossem, aproveitaria para comemorar o aniversário do pai pessoalmente. — O que? Clarisse sabia desse convite? — Sim. Recebemos dois. Um para o senhor e outro para ela. – Ronny olhou pela mesa — O dela foi entregue a ela. — Escute aqui – O homem se aproximou novamente pegando suas coisas — Qualquer coisa que aquele homem mandar para minha esposa, tem que ser entregue nas minhas mãos. Ele não é uma pessoa confiável. — O senhor não vai ficar? Temos reuniões importantes hoje. — Preciso conversar com minha esposa – deu as costas saindo da sala — Mais uma vez sobre o meu pai.Depois da notícia de seu filho ter chego muito bem na escola com a babá, Clarisse relaxou com um banho quente e uma roupa confortável, depois correu para o escritório e diante do computador, onde passava os segundos melhores momentos de seu dia. Depois que mudou de cidade, não pode mais trabalhar, por exigência de Ronny que acabou por mudando sua personalidade depois que chegaram a Vancolink. Ronny sempre foi muito fofo e carinhoso, mas a traição o mudou de uma forma drástica. Poderia o acusar de tudo, no entanto, quem poderia acusa-lo? Muitos homens não aceitam traição e ela não podia dizer nada, uma vez que aceitou deixar tudo para trás e viver com o amor da sua vida. Certo? Vicent era um homem romântico e apaixonado, mas tinha que ser justamente o pai do seu namorado? Respirou fundo dando um largo sorrindo antes de iniciar um novo capítulo de seu livro, afinal, para uma mulher como ela que sempre amou livros, que tal passar a escrever alguns? — Precisamos conversar – Clarisse
— Não. Você não vai.— Eu quero vê se você vai me impedir de visitar meus pais. Chega dessa sua paranóia. Idiota.Os adultos se encararam com sangue nos olhos, e Ronny queria retrucar e falar mais ainda quando o telefone tocou, Clarisse virou para buscá-lo em cima da mesa sempre com o homem em cima de si como se fosse uma sombra, atendeu mais rápido quando viu que era da escola de seu filho.— O que aconteceu com Jasper? – Escutou apenas professora dizer que ele caiu e se machucou tentando proteger um colega que passou mal. Clarisse pegou suas coisas colocando dentro da bolsa e saiu do escritório — Estou a caminho. Por favor não deixe que ele fique tão desesperado.— Clarisse... – Ronny a seguiu enquanto colocava os sapatos e pegava o casaco ao lado da porta — A gente ainda não terminou de conversar. Eu não quero que você vá.— Eu vou salvar o meu filho que está mal. O que você quer falar ainda? Já disse que irei visitar meus pais. Para de ser um babaca e não quero sabe ter nada agora
— Vamos viajar? É sério? – Jasper se animou correndo de um lado para o outro no quarto — E para onde vamos?— Seant. Onde seus avós moram e você vai conhecê-los – O garota parou diante da mãe — Mas quero que se comporte muito bem, porque temos que dar uma boa impressão.— O papai vai também? – Sentou na cama quando Clarisse deixou as roupas para Jasper colocar. — Mas é claro que vai, meu amor. Porque ele não iria? Somos uma família e vamos viajar juntos como tal.— É porque ele trabalha bastante e quase não tem tempo de nós levar para passear. E quando tem, só leva você. Então achei que não poderia ir com a gente visitar meus avós.Clarisse suspirou com essa informação, e era a mais pura verdade. Ronny sempre inventava alguma coisa apenas não ter que passear ou ir em lugares que o garoto gostava quando ele pedia com muito custo. Por sorte, Clarisse sempre esteve presente em tudo e jamais, nunca deixou-se faltar. E tudo isso porque Ronny jamais aceitaria ser traído e cuidar do filho
Nenhum dinheiro do mundo poderia comprar o prazer da mulher que gostava. Poderia se passar anos e inúmeras mulheres por aqueles lençois, mas poucas se comparavam a um terço do que foi Clarisse em seus braços. Sentou na cama lembrando que deveria ter mais cuidado com quem visitava nas madrugadas por que isso só lhe dava dor de cabeça e outro dia cansativo para trabalhar e nada mais. Nem libertação, felicidade, satisfação, nada e nada.Desceu as escadas da casa esperando não encontrar nenhuma das empregadas para não começar o dia ignorando as pessoas, porque agora entendia a dor de ser totalmente ignorado e preferia não sentir absolutamente nada. Chegou ao seu carro sem ver nenhuma alma viva e seguiu para a saída querendo que aquele dia fosse um dos melhores da semana. Não iria custar nada a ninguém não o perturbar de nenhuma maneira possível.Desde o saguão do prédio ao andar que ficava sua sala, seus desejos vinham sendo atendidos de maneira rápida e eficaz... Ele tinha algo para r
Quando a última mala foi fechada Clarisse deu alguns passos para trás apenas para revisar seu trabalho. Havia uma determinação em seu olhar que Ronny jamais podia ver. Podia escutar as risadas de Jasper e sua animação pela viagem. Se aproximou do quarto do pequeno assistindo os dois brincarem pelas roupas bagunçadas e brinquedos espalhados. Queria que todos os dias fossem daquele jeito. Seria mais fácil de lidar e engolir todas as loucuras do seu marido.- Vamos nos atrasar se continuarmos apenas a brincar - Os dois deram atenção a mulher e Jasper correu para os braços da mãe. - Minhas malas estão prontas.- Tudo bem, vou pedir para buscarem, o avião sai em duas horas. Temos um tempo - Clarisse confirmou e desceu para a sala trazendo o filho junto.Estava tão animado que não parava de falar se seus avós que prometeu passeios maravilhosos pela cidade, sem contar que o avô prometeu uma volta de avião, mas não qualquer avião, um do exército como um policial. Esperaram por Ronny já d
- Tome, fique a vontade. O frio de Seant deixa todo mundo com preguiça de existir. Então, tome mais café, e se quiser mais alguma coisa me conte, me conte tudo que deseja comer, ta bom? - Sentou ao lado de Clarisse que acabou sorrindo com todo aquele carinho. O sabor do café de sua mãe era único. Nenhuma empregada daquela casa grande em Valcolink conseguiria reproduzir isso. Abriu os olhos devagar estudando o rosto bonito de sua mãe iluminar.- Está muito bom. Obrigada por fazer isso, estava com muita saudade da sua comida - Nice suspirou passando as mãos pelo cabelo de Clarisse, tão linda e especial, nem acreditava que finalmente tinha voltado para casa - Você parece triste.- Não estou mais triste. Seis anos se passaram Clarisse, e não veio nos visitar. - A mulher assentiu com tristeza em seus olhos - Eu entendo que deve ter sido obra do seu marido, mas eu não acredito que ele tenha tanto poder assim sob você. Então, diga a mim se alguma coisa fizemos para te chatear.- Não fize
Quando a última mala foi colocada no chão, Ronny estudou todo o quarto de hotel antes de caminhar em direção às janelas e abrir uma por uma revelando a grande cidade de Seant, a mesma a qual tinha deixado a seis anos para viver de amor com sua esposa e o filho que não era seu. Deveria ter demorado muito mais tempo, jamais voltaria para aquela cidade onde teve seu amor roubado pelo último homem a qual ele achou que seria traído. Engoliu a seco pensando na possibilidade daqueles dois se encontrarem. Não, não deixaria isso acontecer jamais. Colocaria alguém para espionar Clarisse vinte e quatro horas por dia, queria saber seus passos e tudo que fazia naquela semana inteira que estaria ali. Se arrumou naquela manhã para almoçar com o grande Vicent Tornneagth, a pedido do mesmo. Não queria ter um encontro assim logo de cara, mas sabendo que outras pessoas estariam ali para cumprimentar o grande filho de Vicent, iria ajudar. Naquela semana se dedicaria a ser não apenas um filho, como tamb
Quando saiu de casa sabia que muita coisa estaria diferente ao voltar. Se despediu de seu filho com um nó na garganta, o que ele iria achar de morar ali e bem longe do pai? Ao menos do pai que ela arrumou para a criança?Como nos velhos tempos, o restaurante que escolheu aquele horário era o mais possível da cidade e de todos que podiam reconhecer Vicent Tornneght. Não queria que alguém os visse a ponto de tirar fotos e mandar para todos os sites como fofoca, Ronny enlouqueceria sem contar que a exposição ao seu nome chamaria atenção de Jasper que já estava grandinho insuficiente para vagar pela internet.Não demorou para ver seu ex-amante atravessar as portas do restaurante com seu costumeiro sorriso de deboche, usando suas roupas sexy e aquele cavalo longo rodeando o pescoço. Esse tempo todo que estava longe, Vicent ficou ainda mais bonito, mais maduro, com uma barba fala contornando seu rosto másculo. Tão diferente de Ronny, mas igual a ele. Se o filho ficasse velho como o pai, es