Liam
O silêncio da casa me atormenta mais do que qualquer grito. Antes, quando eu chegava do trabalho, encontrava Julie correndo pelo corredor, rindo, pedindo colo, e Kyra logo atrás, sorrindo como se aquele fosse o único momento que importava. Ela aceitou voltar, mas não porque eu pedi. Porque Julie pediu.
Agora, tudo mudou. Julie ainda corre. Ainda ri. Mas Kyra não sorri mais. O que resta no rosto dela é apenas uma sombra do que já foi — um esboço, um reflexo vazio. Quando tento me aproximar, ela recua. Quando entro pela porta, ela sai. É sempre assim.
Hoje, por exemplo: a chave mal girou na fechadura e eu já ouvi seus passos apressados no corredor. Um murmúrio de despedida para Julie, um sorriso falso colado no rosto, e a porta se fechou atrás dela sem que nossos olhos se encontrassem. Eu fiquei parado ali, com a pasta na mão, ouvindo a respiração da minha filha e o eco do vazio que Kyra deixou ao sair como se fosse uma fugitiva.
"Ela vai embora todos os dias", Julie disse ontem,