Liam
O vento daquela noite não perdoava. Gélido, cortava a pele como pequenas lâminas invisíveis. A varanda estava perfeita — velas tremulando, as estrelas expostas como se estivessem aqui apenas para mim e para ela. Mas quando olhei para Kyra, percebi o erro: o pijama fino, quase transparente sob a luz amarelada, denunciava que ela tremia levemente, tentando disfarçar.
Ela nunca pede nada. Nunca reclama. Prefere sofrer em silêncio, como se não tivesse o direito de existir de verdade. Isso me corrói mais do que eu gostaria de admitir. Porque no fundo, eu queria que ela fosse de pedra, não vidro.
Levantei-me sem pensar muito, caminhei até a sala e trouxe uma manta de lã cinza. Coloquei-a sobre os ombros dela, sem pedir permissão. O gesto foi simples, mas íntimo. Mais íntimo do que eu deveria permitir. Mas confesso que gostei.
— Não quero que congele enquanto conversamos. — Minhas mãos roçaram em seus braços ao ajeitar a manta. O arrepio que percorreu seu corpo não foi só pelo frio.