Capítulo 4

Capítulo 4

Rafael volta com Celina para a delegacia, passam as próximas horas trabalhando na frente do computador. Celina analisa o sistema da delegacia minuciosamente sem pressa, enquanto Rafael anda por todos os setores para resolver algumas pendências.

Às cinco da manhã, Celina lembra Rafael que o expediente acabou.

- Vou ficar mais um pouco.

- Suas pupilas estão dilatadas demonstrando estresse. O cansaço em seu corpo é visível, não será tão útil em uma perseguição com a mente e o corpo ambos fadigados.

- Você trabalha mais do que eu - reclama ao se levantar para tomar outra xícara de café.

Enquanto toma o café olha pela janela da delegacia.

- Ah, está certo. Vou descansar um pouco.

Terminando de tomar o café, Rafael faz sua última ronda na delegacia. No estacionamento subterrâneo, olha para Celina com o cenho franzido.

- Onde você pensa que vai?

- Estou seguindo as ordens impostas no meu sistema. Devo ficar com o senhor vinte e quatro horas.

- Só me faltava essa - diz abrindo a porta do próprio carro. - Entre.

Desgostoso, dirige até o apartamento que fica numa área mais afastada. Uma das poucas áreas que tem vegetação na cidade.

Ele entra sendo seguido por Celina que observa o ambiente para saber se está seguro.

- Vou mostrar onde você vai ficar. Venha.

Depois de acomodar Celina, ele segue até a cozinha e procura algo na geladeira que está praticamente vazia. Vai ter que fazer compras já que tem um robô que come como um ser humano.

Apesar de Celina ter dito que a maior parte de seu corpo é humano, Rafael achou difícil acreditar que de um momento para o outro a ciência tenha chegado tão longe. Para ele, ela é um robô e mais nada.

Termina de comer danone com cereais e fica precificado ao olhar para a porta da cozinha. Celina tinha tomado banho, seus cabelos vermelhos como o fogo estão úmidos e o odor do sabonete impregnou em suas narinas.

Olha para ela com interesse, as pernas são longas e bem definidas, os pés estão descalços, sobe o olhar pelo quadril arredondado, a cintura fina e os seios pequenos. Rafael não havia percebido que sua respiração ficou levemente alterada até Celina dizer.

- Percebi um leve aumento em seus batimentos cardíacos, houve uma mudança considerável em sua temperatura corporal.

Balançando a cabeça, Rafael não diz nada e vai para o quarto. Sente que está pirando de vez, sim, só pode ter sofrido algum surto momentâneo. Seu corpo reagiu ao de um robô. Isso é inaceitável e impossível.

Ela não tem sentimentos, nem deve ser quente. Quente? Será mesmo que ela não tem calor?

Não quer ficar pensando se ela é quente ou não, isso é ridículo. Para esses pensamentos eróticos passarem, o jeito é ir ao clube e se saciar. Seu nome é trabalho, nunca tem tempo para namorar, por isso qualquer coisa que se mexe o deixa aceso.

Entrando no quarto fecha às persianas, mesmo assim a claridade do dia amanhecendo o incomoda. Suspirando arranca as roupas e vai tomar uma ducha rápida. Minutos depois está deitado do jeito como veio ao mundo, com a mão embaixo da cabeça fechando os olhos tentando dormir.

A claridade do sol passando pelas frestas da persiana o deixa agitado e ansioso, pois não consegue dormir. Está cansado, mas quem dorme com essa claridade?

Vira na cama durante vários minutos até desistir de tentar dormir e sai do quarto com uma carranca no rosto. No corredor, olha para o quarto de hóspedes, está tudo calmo. Com o cenho franzido passa a mão no rosto.

Será que ela consegue dormir? - pensa desanimado.

Sentado na frente da televisão liga o aparelho para assistir o noticiário. Vez ou outra seus olhos vagueiam pelo corredor. Suspirando fica pensando, nunca levou uma mulher para esse apartamento e a única vez que faz não é alguém com quem possa se envolver.

Pega o celular, tem uma mensagem piscando, ao entrar faz uma careta, uma das mulheres do batalhão. Pensou que tinha deixado bem claro que não se envolve com colegas de trabalho, principalmente sendo o delegado.

Entra na mensagem por curiosidade, realmente é insistente, um convite para almoçar. Não seria nada mal sair e almoçar com alguém literalmente de carne e osso com seus próprios pensamentos, mas o problema é se ela confundir as coisas.

Continua com o celular na mão tentando aceitar, mas desiste depois de pensar melhor deixando o celular de lado voltando a prestar atenção no documentário.

Sem perceber cochila no sofá, mesmo dormindo sente seu subconsciente ativo, é como se estivesse sonhando sem conseguir acordar. Sente uma presença, algo que parece ser ameaçador, seu coração acelera, tenta abrir os olhos, mas não consegue.

Celina observa o corpo do delegado tremendo, com a mão esquerda sente a temperatura de seu pescoço. Está ardendo em febre. Estranho, pois estava perfeitamente saudável.

Franze a testa ligeiramente, faz uma varredura no corpo dele referente a temperatura, pressão e batimentos cardíacos.

Após a análise chega-se à conclusão de que ele foi envenenado. Mas como? E por quem? Celina o pega no colo e desce rapidamente até o estacionamento. O deixa deitado no banco de trás. Como desceu sem as chaves do veículo, usa seu sistema para desbloquear e ligar o carro.

Usa a velocidade máxima da via passando pelos veículos fazendo manobras perfeitas. Minutos depois ela o escuta tossir, olha rapidamente para trás, ele vomita sangue, pelo visto o veneno é muito potente. Acelera mais rápido, está tão tensa que só para o veículo quando derruba a porta do hospital assuntando a todos.

Descendo do carro pega o corpo de Rafael, entra no hospital passando pela porta que foi arrancada.

- Quero um médico. Agora! Oficial envenenado.

Uma enfermeira pega a maca, para ao lado de Celina que deposita o corpo do delegado e puxa um revólver de dentro de seu blazer.

- Onde está o médico? - diz nervosa olhando para o delegado que parece estar com falta de ar. - Se ele morrer...

- Estou aqui. Levem-no.

Ao ver o médico correr para ajudar, guarda a arma e seus olhos voltam a cor normal. Ela os segue a uma certa distância até a enfermeira a impedir de entrar na sala.

- Fique esperando na sala de espera...

- Vou entrar, quero ver quem vai me impedir - diz passando pela enfermeira.

Celina fica distante e olha todos os detalhes, desde a higiene até os procedimentos para a desintoxicação.

Olhar Rafael assim a deixa com o coração apertado, é como se já tivesse passado por algo desesperador em seu passado. Embora saiba que é humana, não acha em seu sistema nenhum acesso de sua vida. Como se o seu sistema tivesse poucos dias. Isso ultimamente a perturba, gostaria de saber sobre seu passado.

Para de pensar ao escutar um gemido agoniado de Rafael. Dá um passo para frente, mas para no mesmo instante, não tem o que fazer e deixa os médicos fazerem seu trabalho.

Momentos angustiantes se passam até o médico suspirar aliviado.

- Ele está fora de perigo.

Celina ergue o canto da boca num sorriso, em seguida seu sistema começa a trabalhar e envia um e-mail para a diretoria da delegacia contando o que aconteceu. No e-mail diz que a única coisa que Rafael fez antes de sair foi tomar um café, suspeitando que ele tinha o componente que o deixou à beira da morte.

- Vamos levá-lo para o leito e monitorar a recuperação do paciente - diz o médico tirando as luvas.

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