Capítulo 3
Verão de 1985 - Florianópolis, SC - Brasil. Celina Braga, desce as escadas correndo para a cozinha, está super atrasada, nem vai poder sair para correr antes de ir para o trabalho. Faz o café da manhã, com pão, ovos mexidos, café, suco, leite e cereais para o marido e seus filhos. — Crianças venham tomar café. O ônibus da escola já vai passar — ela chama da cozinha. No andar de cima, o marido ajuda as filhas a terminarem de se arrumar. — Vamos meninas, peguem suas coisas e vamos descer. — Estamos indo papai. — Fala uma das gêmeas pegando a mochila da escola. O pai pega sua pasta e desce logo depois das filhas. — Bom dia, mamãe. — Dizem as gêmeas juntas e se sentam à mesa. — Bom dia, queridas. O marido deixa a pasta no balcão da sala e segue para a cozinha. — Bom dia, amor. — diz o marido Ronaldo, lhe dando um leve beijo nos lábios. Celina anda descalça pela cozinha, serve as filhas e se senta com o marido. — Comam logo, queridas. Em menos de cinco minutos, se escuta a buzina do ônibus escolar. — Até mais tarde, queridas. — A mãe se despede acenando da porta vendo o ônibus se distanciar. — Amor, precisamos sair agora. Ele pega a pasta e as chaves do carro e Celina pega os sapatos e a bolsa. Na estrada, Celina se maquia no carro. — Querida, preciso de um smoking. Terá uma confraternização na empresa, pode me ajudar? — Claro amor, podemos alugar um perto do seu serviço. O que você acha? Podemos nos encontrar à tarde. — Ela diz passando rímel nos cílios — Sim, boa ideia. Você aluga um vestido também, pois irá comigo, claro. Saem da estrada da área rural e pegam a rodovia de mão dupla sentido a cidade grande. — Terei que ir muito chique? — Ela pergunta. O marido sorri para ela dizendo: — Claro que não amor. Você é tão bela, que não precisa de muita coisa — fiz com um sorriso nos lábios. — Seu bobo. Aqui o bonitão é você — ela sorri de volta. — E ainda me ofende? Ela para de passar o batom dizendo: — Sabe o quanto eu te amo. — Eu também, minha querida. O marido percebe que ela está sem cinto. — Amor, coloca o cinto. — Aqui é tão tranquilo o trânsito. — Mesmo assim, querida. Ela pega o cinto, antes de colocar, o marido sente uma vertigem e vira um pouco o volante para o lado. — Querido, o que foi? — Eu não me sinto muito bem. — Pare o carro, eu levo. — Está bem. O peito dele começa a doer, ele geme de dor, sem perceber vira o volante invadindo a faixa contrária. — Ronaldo? — Celina grita ao ver o caminhão se aproximar. — Não! Aaah... O caminhão acerta o lado que Celina está, o carro é arrastado por vários metros até o caminhoneiro conseguir parar e descer. O caminheiro corre para o lado do motorista, sente cheiro forte de gasolina. Abre a porta e consegue tirar o motorista. Alguns carros param para ver o acidente, um motorista desce correndo dizendo ser médico e ajuda o motorista desacordado como pode. O caminheiro pergunta: — Ele vai ficar bem? — Está morto. — Responde o médico com pesar em sua voz. O caminhoneiro olha para Celina dizendo: — Ela também deve estar. — Comenta vendo o corpo dela todo machucado nas ferragens. O médico se levanta, entra no carro, para tirar os sinais vitais de Celina. — Sim, ela também se foi. — Ah, meu Deus! — O caminhoneiro fica abalado. — A pancada foi muito forte, não tinha como frear, apareceram na minha frente como por encanto. Outro motorista chama a ambulância. O caminhoneiro se senta no chão e coloca a cabeça entre as pernas triste. — Meu Deus! O médico coloca a mão no ombro dele: — Não foi sua culpa. Em poucos minutos, a van do resgate chega. Os carros de polícia já estão no local para ajudar a normalizar o trânsito e resolver toda a situação. — Não podemos remover os corpos — diz o paramédico. — Claro, chamamos os bombeiros para tirar o corpo da mulher, ela está presa entre as ferragens. Horas depois, helicópteros sobrevoaram o local bem no instante em que os corpos estão sendo removidos. Repórteres se aproximam para darem as notícias de última hora. — Caros telespectadores, a pouco tempo ouve um terrível acidente ao qual resultou em duas mortes. Marido e mulher da família Braga faleceram no local, eles deixam duas filhas gêmeas de 8 anos... A irmã do Ronaldo vê a reportagem na televisão sem acreditar, seus olhos enchem de lágrimas: — Ó meu Deus! — Fala pegando as chaves do carro indo buscar as sobrinhas na escola. No dia seguinte, é feito o funeral e o enterro do casal Braga. O caixão de Celina foi lacrado, de acordo com os médicos do necrotério o corpo estava num estado lamentável para deixar exposto para os familiares e parentes. Há vários metros dali, vendo o enterro, um homem passa um envelope para outro disfarçadamente que guarda o mais rápido possível entre as roupas. — Aqui está a certidão, senhor. — Ótimo. Onde está o corpo? — No avião, sentido Washington. — Perfeito. Aqui está seu pagamento — diz e entrega um envelope pequeno, vira as costas saindo sem dizer mais nada. Helena observa as sobrinhas chorarem, seu coração está apertado por suas meninas. Por ser a parente mais próxima, entra na justiça para ficar com a guarda das sobrinhas.