Mundo ficciónIniciar sesiónMeu sangue gelou ao observá-lo e perceber o grave erro que cometi naquela noite quando, sem saber, me envolvi com o pai da minha melhor amiga.
Ele pareceu se recompor tão rápido que eu duvidava que os outros tivessem notado a surpresa que teve ao me ver e reconhecer. Seu rosto sério o deixava ainda mais imponente, com aquele olhar fixo e intimidador que poderia fazer qualquer um tremer. A camisa branca deixava à mostra seus músculos enormes cobertos de tatuagens, o tecido justo realçava suas pernas fortes, e o cabelo preso para trás, em um coque baixo, o deixava ainda mais marcante. Estremeci ao ver sua forma potente de caminhar, como se pudesse esmagar qualquer um em seu caminho. Esse homem tinha tanta presença que era impossível passar despercebido. Eu não conseguia respirar. Sentia como se tivesse ficado paralisada, enquanto milhares de lembranças desfilavam pela minha cabeça: ele segurando meu pescoço com aquela mão enorme enquanto empurrava o quadril contra o meu, sem piedade, como se tentasse dar partida em uma moto. “Queria que eu te curasse? Aqui está o seu remédio.” A voz dele ecoava dentro da minha cabeça, fazendo meu rosto arder. Sim, eu estava bêbada naquela noite, mas o álcool só fez bagunça na minha mente, me transformando em uma garota fácil por uma noite. Ainda assim, eu lembrava absolutamente de tudo com perfeição. Aurora nem notava que eu estava morrendo por dentro, quase tendo um ataque cardíaco. Ela sorria, feliz, enquanto se aproximava do pai, que parou bem na nossa frente. “Papai, essa é minha melhor amiga, Eva.” Ele não desviava os olhos de mim. E eu também não conseguia desviar. A verdade é que eu não sabia se ele ia dizer alguma coisa sobre já me conhecer ou… bem, não, ele não me conhecia. Nem sequer trocamos nomes. Nós só conhecemos os corpos e os gemidos um do outro naquela noite de hotel. De repente, seus olhos brilharam com uma malícia discreta, e o canto da boca se curvou em um leve sorriso. “Eva… agora entendo” murmurou, com aquela voz profunda que eu tanto lembrava. “Sempre tentada pelo pecado.” Senti meus olhos se arregalarem. O que aquilo queria dizer? E por que soou como uma sugestão sexual? O calor subiu pelas minhas bochechas e pelo meu pescoço. “Sou Eros Dunker” continuou, estendendo a mão para mim. “O pai da Aurora.” Engoli em seco e estendi minha mão trêmula para segurar a dele. A minha parecia minúscula diante da dele, enorme. No instante em que nossas peles se tocaram, senti algo revirar dentro do meu estômago e meu peito se apertar. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo, só sabia que minhas pernas tinham virado gelatina e eu quase perdi o equilíbrio. “Um prazer, senhor…” pigarreei, sentindo minha voz fraca. “Dunker.” Passei a língua pelos lábios secos, e ele fixou o olhar neles, fazendo meu ventre se contrair. Então, respondeu: “O prazer é todo meu.” Estremeci e prendi a respiração. Por que tudo o que saía da boca dele soava como uma insinuação sexual? Eu sabia a resposta. Nas minhas fantasias mais sombrias, eu sempre me perguntei como seria estar com alguém como ele. Alguém capaz de me fazer vibrar, de me fazer sentir só com um olhar. Porque, por mais que eu tivesse amado Kevin, com ele nunca houve conexão sexual, nunca houve a explosão que esse homem conseguiu provocar em mim. Naquela noite em que fiquei com Eros, a intensidade não foi normal. Havia uma atração que eu nem sabia explicar. Ele me deixou extasiada, exausta, sem ar e com calafrios nas pernas. “Temos visita?” A voz de um homem descendo as escadas me distraiu. Eros soltou minha mão e por um momento senti a falta do seu toque. “Nada que te interesse, realmente” respondeu ele, sem soar como se estivesse brincando. Mesmo assim, o homem não pareceu se importar. Se aproximou com um sorriso amigável. Seu cabelo loiro escuro destacava os olhos azuis, parecia ter a mesma altura de Eros, só que um pouco menos musculoso. Ainda assim, dava pra notar que se cuidava. Era bonito e não parecia tão velho, talvez tivesse a mesma idade do pai da Aurora. Ele fixou o olhar em mim e abriu ainda mais o sorriso. “Tio” disse Aurora animada. “Essa é minha melhor amiga, Eva Volaine.” Tio? Ele era irmão do senhor Eros? Mas não se pareciam em nada. “Eva” repetiu ele, estendendo a mão para mim. Apertei a sua. “Seja bem-vinda ao castelo. Sou Federik Dunker.” Franzi o cenho, intrigada. “É… de verdade um castelo?” arrisquei perguntar. Federik soltou minha mão e olhou para Aurora, confuso. “Você não contou pra ela?” perguntou. O que eu estava perdendo? Aurora pigarreou e murmurou: “Depois.” Depois? O que ela não tinha me contado? O tio de Aurora, Federik, voltou a me encarar e por tempo demais. O namorado dela, Camilo, percebeu e comentou com certa graça: “Vai babar no chão, hein.” Federik soltou uma risada curta que fez seus olhos se fecharem um pouco. Então, murmurou olhando para mim: “Você é muito linda, Eva.” Senti meu rosto esquentar. Olhei de relance para Eros Dunker. Ele estava mais sério do que um segundo atrás, até que nos interrompeu: “Que tal vocês se acomodarem e depois nos encontramos para o jantar?” disse firme. “Tenho certeza que sua amiga vai gostar de dar uma volta pelos jardins.” “Claro que sim” respondeu Aurora. De repente, passos vindos do corredor nos distraíram. O som dos saltos batendo contra o chão ecoava pelo ambiente. Uma mulher surgiu: o cabelo loiro tão claro que quase parecia branco, o corpo magro vestia com elegância um vestido cor champanhe. Ainda parecia jovem, mas era evidente que já tinha uma certa idade, talvez uns trinta e muitos. Quando chegou perto de nós, um silêncio estranho e tenso tomou conta do ar. De repente, me senti desconfortável. A mulher olhou para todos nós, e então me encarou dos pés à cabeça, sem nenhum disfarce. “Ninguém vai me apresentar?” perguntou com um sotaque forte, provavelmente russo, agora olhando diretamente para Aurora. Notei que Aurora já não parecia tão feliz quanto antes. O sorriso genuíno tinha sumido, dando lugar a uma expressão séria. “Essa é minha mãe” murmurou Aurora, limpando a garganta. “Mãe, essa é minha melhor amiga, Eva.” A mãe dela? Agora que pensei bem, em todo esse tempo que nos conhecíamos, Aurora nunca tinha mencionado sua mãe. A senhora deu um passo em minha direção, mas passou a mão pelo braço de Eros. Seus olhos claros estavam cravados em mim como lâminas, e um sorriso ensaiado surgia em seus lábios vermelhos. “Sou Marina” disse, estendendo a mão para mim. No dedo, o enorme anel de ouro brilhava, deixando clara que era sua aliança. “Mas pode me chamar de senhora Dunker.” Levou apenas um nanosegundo para eu compreender: ela era a esposa dele. Senti minhas pernas fraquejarem. O ar sumiu dos meus pulmões. Olhei para Eros, e ele também olhou para mim. Eu tinha me envolvido com um homem casado.






