A manhã seguinte amanheceu com um céu límpido, como se a tempestade da noite anterior nunca tivesse existido. No entanto, para Noan, a atmosfera na mansão parecia carregada de uma eletricidade silenciosa, um eco do olhar intenso que compartilhou com Ethan no corredor. Ele se sentia estranhamente consciente da presença do empresário, cada ruído, cada porta que se abria o fazia sobressaltar.
Ethan, por sua vez, parecia ter se retraído ainda mais em sua concha. Ele não mencionou o breve encontro da noite anterior e manteve uma distância ainda maior do que o habitual. Seus olhos, quando cruzavam os de Noan, eram rápidos e evasivos, sem o brilho fugaz de vulnerabilidade que Noan havia vislumbrado.
Noan tentava se concentrar em suas tarefas, mas sua mente constantemente voltava para aquele momento no corredor. O calor do olhar de Ethan, a sensação de proximidade... tudo parecia um sonho, quase irreal. Ele se questionava se havia interpretado mal os sinais, se a tensão que sentira era apenas fruto de sua própria imaginação.
Tian, feliz com o retorno do sol, brincava animadamente no jardim, alheio à turbulência interna de Noan. Observá-lo correr e rir trazia um certo conforto, lembrando a Noan de sua prioridade principal.
Na hora do almoço, Ethan não apareceu na sala de jantar. Jonathan informou a Noan que o patrão havia pedido para que lhe levassem uma bandeja para o escritório. Aquela reclusão intensificada fez Noan se sentir ainda mais inseguro sobre o que havia acontecido na noite anterior.
Enquanto Noan ajudava Sofia a arrumar a cozinha, a cozinheira o observou com um olhar perspicaz. "Você parece pensativo hoje, querido.
Aconteceu alguma coisa?"
Noan hesitou por um momento antes de negar com a cabeça, um leve rubor tomando conta de suas bochechas. "Não, Sofia. Apenas... cansado."
Naquela tarde, enquanto Noan regava as plantas na varanda, Ethan surgiu de repente, vindo da sala de estar. Ele parecia tenso, com as mãos nos bolsos e o olhar fixo no oceano.
"Noan", chamou ele, sua voz rouca.
Noan se virou, o coração acelerando. Era a primeira vez que Ethan o chamava pelo nome sem o "senhor" antes.
"Sim, Ethan?"
Houve um breve silêncio, durante o qual os olhos de Ethan percorreram o rosto de Noan, demorando-se em seus lábios por um instante antes de voltarem para o mar.
"Eu... queria agradecer novamente pela noite passada. Por... acalmar Tian."
A formalidade de suas palavras contrastava com a intensidade de seu olhar, deixando Noan ainda mais confuso. "Não foi nada. Ele estava assustado."
Outro silêncio se instalou entre eles, carregado de uma tensão quase palpável. O som das ondas quebrando na costa parecia amplificar o ritmo acelerado dos corações de ambos.
De repente, Tian, que estava brincando perto dali, tropeçou em um brinquedo e caiu, ralando o joelho. Ele começou a chorar, chamando por Noan.
Noan correu imediatamente para socorrer o filho, ajoelhando-se ao seu lado para examinar o ferimento. Ethan permaneceu parado na varanda, observando a cena com uma expressão indecifrável.
Enquanto Noan limpava o joelho de Tian com um pano úmido, sentiu a presença de Ethan se aproximando. O empresário se abaixou lentamente, ficando ao lado de Noan e Tian.
"Ele está bem?", perguntou Ethan, sua voz surpreendentemente preocupada.
"Sim, foi só um arranhão", respondeu Noan, olhando para Ethan de relance. A proximidade deles era intensa, e Noan podia sentir o calor do corpo de Ethan emanando em sua direção.
Tian, ainda soluçando, estendeu a mãozinha para Ethan. "Moço bonito, dodói."
Ethan hesitou por um instante, mas acabou pegando a mão de Tian, seus dedos longos e finos envolvendo a pequena mão do menino com delicadeza. Aquele pequeno gesto, tão simples e espontâneo, fez algo se acender dentro de Noan.
Naquele momento, seus olhares se encontraram.
Os olhos de Ethan não estavam frios ou distantes como de costume. Havia neles uma intensidade suave, uma vulnerabilidade que fez o coração de Noan disparar. Por um instante, o mundo ao redor pareceu desaparecer, restando apenas eles dois, conectados por um fio invisível de emoção.
Lentamente, quase inconscientemente, Ethan soltou a mão de Tian e sua mão roçou a de Noan.
Aquele toque breve, carregado de eletricidade, fez um arrepio percorrer o corpo de Noan. Seus olhos permaneceram fixos nos de Ethan, ambos presos em um momento de intensa consciência mútua.
Então, como se um choque elétrico os tivesse atingido, eles se afastaram abruptamente, um rubor tomando conta de seus rostos. O silêncio que se seguiu era denso, carregado de emoções não ditas.
Ethan pigarreou, desviando o olhar para Tian. "É melhor colocar uma pomada nesse machucado." Sem olhar para Noan novamente, ele se levantou e entrou na casa.
Noan ficou ali, ajoelhado ao lado de Tian, sentindo o coração bater descompassadamente. O toque de Ethan, por mais breve que tivesse sido, havia despertado nele uma torrente de sentimentos. Ele não podia mais negar a atração que sentia por aquele homem, por mais complicado e inacessível que ele parecesse.
Naquela noite, após colocar Tian para dormir, Noan não conseguia pregar o olho. Ele se revirava na cama, a imagem do olhar de Ethan gravada em sua mente. A dúvida o corroía. Teria ele imaginado tudo? Teria Ethan sentido o mesmo?
De repente, ouviu uma batida suave na porta. Seu coração deu um salto.
Seria Ethan?
Ele se levantou hesitante e abriu a porta. Para sua surpresa, era Sofia, com uma expressão preocupada no rosto.
"Noan, o senhor Ethan pediu para falar com você no escritório."
Um misto de apreensão e excitação tomou conta de Noan. O que Ethan queria? Seria sobre o momento na varanda? Seria para repreendê-lo por alguma coisa?
Com o coração na garganta, Noan seguiu Sofia até o escritório. A porta estava entreaberta, e uma luz fraca escapava por baixo. Ele respirou fundo e empurrou a porta, entrando no cômodo.
Ethan estava parado perto da janela, olhando para o mar. A luz suave de um abajur iluminava seu perfil tenso. Ele se virou lentamente ao ouvir a porta se abrir.
"Noan", disse ele, sua voz rouca e hesitante. "Eu... preciso conversar com você."
O silêncio que se seguiu pareceu durar uma eternidade. Os olhos de Ethan estavam fixos nos de Noan, carregados de uma intensidade que o deixou sem fôlego. Então, lentamente, Ethan deu um passo à frente, quebrando a distância entre eles. Seu olhar desceu para os lábios de Noan, e por um instante, Noan teve a certeza de que ele ia beijá-lo.
E então aconteceu. Os lábios de Ethan encontraram os de Noan em um toque suave e hesitante, como se ambos estivessem com medo de quebrar um encanto.
O beijo era doce e incerto, carregado de emoções reprimidas e um desejo que finalmente encontrava uma brecha para se manifestar. Para Noan, foi como se o tempo parasse, todos os seus medos e dúvidas se dissipassem naquele breve momento de conexão.
Quando se separaram, seus olhares permaneceram conectados. Havia surpresa, vulnerabilidade e uma pergunta silenciosa pairando no ar. O sabor daquele beijo, uma mistura de doçura e dúvida, ficou gravado na memória de Noan, marcando o início de algo novo e incerto à beira do oceano.