— Lucas, precisamos conversar agora! — A voz de Vanessa ecoou pela sala de estar, cortando o silêncio da casa.
Lucas, que acabara de descer para buscar um café, parou na escada e olhou para ela, exausto. O cansaço estava estampado em seu rosto; as noites mal dormidas e as preocupações acumuladas pesavam sobre seus ombros.
— Vanessa, não é o momento. As crianças acabaram de dormir, e eu não quero discussões.
Ela se aproximou com passos firmes, os saltos ecoando no piso de madeira da sala com determinação.
— Não é uma discussão, Lucas. É uma questão de prioridade. Eu sou a mãe do seu próximo filho, ou isso já não significa nada para você?
Lucas passou a mão pelos cabelos, visivelmente incomodado com o tom e a insistência dela.
— Claro que significa. Mas você precisa parar de usar isso como um trunfo em cada conversa. Estou lidando com muitas coisas ao mesmo tempo, e isso não ajuda.
Vanessa arqueou uma sobrancelha, indignada.
— Muitas coisas? — cruzou os braços. — Ou apenas uma coisa: Laura.
Lucas estreitou os olhos, a paciência começando a se esgotar.
— Vanessa, isso é ridículo. Você está tentando transformar Laura em um problema que ela não é.
Ela riu, mas o som foi seco e amargo.
— Ela está se tornando um obstáculo. Para nós, para o que construímos, para o que eu imaginei que construiríamos juntos.
Ela hesitou por um segundo, como se tivesse revelado mais do que queria. Lucas percebeu a pausa e a aproveitou.
— O que você realmente quer, Vanessa?
Ela se aproximou ainda mais, com um dedo apontado para o peito dele.
— Que você se comprometa. Comigo, com nosso filho. Você acha justo eu passar por essa gravidez sozinha enquanto você está envolvido com outra mulher?
Lucas respirou fundo, tentando manter o controle.
— Estou comprometido, sim. Mas não vou me casar só porque você quer. Casamento é uma decisão séria e precisa partir dos dois, não de uma chantagem emocional.
— Então cuidar da mãe dos seus filhos é chantagem agora? É pressão demais?
Ele balançou a cabeça, afastando-se.
— Você não entende, e acho que nunca vai.
Enquanto isso, Laura estava em seu quarto, organizando a agenda do dia seguinte. As vozes de Vanessa e Lucas invadiam seu espaço, dificultando a concentração. "Isso não é da minha conta", repetia mentalmente. Mas já era tarde demais. Ela estava envolvida de um jeito que não conseguia mais ignorar.
Mais tarde, Vanessa sentou-se diante do espelho no quarto dela. Seu reflexo a encarava como se fosse um inimigo.
— Se Lucas não quer decidir, então eu vou forçá-lo — murmurou, pegando o celular.
Ela digitou algo com rapidez. Minutos depois, um sorriso frio se formou em seus lábios. O plano estava em andamento.
Na manhã seguinte, com a casa em movimento, Vanessa chamou Lucas para uma conversa no escritório.
— Marquei a ultrassonografia do bebê. Você vai comigo — anunciou, sem rodeios.
— Claro, estarei lá — respondeu ele.
— Ótimo. Porque depois disso, precisamos anunciar nosso noivado. Já passou da hora.
Lucas a encarou por alguns segundos.
— Vanessa, já conversamos sobre isso. Eu não estou pronto para esse passo.
— A imprensa logo vai descobrir. Seus filhos vão começar a questionar. E eu não vou ficar esperando eternamente por uma decisão que deveria ter vindo naturalmente.
— Eu vou na consulta, sim. Mas não vou decidir minha vida com base em pressões externas ou internas.
Vanessa deu um sorriso forçado.
— Veremos quanto tempo você consegue resistir.
Naquela noite, Lucas estava no escritório analisando papéis e se perguntando se havia alguma saída para toda aquela confusão. Foi quando ouviu uma batida leve na porta.
— Sr., posso entrar? — era Laura, hesitante.
— Claro, Laura. O que houve?
Ela entrou devagar. Antes que começasse a falar, Vanessa passou pelo corredor e viu a cena. Parou, ficando em silêncio e observando.
— Estava pensando... já considerou matricular as crianças em uma escola? Ou procurar atividades extracurriculares? Isso ajudaria a ocupar o tempo delas e estimulá-las emocional e intelectualmente.
Lucas levantou os olhos dos papéis. Aquilo o surpreendeu.
— Para ser sincero, não. Desde a morte da minha esposa, minha prioridade tem sido protegê-los. Evitar mais dor. Mas você tem razão. Eles precisam de mais que isso.
Laura sentou-se, tocando a borda da mesa, tentando não ultrapassar limites.
— Posso ajudar com isso, se quiser. Conheço boas escolas na região, com programas especiais para a idade delas. Atividades como música, esportes ou artes poderiam ser ótimas para o desenvolvimento delas.
Lucas pareceu mais tranquilo com a ideia.
— Isso seria ótimo. Confio no seu julgamento.
Vanessa, ainda oculta no corredor, apertava os punhos. O ciúme e a insegurança fervilhavam dentro dela. Ela conhecia aquele olhar de Lucas. Era o mesmo que ele já tivera por ela um dia. E agora era Laura quem recebia aquela atenção.
Ela sabia que precisaria agir. Mas agora, de forma mais sutil, mais calculada. A posição que acreditava ser sua estava em risco.
Horas depois, Lucas ainda pensava sobre a conversa quando Vanessa entrou na sala, a expressão carregada.
— Precisamos falar.
— Claro. O que foi agora?
— Eu vejo como você olha para Laura. E estou cansada disso. Eu sou a mãe do seu filho. Você não pode simplesmente me apagar da sua vida.
Lucas respirou fundo.
— Ninguém está te apagando. Laura está aqui para ajudar. Com as crianças.
— Ela está tomando o meu lugar. Me sinto invisível!
— Isso não é uma competição. As crianças precisam dela. Elas precisam de apoio, e Laura tem sido esse apoio.
Vanessa o encarou, com os olhos estreitos.
— Se você não tomar uma decisão logo, eu tomarei por nós dois. Não vou continuar sendo a última opção.
Ela saiu da sala, deixando Lucas mergulhado em pensamentos. O que realmente sentia por Laura? Havia algo ali, crescendo, mesmo que ele tentasse negar.
No outro lado da casa, Laura olhava pela janela, tentando entender até onde tudo aquilo a levaria. Sabia que estava fazendo o certo pelas crianças, mas... e quanto a ela? O que estava sentindo? E o que Lucas sentia?
A tensão pairava no ar, prestes a explodir. E ninguém na casa parecia preparado para o que estava por vir.