Elise

— Mas eu não podia te adotar. Bem, eu já tinha um projeto para criar instituições de caridade, então apenas adaptei um projeto e abri aquele orfanato para atender meninas em situação de vulnerabilidade.

— Eu não imaginava.

— Eu pedi segredo a Martha, eu tinha esperanças que você fosse adotada, mas não aconteceu. Então eu planejei te dar um cargo em uma das minhas empresas em breve, já estava organizado, inclusive, você tem uma poupança para arcar com as despesas da sua faculdade.

— O que? 

Como isso era possível?

Antes que eu perguntasse, a porta foi aberta depois de uma leve batida. A governanta entrou com uma bandeja e colocou na mesinha de centro. Não demorou para que nos deixasse sozinhas novamente.

Amélia serviu o chá nas duas xícaras e me entregou a minha, que tremeu devido às minhas mãos instáveis.

— Eu sempre quis ter uma menina, Elise, mas eu tive medo de tentar e ter uma ômega e, no fim, não escapei, Hazel nasceu quando eu pensei que não ia mais ter filhos, e é um ômega macho, o que é ainda pior.

Seu tom saiu em lamento e ela bebeu um gole do chá, no entanto, depois sorriu novamente.

— Quando soube que você era uma beta, eu fiquei feliz, pois sabia que teria uma vida normal, que não seria uma escrava dos instintos e dos feromônios. Então, eu me apeguei mais a você.

Meu coração se apertou, ela não sabia da verdade ainda. No meu último exame, o médico cruzou algumas informações e eu soube que não era uma beta e sim uma ômega dominante. Algo raro e perigoso.

Mas meus exames padrões não apontam isso, então eu pedi segredo, ele também me recomendou que eu mantivesse isso. Ele sabia da realidade melhor que eu.

— Bom, mas aqui estamos e quero que saiba que esse cargo de babá será temporário, você ficará aqui até eu encontrar outra pessoa. Infelizmente, eu tenho que viajar com urgência e Logan precisa voltar para suas atividades, ele tem muitas responsabilidades.

Olhei para o meu chá intocado, o líquido amarelado estava quente. Eu ainda não sabia o que dizer, mas ao menos deveria agradecer.

— Obrigada. Eu não sabia de nada disso.

— Não preciso que me agradeça, Elise. Eu não fiz o bastante, afinal, você cresceu em um orfanato e não na minha casa. Em breve você irá entender que a hierarquia consolidada nessa sociedade é uma maldição.

— Mesmo assim, eu poderia ter um destino ruim se não tivesse sido encontrada e colocada em um lar, estar em um orfanato não era o problema, lá eu fui bem cuidada e tinha uma cama quente.

— Sim, é uma verdade. Bom, mas não vamos falar mais disso. Você terá um futuro incrível, eu estarei com você daqui para frente. 

— Obrigada. — Sorri, envergonhada, eu não sabia como agir na sua frente.

— Hoje eu passarei o dia com você e mostrarei a rotina de Hazel, eu procuro dar a ele uma vida mais normal possível, mas há dias difíceis. 

Concordei e finalmente bebi um pouco do chá. Estava amargo, mas engoli mesmo assim.

Terminamos o chá de forma mais leve, após isso, ela me levou para conhecer onde seria meu novo quarto, ao lado do quarto de Hazel. Eu seria a única responsável por ele quando Amélia estivesse fora, isso incluiria as noites. 

Também receberia um treinamento médico, pois Hazel fazia uso de muitos medicamentos, às vezes passava mal. Era uma rotina difícil, mas eu iria me esforçar, pois devia muito a essa mulher. 

Antes de sairmos do quarto de Hazel, Logan entrou com ele nos braços. Estava dormindo. Ele foi até o berço e o colocou com cuidado, parecia ser muito natural para ele, se via que ele amava o irmão.

Eu senti uma certa admiração pela cena, diziam que os alfas eram muito frios, mas não parecia ser o caso de Logan. 

— Logan sempre consegue por ele para dormir, não sei o que faz. — Amélia comentou ao me conduzir para fora do quarto.

— Hazel gosta de mim porque sou um irmão incrível, apenas isso — gabou-se assim que fechou a porta.

— Tão confiante esse meu filho. Mas é verdade, você é um filho incrível.

Logan beijou sua testa e olhou-me.

— E então, está pronta para começar, Elise?

— Acredito que sim. — Novamente senti aquela inquietação. 

Como era possível eu ter ficado tão impressionada? Era a primeira vez que o via. Só podia ser influência dos instintos.