06 – O PESO DO LUTO

POV: LAUREN

O sol se punha no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e roxo enquanto eu encarava o caixão à minha frente. Minhas mãos tremiam, não apenas pela dor da perda, mas pela culpa de não ter sido rápida o suficiente. Não consegui resolver a situação da empresa a tempo. Me deixei consumir pelo conflito com Ethan e demorei demais para salvar meu pai e seu império.

Sua pele estava pálida, os lábios roxos. Flores cobriam seu corpo até o pescoço. Um nó apertado se formava em meu peito, e a dor era esmagadora. Ao meu lado, minha mãe chorava descontroladamente, abraçando o caixão e implorando para que o homem que ela amava voltasse. Mas ele não voltaria. Ele não estaria mais aqui para nos fazer rir de suas piadas sem sentido, para contar suas histórias, nos guiar com sua sabedoria ou nos proteger do mundo.

— Oh, papai, por que fez isso conosco? — Eu murmurei entre lágrimas, tentando engolir o nó na minha garganta. Me aproximei do caixão, inclinando-me para depositar um beijo em sua testa gelada. — Vá em paz. Eu prometo que cuidarei de tudo, meu herói.

Um soluço escapou da minha garganta quando o sinal foi dado para que o caixão começasse a descer lentamente à terra fria. Minha mãe gritava, implorando para que não o levassem, para que não tirassem dela o companheiro de toda uma vida, o grande amor da sua existência. A dor dela era um reflexo da minha, e o som de seus gritos ecoava o vazio que ele deixava em nós.

— Ele ficará sozinho e com frio, por favor, não! — minha mãe soluçava desesperada, escorregando pela madeira do caixão. Ajoelhei-me ao seu lado e a envolvi em um abraço forte, tentando conter o caos que nos consumia.

— Mãe, ele está em paz agora — sussurrei em seu ouvido, tentando acalmá-la enquanto sentia minhas próprias lágrimas escorrerem. — Não se preocupe, eu vou cuidar da gente. Eu prometo.

Quando o caixão finalmente alcançou o fundo do solo e começou a ser coberto pela terra, depositamos as últimas flores, um gesto de despedida carregado de dor. O silêncio foi quebrado de forma abrupta por um grito que ecoou atrás de nós.

— Sra. Becker, precisamos conversar. Agora! — A voz grave e autoritária de um homem ressoou, arrancando murmúrios de surpresa entre os presentes.

Virei-me rapidamente e vi um homem parado a poucos metros de distância, usando um terno preto impecável. Seu olhar era frio e cortante, como o mármore dos túmulos ao redor.

— Perdão, quem é o senhor? — perguntei, dando um passo à frente, confusa e irritada. — E por que está invadindo o funeral do meu pai com tamanho desrespeito?

— Desrespeito? — Ele soltou uma gargalhada carregada de sarcasmo, o desprezo evidente em cada palavra. — Esse velho covarde preferiu se matar a assumir a responsabilidade pelas dívidas que tinha com os acionistas.

Suas palavras causaram um choque imediato. Ele deu um passo à frente, ajustando a postura e encarando cada pessoa ao redor, como se quisesse garantir que todos ouvissem.

— Isso mesmo, todos vocês ouviram corretamente. André Becker escolheu a morte ao invés de pagar o que devia!

O impacto de suas palavras foi devastador. O clima de luto foi tomado por um silêncio tenso, quebrado apenas pelo som abafado dos soluços da minha mãe e dos murmúrios indignados ao redor.

— Do que você está falando? Quem é o senhor? — Eu gritei, minha voz cheia de agitação enquanto me colocava à frente da minha mãe, que começava a demonstrar sinais de mal-estar. Seu rosto estava pálido, e ela abanava o rosto, seu corpo ficando mole.

— Mamãe? — Eu chamei, a preocupação tomando conta de mim.

— Ele... ele é um dos principais acionistas... Arthur Duvall... seu pai devia muito dinheiro a ele... — ela respondeu com dificuldade, sua voz enfraquecida enquanto o suor escorria por seu rosto e seus lábios perdiam a cor. — Filha, eu acho que vou...

Antes que pudesse terminar, seus olhos se fecharam, e ela desabou no chão. Ajoelhei-me ao lado dela, desesperada, afastando os cabelos do seu rosto enquanto abanava para tentar ajudá-la a recuperar a consciência.

— Mamãe, por favor, acorde! Vamos, acorde! — Eu implorei, meu coração disparado enquanto ela lentamente abria os olhos, visivelmente fraca.

— Eu vou chamar uma ambulância. — Eu peguei meu celular, pronta para discar, mas ela levantou a mão, tentando me impedir.

— Não, não precisa... — murmurou minha mãe com a voz fraca.

Nesse momento, Kate, minha amiga, se aproximou rapidamente, colocando a mão no meu ombro em um gesto de apoio.

— Amiga, deixe que eu ajude. Posso levá-la ao hospital, meu carro está aqui perto — ofereceu Kate, sua expressão carregada de preocupação.

— Eu vou junto! — Eu respondi apressada, mas Kate balançou a cabeça em negação, firme em sua decisão.

— Fique. Você precisa lidar com essa situação ou ele vai atrás de vocês no hospital — apontou Kate, lançando um olhar furioso para o homem que causava toda aquela confusão.

Ela se levantou, encarando Arthur Duvall com firmeza.

— E você, senhor engravatado, deveria se envergonhar por invadir um funeral de forma tão desrespeitosa!

— Que este homem apodreça no inferno! — Arthur declarou com frieza, sua voz ressoando pelo local como uma sentença.

O som de murmúrios tomou conta do ambiente. Algumas pessoas arfaram em choque, enquanto outras soltaram risadas baixas, claramente aproveitando o espetáculo.

— Como ousa dizer algo assim? — gritei, minha voz carregada de indignação. Deixei minha amiga cuidar da minha mãe e me aproximei de Arthur com passos firmes, cutucando seu ombro com o dedo. — Meça suas palavras ao falar do meu pai! Este não é o lugar para isso!

Arthur ignorou completamente minha resposta. Seus olhos frios se fixaram nos meus enquanto ele dava um passo à frente. Antes que eu percebesse, ele me empurrou com força, tirando meu equilíbrio. Meu corpo caiu ao chão, e meus joelhos bateram no solo com um impacto que arrancou um gemido de dor de mim.

— A dívida do seu pai não morreu com ele. Esteja avisada. — Arthur falou com arrogância, inclinando-se para me encarar de cima, apontando o dedo diretamente na minha direção. — Você tem até o fim do mês, Lauren. Se não puder pagar, terei que tomar medidas... drásticas.

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