Depois do anúncio do nosso noivado, senti os flashes dos fotógrafos atravessarem a sala como se fossem estrelas caindo. Havia aplausos, cumprimentos, sorrisos fabricados. Mas quando olhei para o lado, o que mais me prendeu foi o rosto dos meus pais adotivos — orgulhosos, triunfantes, satisfeitos como se tivessem acabado de consumar um bom negócio. Riam, trocavam olhares cúmplices, exibiam-se diante da sociedade como quem mostra uma obra de arte rara: “Vejam o que conseguimos”, diziam os olhos deles.
Mal sabe essa sociedade hipócrita o que aconteceu nas sombras. Mal sabem os convidados que, poucos dias antes, quando o meu namorado da faculdade entrou na sala com o pedido de casamento humilde, sincero, meus pais responderam com um “não” frio e definitivo. Mal sabem que hoje, diante da mesma gente que aplaudiu o meu choro, esses mesmos pais me entregam como quem entrega um certificado, um título de propriedade.Sento-me por trás do véu, sorrio para as câmeras, e dentr