POV HEITOR
Três meses.
Noventa dias inteiros.
Dois mil cento e sessenta horas.
E cada uma delas pesando na minha nuca como uma sentença.
A mansão está silenciosa demais. Ecoa. Até o som do gelo batendo no copo parece um fantasma se arrastando pelo chão.
Whisky desce queimando. Mas não é suficiente. Nunca é suficiente.
As luzes da sala estão apagadas. Deixo só o abajur aceso, aquela luz amarela que deixa as coisas tristes ainda mais tristes. Tem garrafas vazias jogadas no tapete persa. A gravata no chão. Uma camisa amassada pendurada no encosto do sofá.
A casa parece um retrato perfeito de mim. E a culpa… A culpa é um animal enorme sentado no meu peito, me esmagando devagar. Eu matei minha mãe. Eu matei Leyla. Ou, pior: Eu deixei que a minha obsessão destruísse tudo ao redor.
Quando fecho os olhos, vejo sangue. Vejo o carro retorcido. Vejo o investigador me encarando como se já soubesse. Vejo Isadora me olhando com aquele olhar… cansado.
E eu sei. Eu sei que fui eu. Não com as mãos,