~Na voz de Clara~O dia amanheceu luminoso, com o céu de um azul quase líquido e o cheiro do mar vindo de longe. Tomamos café todos juntos na varanda — minha mãe encantada com os arranjos impecáveis, meu pai conversando animado com o senhor Julian, e meus irmãos trocando risadas com Lorenzo, que parecia pertencer àquele lugar desde sempre.Conversando com eles, Lorenzo não era o empresário poderoso que o mundo via, mas apenas um homem comum — simples, risonho, de fala leve, que ouvia mais do que dizia. Era bonito ver como ele se encaixava entre os meus, sem esforço, como se sempre tivesse feito parte da família.Depois do café, seguimos para o centro do Rio. Passamos por vitrines elegantes em Ipanema, entre as fachadas da Louis Vuitton, Dolce & Gabbana e Gucci, que reluziam ao sol. Entramos também na Maison Bianchi, a loja que Lorenzo mantinha no Rio, com o mesmo requinte das de Londres, Lisboa, Nova York, Milão, Paris e tantas outras cidades onde sua marca brilhava. Havia ainda lojas

Era minha mãe.Ela entrou silenciosa no quarto, e eu a vi pelo espelho. Usava um vestido longo, de um azul profundo, feito sob medida por Graziela — um modelo exclusivo, de corte impecável e leve brilho acetinado que refletia a luz dourada do entardecer. O tecido parecia se mover sozinho, fluido, elegante, quase etéreo. Nas mãos, uma clutch de veludo marinho, adornada por fechos em cristal.As joias eram discretas, mas de um luxo inegável — diamantes lapidados em formato de gota pendiam dos brincos; no pulso, uma pulseira fina de ouro branco; e, no pescoço, uma gargantilha de pérolas raras, herdada de minha avó inglesa, uma peça antiga e impecavelmente preservada, que parecia carregar em si séculos de elegância. Minha mãe estava impecável, a personificação da sofisticação.Ao entrar, fechou a porta devagar.— Meu filho… você está lindo — disse, ajustando minha gravata com as mãos delicadas. — Estou orgulhosa de você. Meu primogênito… casando-se. — A voz vacilou no fim da frase.Ainda

Enfim casados.O som dos aplausos tomou conta dos jardins da mansão no Joá. As flores brancas e os arcos decorados com folhagens emolduravam o cenário perfeito — elegante, romântico e repleto de emoção. Clara, ao meu lado, irradiava serenidade. O vestido feito sob medida por Graziela parecia uma extensão da luz, e o véu, leve como brisa, deslizava atrás dela com graça.Três repórteres — apenas os autorizados por minha mãe — se aproximaram com discrição, respeitando o instante. Tudo havia sido cuidadosamente planejado.— Senhor Bianchi, que cerimônia maravilhosa! E que surpresa revelar a gravidez da sua esposa assim, diante de todos — comentou um deles, com um sorriso cordial.— A gravidez da minha esposa não é exatamente uma surpresa — respondi, mantendo o tom sereno. — Os mais próximos já sabiam. Inclusive, Clara completa quatro meses amanhã — finalizei, olhando para ela com ternura.— E a senhora, Clara Bianchi, como se sente diante de tudo isso? — perguntou outro repórter.— Realiz

Dormimos apenas algumas horas. O céu ainda guardava os últimos tons azulados da noite quando madrugamos para não perder o voo. Lá fora, o som das ondas batendo nas rochas era quase hipnótico, como se o mar se despedisse de nós.Enquanto Clara se arrumava, com os olhos ainda sonolentos e o rosto iluminado pela luz suave do amanhecer, enviei uma mensagem para Alerrandro pedindo que, assim que acordasse, providenciasse as passagens de volta de James e Rafaela para Nova York. Logo em seguida, escrevi para Wagner, solicitando que organizasse com os motoristas o retorno da família de Clara ao sítio — queríamos garantir que tudo estivesse resolvido antes de partirmos.Peguei as malas e, antes de descermos, Clara foi até o quarto de hóspedes onde seus pais dormiam. Ficou alguns minutos ali, ajoelhada ao lado da cama, pedindo a bênção e se despedindo com a voz embargada. O gesto, simples e profundo, me fez amá-la ainda mais.Quando chegamos à sala, minha mãe já estava acordada. Sentada no sofá

A lua nascia preguiçosa sobre o mar das Seychelles, derramando seu brilho prateado sobre a areia fina, como se abençoasse nossa primeira noite de lua de mel. Pedi ao gerente pessoal da ilha que preparasse algo especial — um jantar à luz da lua, ao ar livre, à beira da praia. Ele não mediu esforços. Quando chegamos, o cenário parecia saído de um sonho: uma mesa baixa, feita de madeira clara, cercada por almofadas brancas e luminárias de bambu que tremeluziam com o vento suave. Tochas acesas delineavam o caminho até o mar, e pétalas de hibisco se misturavam à brisa salgada.O aroma de especiarias e leite de coco tomava o ar. Serviram-nos uma entrada de salada de polvo com limão fresco e ervas locais, seguida por lagosta grelhada com molho de gengibre e arroz de coco. Para acompanhar, vinho branco gelado e um toque de frutas tropicais — manga, abacaxi e maracujá, típicos das ilhas. Clara se sentou diante de mim, branca, com a pele delicadamente iluminada pela lua. Seus cabelos vermelhos