VITÓRIA:  Olhei para meu tio sem entender a que ele se referia. Era claro que já havia sido provado que eu não cometi adultério graças ao gênio da tecnologia, Ricardo Montiel, meu agora falso esposo. Sem ele, eu não teria conseguido sair desta situação. Agora estava claro para mim. Foi então que meu tio continuou expondo todos os roubos que Carlos e Ana haviam cometido.  Fiquei assombrada ao ver muitas coisas que Ricardo havia descoberto, além das que eu mesma havia descoberto. Quase me levam à falência e eu nem sabia.  Carlos, meu ex-marido, o homem que jurou me ajudar contra o mundo, nunca havia trabalhado, sempre inventando uma empresa diferente que nunca decolou, mas parecia ter encontrado sua vocação em me destruir. Ao longo dos anos, aprendi a esconder coisas, a aparentar ser o que não era, e, junto com Ana, a “melhor

VICTORIA:O trajeto até a empresa parecia interminável. A noite anterior ainda vibrava na minha memória, com os ecos da paixão que havíamos compartilhado. No entanto, aqui estava eu, sentada no banco de trás do carro do meu tio Alberto, com Ricardo à frente, imóvel e concentrado no seu telefone. A opaca cortina de silêncio entre nós me paralisava. Se ele não reconhecia, não seria eu quem o faria. — Tio, você pode me passar todas aquelas informações sobre o desfalque que você apresentou no julgamento? — perguntei, tentando me manter ocupada e não nas imagens que minha mente trazia. Meu tio olhou para seu assistente, Javier, que dirigia com o olhar fixo na estrada. Antes que pudesse alcançar a maleta que me indicava, meu telefone se encheu de notificações. Ao pegá-lo, olhei para Ricardo, surpresa; sua e

VITÓRIA:Ricardo soltou uma risada suave, quase zombeteira, que me fez ferver de raiva. Parei de comer e o encarei com incredulidade. Ele realmente achava que eu estava com ciúmes de Isabel? Embora não a tivesse mencionado, era ela quem sempre estava por perto. E mesmo que não a tivesse mencionado, nós não éramos realmente nada, apenas um contrato; ele não deveria zombar de mim daquela forma.  — Vitória, não nos enganemos — disse, com seu sorriso petulante e arrogante. — Eu vi como você olha para Isabel quando ela está perto de mim. E a forma como você reagiu esta manhã me disse tudo...  — Isso não tem nada a ver com Isabel — o interrompi, levantando-me de repente. — Tem a ver com o fato de que você pretende usar o único recurso que meus pais protegeram para mim. E não só isso, não vo

VICTORIA:Não deixei que Javier, o assistente do meu tio, ficasse comigo. Despedi-o na porta e adentrei na enorme mansão vazia dos meus pais, onde vivi os melhores momentos da minha vida. Dediquei-me a abrir todas as cortinas do grande salão, deixando entrar a luz do pôr do sol. Descobri todos os móveis por toda a casa; acendi as luzes, sentia que a casa deveria recuperar sua vida até que cheguei ao quarto principal, o dos meus pais. Parei um momento, mas abri a porta de golpe e entrei. Tudo estava igual, como se o tempo tivesse parado. Tudo estava carregado de recordações. Cada canto daquele quarto parecia guardar as risadas e as discussões de quem tinham sido os pilares da minha vida. Fiquei parada em frente ao enorme espelho que minha mãe adorava, observando e precisando me convencer de que superaria tudo isso. Que não ia perder tudo pelo qual eles haviam lutado do nada. Aproximando-me da penteadeira, percebi que a caixa de joias ainda estava lá, intacta. Abri a tampa e vi os c

VICTORIA:O ruído insistente do ar-condicionado preenche o silêncio do escritório. Minhas unhas batem levemente na superfície da mesa enquanto a fúria se apodera de mim. A forma como Ricardo manobra as coisas se sente profundamente pessoal; cada movimento dele é calculado para me lembrar que, embora carregue meu sobrenome, já não sou dona de nada, nem mesmo das minhas próprias decisões. Desço para o estacionamento a contragosto, meu olhar fixo no chão como se os ladrilhos fossem o único refúgio da minha raiva. Ali está Ricardo, encostado em seu carro preto, fumando como se fosse o rei do mundo. Ao me ver, apagou seu cigarro e esboçou um meio sorriso que só logra me irritar ainda mais. —Suba —diz com desdém, abrindo a porta do carona. —Posso ir no meu carro —respondo em troca, embora saiba que é uma estupidez. Sempre tenho a necessidade de me opor a tudo que ele me ordena. —Não estamos para caprichos, Victoria. Suba —insiste, controlando um tom autoritário que, em outro momento