50. NEGOCIANDO
VICTORIA:
O ruído insistente do ar-condicionado preenche o silêncio do escritório. Minhas unhas batem levemente na superfície da mesa enquanto a fúria se apodera de mim. A forma como Ricardo manobra as coisas se sente profundamente pessoal; cada movimento dele é calculado para me lembrar que, embora carregue meu sobrenome, já não sou dona de nada, nem mesmo das minhas próprias decisões.
Desço para o estacionamento a contragosto, meu olhar fixo no chão como se os ladrilhos fossem o único refúgio da minha raiva. Ali está Ricardo, encostado em seu carro preto, fumando como se fosse o rei do mundo. Ao me ver, apagou seu cigarro e esboçou um meio sorriso que só logra me irritar ainda mais.
—Suba —diz com desdém, abrindo a porta do carona.
—Posso ir no meu carro —respondo em troca, embora saiba que é uma estupidez. Sempre tenho a necessidade de me opor a tudo que ele me ordena.
—Não estamos para caprichos, Victoria. Suba —insiste, controlando um tom autoritário que, em outro momento