Entrei no carro com Lily sentindo que cada batida do meu coração ecoava no silêncio. As joias de mamãe ainda reluziam sobre minha pele, mas dentro de mim tudo parecia cinza.Apertei as mãos no colo, sentindo a maquiagem borrando sob os olhos marejados.— O que eu fiz, Lily, para merecer isso? — minha voz saiu embargada. — Você viu o jeito humilhante que ele entrou de mãos dadas com a Lilibet? Ele, dizendo para todo mundo que não concordava com aquele contrato arcaico, mas que, para receber a herança dele, tinha que se casar comigo… como se eu fosse um fardo, como se eu fosse escória. Por que meu avô teve que assinar esse contrato com o avô dele? Por quê?As palavras me atravessavam como lâminas.— Por que a Lilibet sempre cruza o meu caminho, Lily? — continuei, apertando ainda mais os dedos. — Por que ela nunca some? Por que ela sempre tem que estar no momento que eu menos preciso dela?Lily pousou a mão suave sobre a minha, a voz serena, mas firme

A Capela do HospitalO corredor do hospital parecia infinito. Cada passo ecoava dentro da minha cabeça como marteladas. Eu tinha as mãos frias, o coração acelerado. A ambulância com meu avô tinha acabado de chegar, os médicos o levaram direto para o setor de emergência e eu fiquei… à deriva.Foi então que vi a porta de madeira aberta, uma plaquinha discreta: Capela. Entrei sem pensar. O ar lá dentro era outro, mais pesado, mas também mais silencioso. Velas acesas tremulavam na lateral do altar. Uma imagem de Cristo de braços abertos parecia me observar.Me ajoelhei no primeiro banco, os cotovelos apoiados, as mãos escondendo o rosto. A voz saiu baixa, quase um sussurro:— Eu nunca conversei com você… nunca achei que precisaria. Sempre acreditei que fosse invencível. Mas esse é o nosso erro, não é, Jesus? A gente achar que é eterno. Primeiro perdi meus pais. O vovô me criou com a vovó. Eu achei que ele seria eterno… e hoje, por minha culpa, ele est

Manhã no hospital e primeiro diálogo de Leon e EvyO sol já entrava pelas janelas altas quando desci as escadas da mansão, para o café da manhã, Lily já estava sentada na sala de jantar, os cabelos desalinhados e o olhar aflito de quem não dormiu a noite toda. Assim que me viu, levantou-se rápido.— O que aconteceu, perguntei Lily?— segurando meu braço. — Ela solta uma bomba: o avô do Leon infartou depois que nós saímos da festa, teu pai passou a noite no hospital e ainda não voltou, não me deu mais notícias, estou preocupada, com Jeffrey e o Sr. Clifford Você sabe como foi aquele problema que ele teve da outra vez, e até agora não tive mais notícias.— Vou pegar minha bolsa, nós vamos agora para o hospital, vai se arrumar, que vamos juntas— respondi sem pensar. Algum tempo depois, chegamos ao Hospital do Coração, o aroma do desinfetante material hospitalar. Na recepção, perguntei por senhor Clifford; a atendente informou o andar, e nos diri

— A mesada que eu lhe dava todo mês, pelo nosso contrato de exclusividade, vai permanecer — ele respondeu sem vacilar. — Porque eu não quero que você faça programa até a criança nascer. E quando a criança nascer, nós veremos isso.Ajeitou os papéis sobre a mesa e finalizou, a voz seca:— Agora, por favor, se retire, porque mais tarde eu tenho que ir ficar com o meu avô.Lilibet arqueou as sobrancelhas e soltou com ironia:— De repente, você se tornou tão apegado ao seu avô.Leon ergueu o olhar e respondeu sem hesitar:— Eu sempre fui. O meu único problema com o vovô era aquele maldito contrato. Mas o medo de perdê-lo, quando o vi entre a vida e a morte, me mostrou que contrato nenhum vale diante da possibilidade de perder a única pessoa que eu tenho na minha vida.Respirou fundo, recostando-se na cadeira:— Com licença, Lilibeth pode ir. Mais tarde eu vou fazer a transferência para a sua conta. Procure um apartamento só para você, com dois quartos, e quando escolher, mande o corretor

Ainda no escritório, em meio a relatórios e reuniões, o telefone de Leon tocou. Era Jeffrey.— Leon, eu gostaria de falar com você antes de você ir para o hospital ficar com o seu avô. Pode me disponibilizar um tempo? — disse com a voz carregada de seriedade.Leon ajeitou a gravata e respondeu, direto:— Nos encontramos lá no hospital. Podemos falar no estacionamento. É muito urgente?— Sim. — a resposta de Jeffrey foi curta. — Eu posso ir aí?— Estou cheio de trabalho. — Leon rebateu. — Vamos nos encontrar quando encerrarmos o expediente. Você não larga o seu trabalho e nem eu.— Não pode ser dito pelo telefone? — insistiu Jeffrey.— Não. Quero conversar pessoalmente.Leon suspirou. — Está bem. Eu te aguardo no estacionamento.Horas depois, ao final do expediente, Leon saiu do prédio com a maleta em mãos, já preparado para mais uma noite ao lado do avô no hospital. No estacionamento, encontrou Jeffrey já parado, esperando.— Boa noite — disse Leon. — O que houve?Jeffrey foi direto a