Melissa Menezes Saí do meio da multidão com o coração batendo tão alto que eu tinha certeza de que todos podiam ouvir. Não era medo do escândalo, a merda já tinha explodido no ventilador. Era outra coisa: vergonha. Não da minha profissão, isso eu não escondia, nem me envergonhava de forma alguma, afinal, eu tinha escolhido isso para mim. Era vergonha de ter sido pega na mentira. Estava triste pela situação do Draiton. O que ele tanto almejava, o motivo pelo qual me contratou, para começo de conversa, iria ser quase impossível, agora ainda mais depois desse tremendo escândalo. Vergonha de ter transformado a vida de alguém num alvo de piada e risco. Vergonha estúpida de ter errado o cálculo. Vi Sharon no meio do caos, fazendo a escolta com a mesma calma prática de quem já lidou com paparazzi na Itália e com outras situações parecidas. Ela esbarrou em mim como se nada tivesse acontecido e me envolveu num abraço de lado, firme, enérgico. — Sai fora daqui. — ela murmurou, empurr

Draiton MenegaçoAquela era a minha hora. Subi no palco, ciente de que seria o último ato daquela noite.— Por favor, um minuto da atenção de vocês.Não precisava pedir. Os abutres já estavam ali, celulares e microfones apontados para mim, ansiosos.— Melissa, minha noiva, subiu aqui e disse um monte de mentiras… mas fez isso pra não me prejudicar. Essa foi a primeira vez que a vi mentir. Desde o dia em que a conheci, ela sempre foi sincera, nunca teve vergonha de admitir que era garota de programa. E não deveria ter mesmo. As pessoas se vendem e fingem, vivem casamentos de conveniência, sem amor, apenas por dinheiro. Isso jamais vai acontecer comigo e com a Melissa, pois nosso relacionamento é baseado na confiança. Eu sinto orgulho dela. Fiz uma pausa. Meu peito queimava, mas minhas palavras eram afiadas como navalha.— Se a gente sobreviver à tempestade criada hoje, nosso relacionamento será sólido. Sem mentiras, sem hipocrisia, sem falso moralismo. E aquele verme que tentou acabar

Draiton MenegaçoAlguns dias depoisNão posso negar: ver Melissa se adaptando a essa nova fase da vida me dá uma sensação de alívio. Ela não quis atropelar nada, e eu concordei. Foi natural, passo a passo. Primeiro, alugou um apartamento no Rio, não muito distante do meu. Nada de mansões, nada de luxo desnecessário, só o bastante para ela chamar de lar. Bom, por mim eu cuidaria da vida financeira dela, isso não é nada para mim, mas ela não quis, claro que mês o contrariando a vontade dela, eu a ajudo de alguma forma. Apesar de querer mimar ela de todo luxo que o dinheiro possa comprar, a atitude de Melissa me enche de orgulho.Eu quis fazer parte desse processo sem sufocá-la. Por isso mexi uns pauzinhos e consegui para ela um estágio no setor de contabilidade da Menegasso Group do Brasil. Contabilidade e advocacia estão bem ligadas, queria ajudar ela a crescer e mostrar que era muito mais do que os rótulos que tentaram jogar nela. E, egoistamente, também me dava a chance de tê-la por

Milão, Lombardia, Itália ALGUMAS HORAS ANTES DE DRAITON RECEBER A NOTÍCIA D ACIDENTE Sharon Belmont Eu estava no melhor momento da minha vida. Casei com o cara dos sonhos de qualquer garota. Médico, bem sucedido e bonito de arder o ventre. Lorenzo era do tipo que abria a porta do carro para mim, que puxava a cadeira para eu sentar e me trazia flores, junto a uma caixa de chocolates suiços que eu amava, quando saía no plantão no sábado pela manhã. Foi amor à primeira vista e fizemos tudo de maneira rápida. Nos casamos, tendo a certeza de que seria para sempre. Lembro de estar sentada em um dos bancos mais altos do Blues Canal, bar badalado em Milão, enquanto em pé de frente para mim, Lorenzo degustava um clássico Daiquiri. O bar servia drinks variados eu optei por um Belinni. Foi em um desses momentos de distração e folga, que o homem da minha vida me propôs uma viagem curta e ele me levou para Gibraltar e por lá nos casamos. A ilha pertencente ao Reino Unido, é conhecida por fazer

Sharon BelmontQuando acordei, as notícias não eram boas. Meu mundo desabou, de uma só vez eu perdi três das pessoas mais importantes da minha vida. A primeira sensação foi a de perda, um sentimento sufocante, um gosto amargo que deixava a sensação que tudo poderia ser diferente e poderia ser evitado. Em seguida, veio a raiva. Perguntei a Deus por diversas vezes, o porquê de me odiar tanto.Estava no décimo terceiro andar do hospital, se eu me jogasse, rapidamente a dor pungente que eu sentia, passaria. De uma só vez, se foi o melhor cara que eu já conheci. Lorenzo era o melhor marido que uma mulher poderia ter. Minha amiga de infância, minha irmã de toda uma vida e o meu bebê, que ainda era um botãozinho de tão pequeno, ele estava dentro de mim e não consegui protegê-lo.As duas melhores pessoas dentro do carro, partiram. Junto ao meu anjinho. As duas piores ficaram. Isabel era disciplinada, focada, estudiosa e eu uma doidivanas. Lorenzo era um homem amoroso e compreensivo. Já Dante,