Meu dia havia sido um borrão de dor e lágrimas, um pesadelo do qual eu não conseguia acordar. Eu ainda sentia o eco de sua mão na minha, fria e imóvel, quando o abracei pela última vez no quarto. Queria ter tido mais tempo. Deveria ter dito mais "eu te amo", mas a vida não dava segundas chances, não para mim.Eu estava cansada, tão cansada que cada passo parecia um esforço enorme, só queria que todos fossem embora e que eu finalmente pudesse me deitar na cama e dormir até parar de sentir aquele vazio no peito. Não queria ver ninguém, especialmente Kaian. Ele me abandonou no momento em que eu mais precisava, não esteve aqui no velório, no enterro, quando o caixão foi baixado na terra ao lado dos meus avós. Eu fiquei ali apenas com Leon organizando tudo e James me amparando como o amigo leal que sempre foi.Kaian? Sumiu como um fantasma, deixando-me com um aperto ecoando em meu peito. Como ele ousava? Como ele podia prometer ficar ao meu lado e depois desaparecer? Como meu pai disse que

Os meses pareciam ter passado voando, quando me dei conta já fazia dois meses desde a morte do meu pai, eu vinha ficando isolada do mundo enquanto tentava lidar com meu luto e a indiferença de Kaian.Ele havia me levado para sua casa depois daquela noite e eu agradeci, não sei como ficaria naquela casa com todas as lembranças me sufocando, mas ele não passava quase nenhum tempo comigo e isso fazia a casa parecer ainda maior. Eu tentava ocupar meu tempo limpando, cozinhando, plantando flores no jardim para tentar trazer um pouco de vida para aquele lugar, decorava a casa e fazia longas caminhadas, aproveitando para conhecer algumas plantas e catalogar outras, já que nunca havia entrado tão fundo na floresta.Cuidar de uma casa que não era a minha, longe dos campos da fazenda onde eu crescera, ajudava a distrair a cabeça da morte do meu pai. Pelo menos um pouco. Mas as noites eram horríveis, eu me deitava na cama enorme com o cheiro dele impregnado nos lençois, e me perguntava se algum

O mundo explodiu em chamas no instante em que os lábios de Kaian encontraram os meus, um beijo ardente que me arrancou do chão e me jogou em um abismo de desejo. Seus dentes roçaram meu lábio inferior, a língua invadindo minha boca com uma fome que me fez gemer enquanto o som ecoava entre nós como uma confissão.Meu corpo respondeu instantaneamente, o calor que já queimava dentro de mim agora se espalhou como fogo líquido, e eu soube no fundo da alma que ele dizia a verdade. A conexão que eu sentia, o arrepio na pele, o coração disparado, a necessidade insana de estar mais perto dele não era imaginação. Era real e visceral, como se nossas almas estivessem entrelaçadas por um fio que não podia ser cortado.Suas mãos deslizaram por meu rosto, descendo para meu pescoço, e eu me perdi no toque dele, no rosnado baixo que escapava de sua garganta enquanto me puxava contra ele.— Você é só minha — Kaian murmurou entre os beijos com a voz rouca e possessiva, os lábios traçando um caminho peri

A reunião estava pegando fogo, o ar na sede estava carregado de tensão e fúria, como se cada palavra fosse uma faísca pronta para incendiar o lugar inteiro. Os cinco alfas das alcatéias vizinhas estavam ali, sentados em volta da mesa de madeira antiga, os rostos marcados pela raiva e pelo cansaço, os olhos dourados brilhando com uma intensidade que eu conhecia bem a sede de sangue.Ao lado deles estavam os anciões de confiança de cada alcatéia, velhos lobos com cicatrizes que contavam histórias de batalhas antigas, murmuravam entre si, as vozes roucas ecoando no salão.A cena que havíamos encontrado no acampamento dos desgarrados ainda queimava na mente de todos, corpos dilacerados, o cheiro de sangue e morte impregnado na terra, os uivos de dor dos sobreviventes ecoando como fantasmas. Aqueles humanos os caçadores dos laboratórios haviam levado dez dessa vez e conseguido matar seis em uma emboscada covarde. Os nervos estavam à flor da pele, e eu sentia o meu lobo rosnando baixo, rasp

Há meses vínhamos rastreando os desgarrados, lobos sem alcatéia que vagavam pelas margens das florestas, oferecendo-lhes uma escolha: jurar obediência a um dos alfas, reconhecer nossa autoridade, e ganhar proteção, um lar. Ou continuar correndo riscos por conta própria, ajudando os humanos a fazerem mais descobertas contra nós.Não era caridade; era estratégia. As alcatéias estavam crescendo, ficando mais fortes, unidos contra a ameaça constante dos humanos, aqueles bastardos que nos caçavam como animais para seus experimentos doentios. Cada desgarrado que se curvava era um soldado a mais, um par de garras adicionais na luta que se aproximava.E naquele dia, o grupo que encontramos aceitou a oferta, os olhos cansados de anos de solidão brilhando com uma esperança cautelosa.— Vamos com vocês. — o líder deles disse, um lobo grisalho chamado Renn, se ajoelhando com a cabeça curvada em submissão. — Reconhecemos você como alfa. Protejam-nos e lutaremos ao seu lado.Meu peito se enchia de