AnaAssim que a porta da limusine se abriu, senti um vento frio passar pela minha pele e me arrepiei inteira. O tapete vermelho brilhava sob os holofotes, e por um instante eu achei que estava em outro mundo, aquele mundo onde eu não era só a Ana a garota boba da fazenda, mas alguém que podia roubar olhares e cochichos de gente importante só por existir. Ao meu lado, Lex parecia perfeitamente em casa. Ombros erguidos, olhar seguro, terno impecável. E eu? Eu tentava disfarçar o coração disparado e manter o queixo erguido como se fosse normal estar ali.Mal a gente deu os primeiros passos dentro do salão, percebi um detalhe que me fez quase tropeçar no salto. As mesmas mulheres do comitê que tinham me tratado como se eu fosse a copeira… estavam trabalhando. Uma delas, de vestido longo e salto caríssimo, equilibrava uma bandeja cheia de taças de espumante, sorrindo com os dentes duros demais pra parecer natural. Outra, que antes me mandou limpar banheiro, recolhia casacos e bolsas das

LexO som dos aplausos ainda ecoava no salão quando devolvi o microfone. Fiz questão de manter a postura, sorrir para a multidão e descer os degraus com calma, como se meu coração não estivesse acelerado demais por causa de uma única pessoa.Ana. Ver ela tão feliz por mim me deixou um pouco…como posso dizer. Um pouco metido.Quem eu to querendo enganar, eu estava bem metido, como se tivesse acabado de me tornar campeão em algum esporte, ver o orgulho nos olhos dela me deixou no céu.Eu estava me sentindo. Nada melhor do que receber um prêmio de surpresa na frente da garota que a gente gosta, ajuda a levantar a moral…e deixa ela pensando “Nossa esse Lex é incrível mesmo!” Fazer doações nunca tinha sido um motivo de me sentir superior ou fazer as pessoas pensarem qualquer coisa que seja de mim, mas hoje, tudo parecia diferente, graças a minha companhia que me aplaudiu como se eu tivesse ganhado um Oscar.Se todos do evento começarem a gritar em coro “Lex!Lex!Lex!” eu não me surpreende

AnaEu passei a semana inteira com o celular na mão, mas sem coragem de encostar no botão verde. Era como se cada toque que vinha me lembrasse do erro mais estúpido que eu já tinha cometido na vida: beijar o Lex sem pensar.Na segunda-feira, a tela piscou com o nome dele. “Lex está ligando.” Eu vi. Eu ouvi. Eu tremi. Mas não atendi.Na terça, veio de novo. “Lex está ligando.” Eu já sabia o toque de cor, podia jurar que até o coração dele pulsava junto com o meu naquele som insistente. Ignorei de novo.Na quarta, ele tentou mais uma vez. E na quinta também. Em alguns momentos, o telefone ficava mudo, mas logo depois vinha uma mensagem dele. Curta, direta, como se tentasse não me pressionar.“Preciso falar com você.”“Está tudo bem?”“Ana, me liga quando puder.”Eu lia todas. E apagava como se isso fosse apagar também a vergonha que me queimava por dentro. Mas não apagava.Na sexta-feira, eu já tinha um ritual: celular no silencioso, virado pra baixo, como se isso fosse me proteger. O p

AnaEu já tinha me arrependido de aceitar ir antes mesmo de colocar o pé fora da cama, mas eu não tinha muitas opções…mesmo ele sendo irritante eu preciso pagar as minhas contas. Almoço importante. Importante para quem? Pra ele, claro. Pra mim era só mais um teatrinho chique em que eu ia sorrir, fingir ser a funcionária exemplar e rezar pra não tropeçar no salto.Levantei xingando toda a linhagem de Lex e fui me arrumar. Meu reflexo no espelho parecia tão irritado quanto eu. Passei a base no rosto como se estivesse pintando uma armadura.—Ele acha que pode me dar ultimato, é? –Rímel, batom, cabelo preso com spray até não sobrar um fio rebelde. Pronta. Ou pelo menos pronta pra disfarçar a vontade que eu estava por dentro de dar um soco na cara dele.Peguei minha bolsa, enfiei o celular dentro com mais força do que precisava e saí da kitnet. O táxi já me esperava na frente do prédio. Entrei batendo a porta com vontade, como se fosse a cara de Lex.— Pra onde, moça? — o motorista pergu

AnaEu sabia que ia ser difícil, mas não tinha ideia de que seria um desafio olímpico. Segurar a língua enquanto Lex fazia charme na frente dos acionistas era pior que tentar equilibrar uma taça de champanhe numa montanha-russa.Os convidados começaram a se acomodar, todos com aqueles sorrisos treinados e vozes graves de gente que acha que manda no mundo. Lex parecia no habitat natural dele, conversando com cada um como se fossem velhos amigos, rindo em tom baixo, batendo levemente no ombro de outro. Eu, por outro lado, me sentia como uma figurante perdida em cena errada.— Então, Lex, essa é a famosa Ana? — perguntou um dos homens, olhando pra mim com aquele ar de avaliador de pedigree.Eu congelei. Famosa? Eu?Lex sorriu, tranquilo, como se aquilo fosse a coisa mais natural do planeta. — Sim, essa é a Ana.Aquela confirmação me fez tossir de leve, como se tivesse engasgado com nada. Eu estava prestes a corrigir, abrir a boca e explicar que não, que eu não era “a famosa Ana”, que não