Alguns nomes nascem para atravessar o tempo. Não são apenas sons repetidos em documentos ou manchetes; são símbolos que carregam dentro de si histórias de conquistas, quedas, paixões e cicatrizes. O sobrenome D’Abruzzi é um desses nomes. Um nome que nunca entra em um lugar em silêncio. Um nome que abre portas e desperta temores, que atrai olhares de respeito e, ao mesmo tempo, de inveja.Durante anos, esse nome esteve ligado a um homem: Victor D’Abruzzi, o bilionário implacável que transformou empresas em impérios e que acreditava que controlar era a única forma de sobreviver. Ao seu lado, esteve Alicia Parker, a advogada brilhante que provou que a força pode se esconder na serenidade e que o amor, quando verdadeiro, é capaz de atravessar muralhas de gelo. Juntos, escreveram uma história que não foi fácil, nem perfeita, mas foi deles. Uma história de luta, desejo e escolhas que desafiaram o destino.Mas o tempo, implacável e inevitável, não se curva diante de nenhum império. Ele avança

A noite do evento terminara havia poucas horas, mas Helena Costa ainda não conseguia dormir. Estava deitada em seu pequeno apartamento alugado em Bloomsbury, olhando para o teto, enquanto a luz da rua entrava pela janela e riscava linhas amareladas nas paredes descascadas. Londres era uma cidade cruel para quem não tinha sobrenome, pensava. Cada passo custava caro; cada conquista parecia menor do que deveria. E, ainda assim, ela estava ali. Fechou os olhos e a lembrança voltou com nitidez: o palco iluminado, o brasão da Fundação Parker D’Abruzzi, o discurso impecável de Victor D’Abruzzie Junior. Ela não podia negar: ele falara bem. Não de forma ensaiada como os políticos que colecionava em seus cadernos de críticas, mas com uma segurança que parecia natural. Havia nele uma gravidade que prendia o público, um magnetismo que não se aprendia em faculdades. Era algo herdado, talvez — uma mistura da imponência do pai, de quem já ouvira falar e

Victor D’Abruzzie Junior estava sozinho em seu escritório, no 25º andar do prédio espelhado que abrigava parte das operações da família em Londres. A noite se derramava pelas janelas amplas, e a cidade parecia um tabuleiro iluminado. Ele tirou a gravata, recostou-se na poltrona de couro e fechou os olhos por um instante. Não queria, mas a lembrança voltava. Helena Costa. A jovem de blazer preto simples, coque malfeito e olhos firmes que não se deixaram intimidar por seu sobrenome. Havia nela algo que contrariava todas as expectativas que ele aprendera a nutrir sobre mulheres. Victor conhecia bem o efeito que causava. Sempre soubera. Desde cedo, mulheres mais velhas o olhavam com curiosidade; mais tarde, quando sua beleza amadureceu junto com a fortuna que herdara, o olhar se tornou convite. Eram modelos em jantares de gala, advogadas recém-formadas querendo status, socialites que suspiravam por entra

O jardim da mansão em Kensington estava lavado pela chuva recente, e o cheiro de terra úmida subia pela varanda como uma lembrança antiga. O crepúsculo se derramava em listras lilases entre as copas das tílias; lá dentro, as luzes, baixas, deixavam a casa inteira com um ar de confidência. Alicia serviu chá para si, vinho para ele, e esperou. Não falava quando o silêncio ainda tinha trabalho a fazer.Victor cruzou a biblioteca com a gravidade de sempre. Tirou o paletó, afrouxou a gravata, pousou o copo de vinho na mesa lateral e parou diante da janela. Tinha essa mania — medir o mundo com os olhos antes de medir as palavras. Alicia, que o conhecia como se tivesse sido a primeira a inventá-lo, decidiu ser generosa com o tempo. Só depois se aproximou, sustentando o olhar com a brandura de quem sabe o peso do outro.