MADISSONAcordei com a cabeça latejando como se um grupo de duendes tivesse armado um show de rock entre os meus olhos e minhas têmporas.A luz que entrava pela janela era ofensiva. Claramente pessoal. Tentei me esconder debaixo do travesseiro, mas o cheiro de vinho me atingiu primeiro.— Urgh...Demorou uns bons segundos até o cérebro começar a funcionar, e mais alguns para as imagens da noite passada deslizarem pela minha mente.A música. As risadas. As luzes. O vestido bonito que ficou desconfortável rápido demais.E o pedido de casamento.Kael ajoelhado no palco, colocando um anel no dedo da garota loira perfeita, sob aplausos e flashes de celular.Ai, meu Deus.A cena voltou inteira, como uma chicotada emocional bem no meio da minha dignidade.Eu saindo correndo da festa como uma maldita adolescente apaixonada vendo seu crush se interessar por outra.Patética. Isso que eu fui.Patética.Revirei os olhos, tentando ignorar o nó no estômago. Um, definitivamente, causado pela ressaca

MADISSONTerminei de guardar meu último livro no armário, empurrando a porta com um pouco mais de força do que o necessário. O barulho ecoou pelo corredor quase vazio, mas ninguém pareceu notar, o que era bom. Eu precisava de silêncio. De espaço. De tempo para entender o que, exatamente, estava acontecendo com minha vida.A conversa com a minha mãe e com a Gwen ainda rodava como um disco arranhado na minha cabeça. Gwen sempre foi boa em virar o jogo a favor dela, mas hoje foi diferente. Tinha algo de venenoso nas palavras, um tom afiado demais para ser só uma birra entre irmãs. Eu a vi manipulando nossa mãe com a facilidade de quem está acostumada. E pior, ela gostou. Está se transformando em alguém que eu, sinceramente, não gostaria de ter por perto.Suspirei. Nem peguei carona com ela hoje, preferi vir de bicicleta, o vento na cara era melhor companhia que qualquer um. Também não fui treinar no ginásio da universidade no primeiro período. Não queria correr o risco de cruzar com ele.

KAELAcordei com a sensação familiar, ardente, quase incandescente, bem no quadril.A maldita marca de meia-lua.Ela queimava como se quisesse lembrar que ainda estava ali, que ainda era real. Mesmo quando eu tentava negar. Mesmo quando fingia que podia ignorar.Rolei na cama, o rosto afundado no travesseiro, tentando afastar o eco daquele sonho. Ou melhor… pesadelo.O rosto da garotinha, os olhos arregalados de terror enquanto chamas consumiam tudo ao redor. Ela estendia as mãos para mim, chamando meu nome. “Kael, me ajuda...”Eu nunca consegui alcançar.O zumbido do celular me arrancou de vez da memória. Alcancei o aparelho no criado-mudo com