-POV: Nymerra- Fechei a porta do quarto com cuidado, depois de verificar que Artemísia finalmente havia adormecido. O rosto dela ainda estava marcado pelo choro, mas a respiração estava tranquila. Ela merece esse descanso. Depois de tudo. Caminhei pelos corredores da Residência Alfa com passos firmes. O sol já começava a se inclinar no céu, anunciando a aproximação do meio-dia. Mesmo no inverno, Garra Dourada oferecia um calor suave, quase acolhedor. Diferente do frio cortante de Umbra. Encontrei Lioran nos jardins. Conversava com Sylvia, sentado em um banco sob a sombra de uma árvore frondosa. Ela sorria com doçura, os olhos azuis brilhando como se o mundo fosse feito de primavera. Me aproximei, séria. Sem rodeios. — Desculpem por interromper — disse, mantendo a formalidade. — Mas preciso tratar de alguns assuntos com o Alfa Líder Lioran. Sylvia se virou para mim com gentileza. — Não tem problema algum. Ele é todo seu. Lioran se despediu dela com um beijo leve na mão e s

POV: ArtemísiaO quarto estava escuro, mas não frio. A lua cheia ainda iluminava parte do chão, como se me observasse. Deitei, mas o sono não veio de imediato. A mente girava. As peças se moviam. E pela primeira vez, eu sentia que estava no centro de algo muito maior.Não era só sobre Lioran. Não era só sobre o amor que não vingou. Era sobre mim. Sobre o sangue que corre em minhas veias. Sobre a loba que carrega o nome de uma deusa. Sobre o destino que eu tentei rejeitar... mas que talvez tenha me escolhido mesmo assim.Fechei os olhos. E deixei que Freya me envolvesse. Não como fera. Mas como guia.*O dia seguinte chegou com pressa. O céu ainda estava tingido de azul pálido quando encontrei Nymerra no corredor, já com as malas prontas. Ela me lançou um olhar firme, mas havia cansaço nos ombros. Talvez não só físico. Talvez emocional.Descemos juntas para a sala principal. Todos estavam lá. Prontos para partir.Lioran se despedia da mãe com um abraço contido. Selene sorria, mas s

POV: LioranOs dias passaram como névoa. Cinzas. Silenciosos. Sem forma.A Residência Alfa estava cheia como nunca esteve antes: Sylvia, Serys, os funcionários, até Daimon ainda circulava por ali. Mas tudo parecia... vazio. Como se faltassem peças. Como se a estrutura estivesse intacta, mas o coração tivesse sido arrancado.Eu acordava com Sylvia ao meu lado. Ela sorria. Me tocava com carinho. Me chamava de “meu Alfa”. Mas havia algo estranho. Algo que não encaixava.Às vezes, eu sonhava. Sonhos desconexos. Fragmentos. Uma floresta escura. Uma loba negra correndo. Olhos âmbar me encarando com dor. E uma voz, sempre a mesma, dizendo: “Eu não quero olhar para sua cara nunca mais.”Acordava com o peito apertado. Com a sensação de que havia perdido algo que não sabia definir. Sylvia dizia que era só o estresse, com as novas mudanças. Que tudo ficaria bem depois do casamento. Que o laço nos fortaleceria. Nos estabilizaria.Mas eu não me sentia instável. Eu me sentia anestesiado.No escritó

-POV: Daimon-Voltar para a Residência Alfa depois da conversa com Artemísia foi como atravessar um véu. O ar ali parecia mais denso. Mais silencioso. Mais... vazio.Assim que entrei, vi Lioran descendo as escadas, provavelmente saindo do escritório. A postura dele era rígida, mas havia algo nos olhos, uma sombra que não era comum.— Lioran. — cumprimentei, com um aceno leve.— Daimon. — ele respondeu, com um tom neutro. Depois, acrescentou: — Que bom que chegou. Serys saiu para resolver algumas coisas e Sylvia foi dar uma volta. Estava me sentindo só.A frase ficou no ar. E eu senti. Não era só sobre a casa vazia. Era sobre ele. Sobre o buraco que crescia por dentro.— Fui até uma cafeteria no centro Ômega — respondi, casual. — Mas acho que vou passar o resto do dia resolvendo umas coisas pelo computador.Na verdade, eu pretendia passar o dia mergulhado em mitologia, profecias, e tudo que envolvesse Fenrir e Freya. Mas Lioran não precisava saber disso. Ele não saberia o que fazer com

POV: ArtemísiaO cheiro de pão fresco e chá de camomila preenchia a cozinha do Abrigo Lua de Cristal. Era um daqueles raros momentos em que o dia começava com calma. Aiden já estava à mesa, devorando uma fatia generosa de bolo de milho. Diana preparava o chá com movimentos precisos, como sempre, sem pressa, mas sem hesitação.Entrei e me sentei ao lado do meu irmão. Ele me lançou um olhar rápido, com a boca cheia.— Dormiu bem? — perguntou, entre uma mordida e outra.— Dormi o suficiente. — respondi, servindo-me de uma xícara.Diana se juntou a nós com seu semblante habitual: firme, contido, quase impenetrável. Mas havia algo no ar. Talvez fosse o silêncio entre nós. Ou talvez fosse a urgência que crescia dentro de mim.Esperei alguns minutos, deixei o café da manhã se desenrolar com naturalidade. E então, toquei no assunto. Com cuidado.— Mãe... Você lembra do dia em que o pai partiu?Diana parou por um segundo. A xícara suspensa no ar. Depois, pousou-a com delicadeza.— Por que essa