Narrado por CamilaO celular vibrou em cima da cama enquanto eu organizava minhas anotações no caderno. Era uma tarde tranquila, silenciosa, perfeita para escrever. O sol entrava suave pela janela, e minha mente ainda borbulhava com as ideias que Gabriel tinha me inspirado na noite anterior. Estava leve, animada, e principalmente: confiante com o que eu tinha produzido nos últimos dias.Peguei o telefone sem pressa, ainda sorrindo, mas ao ver o nome no visor, um frio percorreu minha espinha.Eduardo – Editor.— Alô? — atendi, ajeitando o cabelo atrás da orelha.— Camila? — A voz dele veio carregada de tensão, dura e ríspida. — Podemos conversar?Sentei na beirada da cama, tentando entender o tom.— Claro. Está tudo bem?— Não exatamente. Acabei de ler o arquivo que você enviou ontem. E… eu estou preocupado.— Preocupado? — franzi a testa. — Eu revisei tudo, Eduardo. Passei dias imersa naquele texto. Era o melhor que eu tinha feito em muito tempo.Houve um silêncio do outro lado. Então

O céu da cidade começava a escurecer lentamente, tingido por tons dourados e alaranjados. A pousada simples, com suas luzes baixas e decoração rústica, parecia um lugar perdido no tempo. Lucca parou o carro em frente ao portão de madeira, desceu com passos firmes e respirou fundo antes de seguir até a recepção. — Boa noite, estou procurando por Mariana Nogueira — disse, cordialmente, ao recepcionista. — Quarto 4. Segunda porta à esquerda no corredor de cima — respondeu o rapaz, sem levantar os olhos do computador. Lucca subiu as escadas de madeira lentamente, os degraus rangendo sob seus pés. Quando parou diante da porta, hesitou por um segundo. Bateu duas vezes. — Quem é? — a voz de Mariana veio abafada lá de dentro. — Lucca. Podemos conversar? O silêncio do outro lado durou longos segundos, até que a maçaneta girou e ela abriu a porta com expressão cética. — Que surpresa... pensei que tivesse me abandonado nesse buraco. — Só vim ver se você está bem — respondeu ele, c

A semana havia passado como um vendaval. Entre revelações, tensão, reencontros e segredos, os dias na casa de campo pareciam ter durado uma eternidade. Agora, com a reforma quase finalizada e os ânimos mais controlados — ao menos na superfície — era hora de cada um voltar à sua vida.Na sala, as malas começavam a se acumular ao lado da porta de entrada. Clara dobrava algumas roupas em cima do sofá, enquanto Camila guardava seus livros e o notebook com cuidado. Gabriel, de pé perto da janela, observava o entardecer com o semblante concentrado. A tranquilidade da paisagem contrastava com os pensamentos agitados que tomavam conta do grupo.— Parece que foi mais de um mês, né? — disse Bruna, fechando a última mala com um suspiro.— Quando a gente vive tanta coisa em pouco tempo, os dias se arrastam. Ou voam. Ainda não sei dizer — comentou Camila, sentando-se ao lado de Clara.Lucca apareceu na porta da cozinha, secando as mãos em um pano de prato. Tinha passado boa parte do dia revisando

Os dias seguintes ao retorno da casa de campo pareceram estranhamente calmos — calmos demais.Camila estava de volta ao apartamento que dividia com Clara. Tinha aceitado o convite de Gabriel para ficar alguns dias com ele, mas preferiu não se mudar de vez. Queria manter a leveza. Eles tinham voltado a se amar, mas não estavam dispostos a apressar as coisas. Não depois de tudo.Bruna e Caio retomaram o ritmo de trabalho e rotina como se precisassem respirar normalidade. Mas havia uma tensão sutil entre olhares e silêncios. Bruna, ainda sem conseguir falar sobre seu segredo, evitava alguns temas. Caio, sensível como era, percebia que havia algo guardado… mas não forçava. Respeitava o tempo dela.Já Clara, embora tentasse focar nos últimos ajustes do novo apartamento, vivia com o coração dividido entre a paixão por Lucca e a desconfiança deixada pelas últimas semanas. Ela e Camila passavam horas em conversas à noite, tentando decifrar as entrelinhas do que viveram. A desconfiança que Mar

O dia estava prestes a escurecer quando Caio entrou em casa com o rosto tenso. A carta ainda estava em suas mãos, amassada nas bordas. Ele havia lido o texto sozinho na varanda por alguns minutos, tentando entender se aquilo era apenas mais uma provocação... ou algo mais profundo. Seu coração batia rápido, não apenas pela raiva evidente, mas pelo que aquelas palavras insinuavam.Bruna estava na sala, sentada no sofá com uma xícara de chá na mão, quando o viu entrar. O semblante dele a alertou de imediato.— O que aconteceu? — ela perguntou, sentando-se mais ereta.Caio levantou a carta e a balançou no ar com um amargor no olhar.— Chegou isso aqui hoje. E... eu preciso que você escute.Ela franziu o cenho, confusa.— O quê? É alguma cobrança?— Não — respondeu ele, com a voz grave e contida. — É pior.Sentou-se no braço do sofá, respirou fundo e começou a ler, palavra por palavra, o que estava escrito:"Engraçado o quanto um casal pode parecer perfeito por fora... Sonhos de uma famíli