GraceMuitas pessoas tinham descoberto, de algum modo, que eu permanecia escondida ali. Chegara o momento de abandonar aquele refúgio e encontrar outro destino.Mas então…Até onde eu conseguiria fugir antes que me caçassem mais uma vez?Por quanto tempo ainda conseguiria permanecer à sombra, aguardando a próxima ameaça?Permaneci na calçada, imóvel, fitando o Café adiante. A noite já descera e as ruas, consumidas pelo vento cortante, pareciam desertas.A vidraça do estabelecimento oferecia-me um quadro cristalino dos meus pais sentados à mesa. Tal como eu, eles também sustentavam o olhar, e o desprezo que lhes incendiava as pupilas resplandecia, mesmo àquela distância.Oculta no lado enegrecido da rua, soltei um suspiro pesado e semicerrei os olhos.E agora? Como deveria administrar aquela situação?Se eu lhes entregasse dinheiro, deixando claro o meu receio das ameaças, continuariam explorando as minhas fragilidades.Talvez eu devesse transformar Lily em moeda de barganha, declarar q

Eu estava amarrada outra vez, submetida a uma impotência absoluta. Contudo, apenas conseguiam deter-me fisicamente, e ninguém era capaz de invadir-me a mente nem me obrigar a ceder.— Está mesmo me fazendo essa pergunta? — Carlos bufou. — Parece que você não é tão esperta assim, Srta. Whitlock. Ainda não entendeu quem é Tristin?— Eu... entendo homens poderosos. Eles são... todos iguais. Se tiverem de escolher entre qualquer coisa neste mundo e o poder... sempre vão escolher o poder, Carlos. Isso é tudo o que importa para eles. — Murmurei, tentando reunir alguma força nos braços e nas pernas.Carlos voltou a rir. Dessa vez, a gargalhada pareceu genuína, como se escarnecesse de mim e dos meus pensamentos.— Você é interessante, Srta. Whitlock. — Ele disse. — Imagino então que acredita que Tristin não ouvirá seus apelos e, por isso, não vai cooperar conosco?— Claro que não. — Sussurrei, interrompendo minhas tentativas. — Por que... você precisa que eu... fale com ele? Se quiser...— É o

GraceNa vida…Eu sempre me deixara surpreender pelas minúcias.Qualquer verdade revelada, qualquer segredo sussurrado, qualquer acontecimento imprevisto possuíam o poder de paralisar-me ou de atirar-me em pânico, e era o espanto quem assumia o controle.Contudo, quando a ligação se cortara e a gargalhada de Carlos começara a reverberar pelo alto-falante do outro aparelho, forcei-me a procurar a mesma surpresa.É amor, ele dissera. Ele não consegue esquecer-me porque…Ele me ama.Eu deveria ter ficado chocada, entregue à negação diante de uma confissão tão súbita, mas isso não aconteceu. Em vez disso, meu coração martelava no peito como se pretendesse arrebentar minhas costelas.Era como se eu já soubesse do sentimento dele, mas jamais me permitira acreditar, e agora eu acreditava, porque ele declarara que me ama.Os homens mascarados deixaram-nos exatamente onde estávamos e recuaram para o canto, instalaram-se em torno de uma mesa e passaram a jogar pôquer.Tristin prometera que chega

GraceOs braços de Tristin se apertaram em torno de mim, trazendo-me para mais perto, enquanto o hálito cálido dele roçava o meu ouvido.Tentei descobrir o que acontecera, quem fora baleado, porém Tristin não permitiu.— Fique quieta. — Sussurrou ele. — Apenas permaneça assim.Aspirei o perfume marcante dele e senti o coração dele bater em compasso com o meu.O caos parecia ter cessado e eu julgava estar segura. Nada mais ocorreria.Ofeguei contra o peito dele e fechei os olhos. A dor, antes abafada pelo medo, começou a registrar-se em todos os cantos do meu corpo e... ardia como fogo infernal.Passos apressados repercutiram pelo galpão. Abri os olhos e, com esforço, afastei a cabeça do peito de Tristin.O homem mascarado mancava em direção ao outro extremo, enquanto Ethan o seguia com a arma erguida, mirando-lhe as costas.Meu coração afundou quando um novo disparo ribombou. A bala se cravou nas costas do agressor; o corpo dele tombou, e o sangue se espalhou pelo chão cimentado.No in

GraceCinco dias depois…Alma não apareceu naquela manhã. Partira logo após ouvir o que eu dissera, e aquilo pareceu satisfazê-la. Eu simplesmente sabia.Tristin, em contraste, manteve-se calado. Não me dirigiu uma só palavra, porém igualmente não me abandonou.Os médicos afirmaram que eu precisaria de uma semana inteira no hospital e, durante esse período, Tristin se recusou a dormir sequer uma noite em casa. Ele passava rapidamente pelo escritório, resolvia pendências, e Luca lhe trazia roupas e documentos até o quarto; dali mesmo ele trabalhava.Eu me irritava com ele na maior parte do tempo, contudo não quebrei o silêncio que nos envolvia.Eu lhe dissera todas aquelas verdades, e ele não reagira de forma alguma. O mutismo dele parecia um desafio — afaste-me de você, se conseguir — e isso me deixava à beira da frustração.À noite, Tristin ocupava o sofá, assombrando meus pensamentos. Eu já não sabia como livrar-me daquela presença obstinada.— Como está se sentindo hoje, Grace? — A