Reflexos de Um Novo HomemO carro deslizava silencioso pela estrada de volta a Boston, enquanto os prédios da cidade iam surgindo no horizonte, acompanhados pelo burburinho cada vez mais intenso da vida urbana. No banco do passageiro, Philipe estava pensativo, o olhar fixo na janela como se ainda estivesse vendo Robert em pé, diante dos vereadores, com o livro nas mãos, o olhar firme, a voz segura. Paul dirigia em silêncio, respeitando o tempo do irmão.— Ele mudou mesmo — Philipe quebrou o silêncio, a voz mais baixa, como se refletisse alto consigo mesmo. — Não é só discurso de político. Ele expôs o pior dele... e teve coragem de dizer que quer fazer diferente. Isso não é comum.Paul assentiu, os olhos fixos na estrada.— E não é qualquer um que assume que falhou com alguém que amava. Ele podia simplesmente seguir em frente, fingir que o passado não existiu. Mas ele quer ser melhor, principalmente pelo filho. Isso, sim, é redenção.Phili

Philipe entrou em casa com o rosto sereno, mas os olhos ainda carregavam o peso do que havia testemunhado. Assim que fechou a porta, encontrou Ashley na sala, dobrando as roupinhas novas do bebê, com um leve sorriso nos lábios e o barrigão já denunciando a reta final da gravidez.— Amor… — ele se aproximou devagar, se sentando ao lado dela no sofá. — Eu preciso te contar uma coisa.Ela levantou os olhos, imediatamente atenta.— Aconteceu alguma coisa na viagem?— Sim… e não. — Ele respirou fundo, como se ainda estivesse digerindo tudo. — Eu vi algo que me tocou. Algo que eu jamais imaginei que veria, vindo de quem veio.Ashley o observava com atenção.— Foi o Robert, Ashley. A transformação dele é real.— O Robert?Philipe assentiu.— Você precisava ter visto. Ele estava diferente. Não só na aparência mas na forma de falar, no olhar. Ele reuniu empresários, políticos, e se levantou ali, diante

A sala é acolhedora, com aroma leve de lavanda. A terapeuta sorri com empatia enquanto Elise se acomoda, um pouco hesitante, mãos entrelaçadas no colo.A terapeuta se inclina suavemente para frente e pergunta:— Elise, me diga… o que você está sentindo agora?Ela respira fundo. As lágrimas surgem sem convite. E então, ela fala — pela primeira vez, com a alma despida.ELISE — Eu não sei bem por onde começar... Talvez pelo começo. Eu conheci o Bob na adolescência. Ele era bonito, popular, encantador. Me apaixonei. A gente namorou durante anos. Meus pais não aprovavam, diziam que ele era instável, impulsivo. Mas eu não ouvia. Quando estávamos quase no fim da faculdade, ele me pediu em casamento. E mesmo contra a vontade dos meus pais, eu aceitei.Eu achava que estava fazendo a coisa certa. Amor… sabe? Eu acreditava nisso. Me casei com ele antes mesmo de colar grau. Estava tão cega, tão iludida…Três meses. Foi tudo que dur