O domingo amanheceu com o céu parcialmente nublado, como se o universo estivesse contido, respeitando o que estava prestes a acontecer. Na mansão dos pais de Philipe, tudo estava silencioso, mas com uma energia diferente. Na sala de estar, Ashley organizava os documentos que levaria ao cartório no dia seguinte, ao lado da avó, que a observava com olhos atentos e emocionados.— Você tem certeza, minha menina? — a voz doce da avó soou, segurando o chá de camomila entre as mãos.Ashley levantou os olhos e sorriu.— Mais do que nunca, vó. Eu amei esse homem quando não tínhamos nada. E agora que estamos reconstruindo tudo, sinto que estou no lugar certo. Como se tudo tivesse voltado pro eixo.O avô se aproximou com passos lentos e firmes, sentando-se na poltrona de frente para elas.— Aquele rapaz, apesar de estar quebrado por fora, é inteiro por dentro. Ele pediu sua mão de um jeito tão digno. Foi como se tivesse falado com o coração. E você merece alg

Quando o beijo foi selado sob os aplausos suaves dos presentes, Philipe encostou a testa na de Ashley, os olhos fechados, absorvendo aquele momento eterno.— Casados… — sussurrou ele, com um sorriso nos lábios. — Você é oficialmente minha esposa.— E você, meu tudo — respondeu Ashley, emocionada.Eles desceram juntos da pequena elevação onde haviam feito os votos, ela com passos leves e ele conduzido na cadeira adaptada. Ao redor, pequenas lanternas acesas pendiam das árvores, enquanto o aroma das flores frescas se misturava ao cheiro doce vindo da mesa de sobremesas montada sob a pérgula.A recepção seguiu com uma delicadeza encantadora. Os convidados se serviram de taças de suco de maçã espumante e pequenas porções de bolos artesanais. Não havia luxo, mas havia calor. Um calor humano que preenchia cada gesto, cada sorriso, cada abraço que Ashley e Philipe recebiam de seus familiares e amigos.— Você conseguiu, minha flor — disse o avô d

Philipe havia acabado de chegar em casa, após uma visita breve ao escritório para revisar contratos pendentes. Ele ainda usava a camisa social azul clara, as mangas dobradas até os cotovelos. Ashley estava na varanda com os avós, tomando chá gelado com folhas de hortelã, quando a secretária informou que uma mulher estava no portão da mansão. Disse que era urgente. Disse que era Cindy.Ashley apenas olhou para ele, em silêncio. Philipe assentiu. — Eu atendo. Não precisa se preocupar, meu amor.Caminhou até o portão com o peso da tensão sobre os ombros. Cindy estava ali, com os cabelos presos em um coque desleixado, o rosto visivelmente abatido. Não havia maquiagem cobrindo as olheiras nem salto alto sustentando a pose habitual. Estava com um vestido simples e chinelos. Havia algo quase... humano nela.— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou com firmeza, sem hostilidade, mas também sem recepção calorosa.— Eu... precisava falar com

Os meses que se seguiram ao casamento de Philipe e Ashley trouxeram paz. A vida na cobertura ganhou ritmo leve, e Ashley, cada vez mais envolvida com a gestação, encontrava nos gestos simples o sentido da felicidade. Philipe assumira compromissos com leveza, intercalando as fisioterapias com momentos ao lado da esposa. Ele voltava a andar com auxílio, e os médicos estavam otimistas quanto à recuperação total. O bebê, Felipe Benjamin, chutava com força, e cada movimento era comemorado como uma vitória da vida sobre o passado. Em uma manhã de domingo, enquanto tomavam café na varanda com vista para Boston, Ashley olhou para o marido com ternura. — Amor, eu queria te pedir algo. — Qualquer coisa — respondeu ele, com um sorriso. — A Cindy. Eu sei que ela errou muito. Mas ela está grávida... e agora está sozinha, no interior, com uma tia. Eu sei que você já fez muito, mas... gostaria que continuássemos ajudando. Não por ela, mas pelo bebê. Philipe assentiu, sem hesitar. — Já c

Enquanto Paul e Elise retomavam a rotina aos poucos, e Ashley e Philipe celebravam cada descoberta do pequeno Benjamin, um novo movimento acontecia nos bastidores — longe das salas de reuniões e dos corredores da empresa.O pai de Bob, homem de grande na política, não descansou depois do susto que Elise passou. Reuniu alguns aliados, entre eles um senador de longa data, e articulou uma saída estratégica. Não que sentisse pena do filho , mas como homem da lei e da diplomacia, sabia que a permanência de Bob na prisão poderia trazer complicações futuras — e, honestamente, não queria mais ver o nome dele envolvido com escândalos.Eles acham que venceram. Que tudo acabou porque me jogaram numa cela imunda por alguns dias, como se isso fosse suficiente pra quebrar alguém como eu.A verdade é que foi humilhante. A cela fedendo a mofo, os olhares de desprezo, os murros de presos que nem sabiam meu nome, mas sabiam o motivo de eu estar lá. Me chamaram de covarde. D