A brisa salgada da manhã invadia o quarto de hotel em Nice pelas grandes janelas abertas. Camila observava o mar azul-cobalto com os olhos perdidos no horizonte, mas sua mente estava a mil quilômetros dali — no passado, no presente, em tudo o que estava prestes a ruir.Atrás dela, Alexandre dormia, ou fingia dormir. A noite anterior fora uma mistura de explosão e silêncio. Não havia sobrado espaço para palavras entre os dois. Apenas toques. Desejo. E um vazio que os aproximava tanto quanto os afastava.Ela se vestiu lentamente, prendendo os cabelos em um coque apressado. Estava farta de correr atrás de respostas que só geravam mais perguntas. Precisava pensar. Precisava de distância.Mas antes de sair, sua mão tocou no envelope sobre a mesa de cabeceira. Alexandre havia deixado ali, sem dizer nada. Dentro, fotos antigas. Cenas de sua mãe ao lado de Rodrigo Alencar Monteiro. Beijos roubados, risos congelados no tempo. Uma delas mostrava Letícia grávida, sentada num banco de madeira em

O silêncio dentro da sala do banco suíço era quase insuportável. Camila segurava o pen drive com força suficiente para deixar os dedos dormentes. Rodrigo a encarava com olhos de aço — o mesmo olhar que tantas vezes ela vira em reportagens, entrevistas e nos recortes de jornal que sua mãe escondia.Mas ali, frente a frente, ele não era mais o magnata inatingível.Era apenas um homem velho… e assustado.— Você pensa que isso basta para me derrotar? — Rodrigo sibilou, aproximando-se. — Eu movo sistemas. Compro juízes. Apago rastros. Você não sabe o que está enfrentando, Camila.Ela sustentou o olhar.— Eu sei exatamente. Estou enfrentando o homem que arruinou a vida da minha mãe. Que pagou para que ela desaparecesse. Que colocou seguranças na porta do hospital e forjou documentos. Eu sei o que você fez, Rodrigo.— E o que você pretende fazer? — ele debochou. — Ir à imprensa? Colocar tudo em uma matéria de revista? Você acha que alguém vai acreditar em você? Uma bastarda ressentida que ap

O silêncio no apartamento de Camila era quase palpável. A luz tênue do abajur desenhava sombras alongadas nas paredes, enquanto ela encarava a carta amassada em suas mãos, o peso das palavras fazendo seu peito apertar. Leonardo estava sentado no sofá, observando-a com um misto de preocupação e impaciência.— Você não pode simplesmente ignorar isso — ele disse, a voz baixa, mas firme.— Eu sei — Camila respondeu, sem desviar o olhar da carta. — Mas tudo está tão confuso, Leo. O que Letícia queria me dizer? Por que esse segredo tão bem guardado?Leonardo levantou-se e caminhou até ela, tomando as mãos dela nas suas. Seu toque era cálido, tentando transmitir força.— Ela quis proteger você. E agora, temos que descobrir a verdade, por mais dolorosa que seja.Camila respirou fundo e assentiu. O telefone tocou, interrompendo a tensão. Era Alexandre.— Atenda — sugeriu Leonardo, dando espaço.Ela atendeu com um suspiro.— Camila, precisamos conversar. É urgente.— O que foi? — sua voz tremia

Acordar no dia seguinte foi quase como emergir de um pesadelo que não terminava. Camila sentia cada músculo tenso, como se o jantar da noite anterior tivesse sido um campo de batalha e não apenas uma conversa. As palavras de Rodrigo ainda ecoavam em sua cabeça, misturadas com as dúvidas que nunca a deixaram descansar.Leonardo já estava na cozinha quando ela entrou. Seu olhar era pesado, carregado da mesma preocupação que ela sentia.— E então? Como foi? — perguntou ele, tentando soar confiante, mas sem sucesso.Camila fechou os olhos por um instante, buscando forças.— Ele não mudou. Continua o mesmo homem que manipula as pessoas para conseguir o que quer. Mas… ele também mostrou um lado vulnerável. Aquele que ele escondeu de mim e da minha mãe por anos.— Vulnerável? — Leonardo arqueou a sobrancelha, desconfiado.— Sim — respondeu ela, sentando-se à mesa. — Disse que quis me proteger, mas me afastou para esconder segredos que nunca me contou.Leonardo apertou a mão dela, firme.— Nã

O sol mal havia despontado no horizonte quando Camila e Leonardo estavam já dentro do carro, o silêncio entre eles pesado, carregado da tensão que os acompanhava há semanas. O destino era claro, mas o que encontrariam na Suíça parecia cada vez mais imprevisível.— Sabe — disse Leonardo, quebrando o silêncio — cada vez que penso que estamos perto da verdade, sinto que ela se distancia ainda mais. É como tentar agarrar água com as mãos.Camila olhou pela janela, o reflexo da cidade passando rápido, desfocado, quase como seu próprio pensamento.— Talvez porque a verdade não seja só um fato a ser descoberto — respondeu ela, com voz baixa, quase um sussurro. — Talvez a verdade seja algo que a gente precisa criar, reconstruir, mesmo que doa.Leonardo voltou o olhar para ela. Naquele instante, o que os unia não era só o perigo ou o mistério, mas a fragilidade e a força entrelaçadas na alma daquela mulher que ele amava, mesmo que o ódio e o desejo os tivessem guiado até ali.O voo para Zuriqu