Janete Narrando Depois de tudo que eu passei lá no morro do Pantera, a única coisa que eu queria era voltar pra minha rotina. Voltar pra minha zona de conforto, sabe? Então, assim que amanheceu, eu juntei minhas coisas e voltei pro meu apartamento. Só de entrar ali, sentir meu cheiro, minhas coisas no lugar, já me deu uma paz que eu nem lembrava mais como era.Decidi que hoje eu ia trabalhar no escritório. Não dava pra ficar me escondendo do mundo pra sempre, né? A vida segue, e eu precisava focar em mim, nas minhas metas, no que eu sempre lutei pra construir. Antes de ir direto pro trampo, resolvi passar na minha cafeteria preferida, aquela que já sabia até o meu pedido sem eu precisar falar.Assim que entrei, o cheirinho de café fresco me abraçou de um jeito tão gostoso que até meu humor melhorou. Pedi meu capuccino reforçado, daquele que parece um abraço na alma, e sentei numa mesinha de canto enquanto esperava. Fiquei ali olhando o movimento da rua pela vitrine, pensando em tudo

Janete narrando Quando eu vi o Pantera parado no meio da rua, meu coração gelou. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele ia me encontrar, mas não tava pronta pra encarar ele ainda. Só que o jeito como ele me olhou, como veio na minha direção sem pensar duas vezes… mexeu comigo. De novo.Eu tentei manter a postura, fingi que tava tudo sob controle, mas por dentro eu tava um furacão. Quando ele começou a falar, todo bolado, perguntando por que eu sumi, senti o peso da culpa batendo forte no peito. Ele tava certo.Eu só queria respirar, pensar, entender tudo o que tava sentindo depois daquela noite no baile, depois dos tiros, do esconderijo, de acordar com ele do meu lado como se tudo fosse normal… mas não era.E quando ele disse que ia junto comigo, mesmo eu querendo resolver as coisas sozinha, eu quase desabei ali. Porque no fundo, eu queria isso. Eu queria ele comigo. Mas o medo… o medo de tudo que podia dar errado ainda me travava.Olhei bem nos olhos dele e disse:— Tá bom, Panter

Blackout narrandoAcordei no dia seguinte com a cabeça pesada, ainda pensando em tudo que rolou no baile e, claro, no que tava acontecendo com a Nath e a Janete. A mina não parava de me consumir com esses dilemas dela. Ela não dizia, mas dava pra ver que tava tensa, e não era só por causa do rolê no morro. Eu sabia que, no fundo, ela tava mais preocupada com a Janete do que com qualquer outra coisa. Aquelas duas, quando se juntam, é uma ligação sinistra, mas às vezes parece que a Janete faz tudo pra se meter em enrascada. E a Nath, bom, ela tenta salvar a amiga, mas sempre acaba se colocando em segundo plano.Levantei devagar, me espreguiçando enquanto tentava espantar a preguiça. Já sabia que a Nath ia tá com a cabeça cheia, então, melhor ir devagar com ela hoje. A casa tava tranquila, mas eu tava com a sensação de que algo ainda ia acontecer. E esse algo podia ser relacionado à Janete. As coisas não ficavam assim tão complicadas sem motivo. Eu já tava ligado que, se fosse seguir nes

Pantera narrando Ela encostou a cabeça no meu ombro e, naquele momento, irmão... parecia que o mundo parou de girar só pra deixar a gente ali, no silêncio, no calor do que a gente sente um pelo outro. Janete é diferente. Não é dessas mina que cola só pelo brilho da função, não... ela quer mais, quer paz, quer segurança, e eu entendo. Mesmo vivendo nesse corre louco, eu entendo.— Cê sabe que tu mexe comigo de um jeito que nenhuma outra mexeu, né? — falei baixo, passando a mão devagar no cabelo dela.Ela não respondeu, só respirou fundo, como quem precisava daquele momento mais do que qualquer palavra. E eu ali, segurando minha braba, sentindo o coração bater acelerado, mas firme, porque era ela, tá ligado?— Eu posso não ser o cara perfeito, Janete... mas se tem uma parada que eu sei fazer é cuidar dos meus. E tu virou dos meus. Tu é minha.Ela levantou o rosto, olhou dentro do meu olho. E mano... o olhar dela fala mais que mil fita. Aquele olhar me desmonta, me fortalece, me dá moti

Nath narrando Acordei com aquele sol na cara e uma preguiça daquelas. Virei pro lado e dei de cara com o Blackout ainda jogado na cama, dormindo pesado. Ele parecia um anjo… um anjo todo tatuado e perigoso, mas meu. Sorri de leve, lembrando da noite passada, e levantei devagar pra não acordar ele.Enquanto esquentava a água pro café, peguei o celular e mandei mensagem pra Janete. Eu tava com saudade dela, da nossa conexão de antes. Depois de tudo que rolou no baile, eu fiquei bolada. Aquilo mexeu comigo. E sei que mexeu com ela também. A gente se envolve com esses caras e esquece que o mundo deles gira em outro ritmo. Risco faz parte do pacote.Mas eu também não sou de fugir, né? Se for pra viver, que seja com intensidade. E é isso que eu sinto quando tô com o Blackout. Um fogo, uma vontade de cuidar, mas também de me jogar.Sentei no sofá com a xícara na mão e fiquei pensando no que a Janete deve tá passando. Ela é forte, mas tem um coração mole. E se tem uma coisa que aprendi nesse