POV KaliVer o Kabir se apaixonar de verdade por Saniya foi uma das coisas mais lindas que eu já tive o privilégio de testemunhar. No começo, confesso que fiquei na minha, observando de longe, porque eu sabia o quanto ele já havia passado, e o quanto ainda carregava, para se abrir assim novamente. Ele sempre foi intenso, um furacão de emoções e cuidado, mas também alguém que podia se fechar rápido, como se proteger fosse a única forma de sobreviver.Mas com Saniya, era diferente. Era como se ele tivesse encontrado uma calmaria dentro do próprio furacão. Lembro da primeira vez que os vi juntos, um café qualquer, e ele falando dela com um brilho no olhar que eu nunca tinha visto antes. Sabe aquele brilho que não some? Que não é só fascínio passageiro, mas respeito, cuidado, e uma admiração silenciosa?— Você acha que ela gosta de café forte? — Kabir me perguntou, meio nervoso, como quem quer acertar em tudo, mas sabe que não precisa.Eu sorri, porque o Kabir sempre foi assim: tentando p

POV NiyatiUm dia, depois do jantar, eu ouvi mamadi conversando com o Rafael na cozinha, a voz baixa, cheia de cuidado e esperança.— Eu não sei se estou pronta — ela disse, quase um sussurro.— Ninguém nunca está — respondeu ele, com um sorriso gentil. — Mas você não precisa estar pronta sozinha. Eu estou aqui.Ela suspirou, e eu pude ouvir o alívio naquela pausa.— Eu só quero que a Niyati seja feliz — ela falou, mais para si mesma do que para ele.— E ela vai ser — ele disse, firme. — Você vai dar a ela o melhor que tem. E a gente vai fazer isso juntos.Eu fiquei ali, escutando cada palavra, sentindo uma paz que não sentia há muito tempo. E naquele momento, percebi que talvez... só talvez, fosse hora de deixar a vida crescer de novo. Mesmo que cresça devagar, mesmo que eu tenha medo, eu quero deixar que o amor floresça de novo dentro da gente. Porque o amor é a única coisa que não morre, não importa o quanto a gente perca.Eu apertei o marcador de página que a mamãe segurava, com a

POV NiyatiO tempo passou, como sempre passa. E com ele, as estações da vida foram se sucedendo, trazendo alegrias, dores, perdas e encontros. Mamãe e Rafael seguiram juntos, construindo uma nova rotina cheia de pequenos momentos que, aos poucos, foram deixando a casa mais leve. Eu cresci, estudando, sonhando, aprendendo a ser mulher nesse emaranhado de emoções que só a vida sabe dar.E enquanto a gente seguia, uma outra presença que sempre esteve ali, forte como um farol, foi se tornando cada vez mais delicada: Ananya, minha babá, cuidadora, avó, companheira... a mulher que havia sido a raiz da nossa família, que tinha segurado todo mundo quando parecia que nada mais aguentava.Eu lembro dela sentada na sua poltrona favorita, lendo devagar, com o olhar cheio de histórias. O cabelo branco, preso num coque frouxo, e aquele sorriso que era mistura de sabedoria e carinho. Ela sempre foi um pilar para todos nós, o ombro forte e o colo aconchegante.Com o passar dos anos, a saúde dela foi

POV NiyatiEra fim de tarde quando decidi ir até a casa dos meus avós. Abigail e Conrad moravam num lugar rodeado por árvores altas, com uma varanda que sempre cheirava a jasmim. Eu gostava daquele lugar. Era como se o tempo desacelerasse ali. Um refúgio de silêncio bom, onde as palavras nasciam com mais facilidade.Entrei e encontrei os dois sentados na varanda, tomando chá. A vovó estava com uma manta nas pernas, como sempre fazia quando o vento soprava mais frio. O vovô lia alguma coisa, provavelmente um artigo médico antigo, como de costume. Eles pareciam parte de um quadro, um retrato da calma que só os anos compartilhados podem oferecer.— Oi, meus amores — eu disse, me aproximando.A vovó sorriu e estendeu a mão pra mim.— Oi, minha menina linda... Senta aqui com a gente. — seu sorriso iluminou seu rosto que já começava a ficar enrugado da idade.Sentei entre os dois, sentindo o calor do carinho que eles sempre me deram. Ficamos em silêncio por um tempo, ouvindo os pássaros ao

POV NiyatiEstudar nunca foi algo que me assustou. Eu gostava de aprender, de mergulhar nas páginas de um livro e esquecer do tempo. Mas quando decidi que faria medicina, percebi que gostar não seria suficiente. Eu precisaria ser constante. Precisaria ser forte.A primeira semana foi empolgante. Eu fiz cronogramas coloridos, comprei marcadores novos, arrumei a escrivaninha do quarto como se fosse meu pequeno laboratório de guerra. Acordava cedo, tomava café com mamãe e Rafael, e antes mesmo do sol aquecer direito a varanda, já estava com um caderno aberto e uma xícara de café do lado.— Niyati, filha, tem certeza que não quer descansar um pouco? — mamãe perguntava sempre, já conhecendo meu jeito obsessivo quando me fixava em algo.— Não, mãe. Eu preciso entender isso aqui. Anatomia não entra fácil como literatura.Ela sorria com aquele misto de ternura e orgulho, e às vezes deixava frutas cortadas do lado dos meus livros. Só saía do quarto depois de prometer que ia parar pra almoçar.