Me afasto, sentindo o clima mudando entre nós.É claro que ele leu as notícias. Eu tive que desligar meu celular para evitar que explodisse com tantas notificações que chegavam a cada segundo.— Conseguiu me identificar aquela foto de mil anos atrás? — contestações.— Eu consideraria esses olhos cor de safira em qualquer lugar — ele elogia.Esse me elogia pega de surpresa. Desvio o olhar para o chão onde estamos sentados. Cristian me faz sentir especialmente de maneiras que eu nunca imaginei. Esse sentimento que cresce no meu peito alerta que estamos entrando em uma linha muito perigosa. Eu não o conheço, e ele não me conhece. Meu pai deixou bem claro que teria que ir embora dentro de uma semana; Caso contrário, ele me arrastaria pelos cabelos, se fosse preciso. Acho que finalmente vou conhecer meu noivo incógnito, e me apaixonar por Cristian não é algo que facilitaria as coisas para mim.— A felicidade está em um anel de diamante? - solto.— A felicidade está onde você acredita que d

Já são duas horas da manhã. Sei disso porque não consigo dormir — já virei na cama umas trezentas vezes, e ainda parece que há me incomodando. O que estava passando na minha cabeça quando retribuí o beijo? Sinto-me tão humilhada, tão acabada.Fecho os olhos com força, tentando afastar as imagens e pensamentos que se acumulam em minha mente: o lugar, as histórias, a música, o beijo. Um suspiro sufocado escapa de mim. Pego o travesseiro e o enfio contra o rosto, como se pudesse abafá-lo junto com as minhas decepções.— Burra, burra — repito para mim mesma, até que as palavras penetrem na minha cabeça.Chegou a hora de encarar a realidade: eu viajei para Roma, vivi momentos em que fui eu por mesmo um tempo, mas agora preciso voltar ao meu país, conhecer meu noivo e casar. Não vou nadar contra a maré mais; vou deixar que ela me carregue. No fim, parece que sempre fui destinado a esse caminho.Desejo de dormir. Algumas horas depois, pulo da cama, indo diretamente para o guarda-roupa de mad

– Sua vaca egoísta – Helena diz, franzindo a testa para mim. Estamos jogados na minha cama, usando pijamas de bichinhos fofos, na nossa tradicional noite das garotas. Ela prende o cabelo cacheado em um coque desarrumado, o que a deixa ainda mais linda. Com a pele bronzeada, lábios carnudos que qualquer garota invejaria – inclusive eu –, e olhos tão escuros quanto jabuticabas, Helena me encara como se eu tivesse cometido o pior dos pecados.– Então quer dizer que você fugiu do jantar de noivo, foi parar em Roma, conheceu um cara lindo que você fez gozar não uma, mas duas vezes e simplesmente sumiu sem dar notícias pra sua melhor amiga? – Ela j**a uma almofada em mim, indignada.– Tem mais alguma coisa que eu deva saber? – ela cutuca.– Vou casar com Noah Wills – solto a bomba, com um desânimo de fazer pena.– Ah, isso nem é novidade – ela revira os olhos. – Mas você não pode casar! Não depois de ter ficado de pernas bambas com esse tal de Cristian!Jogo a almofada de volta nela, rindo.

O cheiro forte de cerveja encanta meu vestido, mas eu mal consigo processar isso.Porque, à minha frente, está ele.Cristão.Ou, pelo menos, era assim que ele havia se apresentado para mim em Roma.Meu coração dispara descontroladamente dentro do peito. Sinto como se toda a oxigênio tivesse sido sugada da sala, me deixando tonta, sufocada. Meus olhos o encaram em busca de alguma explicação lógica para aquilo mas tudo o que vejo é a confusão mesma estampada no rosto dele.Ele me perguntou como se estivesse vendendo um fantasma.Meu corpo inteiro está paralisado, mas minha mente grita. O que ele está fazendo aqui? Quem é essa mulher sorrindo para ele como se fosse íntimo?E, pior, por que ele não diz nada?"Cunhadinha"?As palavras ecoam na minha cabeça, mas elas não fazem sentido imediatamente. Estou perdido demais na forma como Cristian parece desesperado, nervoso... preocupado.A voz de Cristian rasga o ar entre nós, carregada de um desespero que quase me faz vacilar.Mas eu não poss

Arrasto Helena pelos braços até o meu quarto, mas não antes dela pegar uma bandeja inteira de canapés, alegando estar em fase de crescimento. Sua expressão travessa quase me faz rir.—Seu futuro marido? Sério mesmo? Essa foi a melhor explicação que ele conseguiu me dar? — reclamo, sentindo o ódio crescer à medida que o choque se dissipa. Minhas bochechas formigam de tanta raiva, e parece que uma onda de calor sobe pelo meu pescoço até machucar na ponta das orelhas. Helena está ao meu lado, sentada de pernas cruzadas no tapete, ouvindo pela décima vez a mesma história. Um sorriso malicioso, que ela tenta disfarçar comendo um canapé, aparece nos lábios dela.— Não ousa, Helena — aviso, apontando o dedo para ela.— Não falei nada — ela respondeu rapidamente, erguendo as mãos em redenção, como se fosse a imagem da inocência.— Mas pensei, eu sei disso — rebato, sem paciência para suas tentativas de bancar a boazinha.— Não é tão ruim assim, vai. — Ela dá de ombros, mastigando outro canapé