Stella WilliansMeu pai estava sentado em uma das cadeiras da sala de reuniões, o rosto levemente pálido, apesar de insistir que estava tudo bem. Eu sabia que não estava. Ninguém tossia sangue e seguia a vida normalmente. A imagem da palma da mão dele manchada com pequenas gotas vermelhas ainda estava gravada na minha cabeça.Assisti à reunião de canto, como sempre fazia. Estagiária não opinava, não conduzia negociações, não interferia. Apenas observava, anotava e aprendia. E mesmo assim, naquele dia, algo parecia errado desde o início.Irina estava... gentil. Gentil de um jeito quase teatral. Não lançou uma única alfinetada na minha direção, nem sequer uma olhadela de desprezo. Quando me dirigi à mesa para entregar algumas cópias de um relatório solicitado, ela agradeceu com um sorriso. Um sorriso. Daqueles que me causavam mais arrepios do que qualquer insulto direto.Foi nesse momento que reparei em Brandon. Ele também a observava. Mas não como quem estranhava um comportamento. Era

Stella WilliansO estacionamento da faculdade estava particularmente movimentado. Carros entrando e saindo com pressa, buzinas impacientes, grupos de alunos cruzando o pátio com mochilas nos ombros e olhares cansados. Um cenário comum — menos para mim.Estava com a mente em outro lugar desde que entrei no carro com Brandon. Ele falava sobre um novo investidor na empresa, sobre um jantar importante que teria essa semana e como poderíamos ir juntos. Mas eu só ouvia ruídos, como se sua voz estivesse distante, abafada por uma parede de vidro.Minha cabeça ainda estava na consulta do meu pai. No exame marcado. Na palavra “biópsia”. No silêncio dele.Voltei minha atenção para a realidade quando Brandon desligou o motor e girou a cabeça na minha direção com aquele sorriso polido e quase ensaiado no rosto.— Precisa que eu te acompanhe até sua aula, esposa? — perguntou, tocando levemente minha perna, um gesto que antes seria natural. Agora, me causava repulsa.— Não, eu sei o caminho. — respo

Stella WilliansTalvez eu estivesse esperando demais. Esperando que o universo me desse algum sinal de que tudo ainda estava em ordem. Que eu não estava sozinha. Que, apesar das mentiras e chantagens, Dominic continuava sendo… meu. Ou pelo menos, continuava sendo nosso — esse “nosso” que nem chegou a existir de verdade, mas que foi sentido, vivido, queimado em cada centímetro do meu corpo.Mas não.Não foi isso que eu encontrei.Quando entrei no restaurante com Brandon, não queria mais do que terminar o dia de forma civilizada. Estávamos fingindo bem — bem o suficiente para enganar os olhares ao redor. Ele tinha sugerido o lugar com naturalidade, como se estivéssemos mesmo num casamento, não em uma prisão a dois. Eu aceitei, por exaustão. Já não tinha forças para negar tudo.A comida nem havia chegado ainda quando meus olhos cruzaram o salão e pararam numa mesa afastada, perto da parede com iluminação indireta.E então, meu mundo vacilou.Dominic.Ele e ela. Os dois pareciam parte de

Stella WilliansMeus pés se moveram antes mesmo que eu pensasse. Quando Brandon murmurou aquelas palavras — “é minha mãe” —, tudo ao meu redor se tornou ruído. Os talheres tilintando nas mesas vizinhas, as risadas abafadas, o som ambiente suave da música que ecoava, tudo foi engolido por um zumbido surdo nos meus ouvidos.Eu precisava sair dali.Levantei da cadeira dizendo que ia ao banheiro, mas nem sei se ele me ouviu. Meus passos estavam apressados, trôpegos, como se meus joelhos estivessem soltos, sem estrutura. Atravessei o salão elegante do restaurante ignorando os olhares e as luzes quentes, que pareciam ainda mais intensas sobre minha pele. Senti uma fina camada de suor nas palmas das mãos e uma pressão incômoda no centro do peito.As portas do banheiro feminino se abriram à minha frente como uma miragem. Entrei. Encostei-me contra a parede de mármore bege e respirei fundo — ou ao menos tentei.Mas o ar não vinha.Minhas narinas puxavam, meus pulmões pediam, e nada parecia suf

Dominic Willians Eu sabia que ela estava mentindo.O problema é que Stella mentia com doçura. Com aquele olhar baixo, aquela voz embargada e aquele jeito de parecer forte mesmo quando claramente estava despedaçada por dentro. E, porra, como aquilo me destruía. Porque eu a conhecia. Conhecia cada expressão, cada hesitação. Sabia quando ela queria fugir. Sabia quando estava prestes a desabar.E ela estava prestes a desabar.Saí da sala dela sem dizer mais nada, mas cada passo que eu dava pelo corredor era como mastigar vidro. A dor se alojou no meio do peito, entre os ossos, entre as dúvidas. Brandon sabia. Ele sabia o que estava acontecendo. E não queria que eu soubesse.Ver ele carregando Stella nos braços, ontem à noite, como se fosse o único com direito de estar ao lado dela, me deixou à beira de uma fúria que eu mal consegui controlar. Ela desmaiou. E mesmo assim, ninguém me avisou. Ninguém me deixou tocá-la, perguntar se estava bem, levá-la ao hospital. Brandon não permitiu. Bran