Armadilha e Ruína Heitor O fim da tarde caiu como uma névoa pesada sobre meus ombros. Não consegui concentrar em mais nada depois da conversa com Felipe. Cada palavra dele ecoava como um tambor na minha cabeça. “Se esse cara reaparecer?” “Se ela ainda mantiver contato?” Bati a porta da sala e desci para a rua. Precisava espairecer, pensar, ou talvez simplesmente esquecer. Peguei o carro e saí sem rumo, deixando a racionalidade para trás. Estacionei perto de um bar antigo que conhecia de tempos remotos, um lugar pequeno, escondido, frequentado por quem queria desaparecer. Entrei, pedi um whisky puro. Depois outro. E outro. O gosto queimava a garganta, mas não era suficiente para apagar o incômodo dentro de mim. “E se ela realmente amou outro? E se esse tal executivo ainda rondar a vida dela? Eu fui apenas mais um?” Sacudi a cabeça, tentando expulsar o veneno das dúvidas. Eu confiava na Lívia. Ou achava que confiava. Agora... tudo estava nublado. — Olha quem resolveu dar as ca

Silêncio, Gritos e Feridas Abertas Lívia Desde o momento em que as imagens chegaram ao meu celular, permaneci trancada no quarto. As cortinas fechadas, o abajur aceso mesmo durante o dia e a cama desarrumada eram o reflexo exato do meu estado. Não comi. Não dormi. Não falei com ninguém. Apenas chorei. Chorei como se nunca fosse parar. Cada vez que fechava os olhos, via Heitor... ou o que parecia ser ele. Sorrindo bêbado, com a camisa aberta, dançando descontrolado no bar com Bianca pendurada em seu pescoço. A mesma mulher que ele dizia desprezar. A mesma que dizia não ter mais acesso à vida dele. Tudo mentira? Ou fui só mais uma na longa lista de conquistas de um CEO egocêntrico? Meu corpo inteiro tremia, mas o que mais doía era a alma. Ouvir os gritos de Cecília ecoando pela casa foi como ter minha dor amplificada em voz alta. Eu não sabia o que exatamente ela estava dizendo, mas dava para entender que ela estava no telefone com ele. E pela raiva na voz da minha amiga, ele mereci

O Início da Caçada Heitor Na manhã seguinte à conversa com Felipe, senti algo que há dias não me visitava: determinação. Havia chorado, me revoltado, perdido o controle... Agora era hora de recuperar tudo que me foi arrancado naquela maldita noite. Se Bianca achou que ia sair impune, ela não conhecia o verdadeiro Heitor Castellan. Dei início à etapa mais importante: buscar a verdade. E para isso, contratei um dos melhores detetives particulares do estado. Discreto, preciso e sem envolvimento emocional — era disso que eu precisava. Um profissional que não fosse contaminar a investigação com julgamentos ou preconceitos. Alguém que simplesmente seguisse os fatos e me entregasse a verdade nua e crua. Pedi que ele fosse ao escritório naquela manhã, mas sem revelar o motivo de sua visita a ninguém da equipe. Apenas informei à recepção que havia uma reunião agendada. Quando ele chegou, foi anunciado como "Sr. Dantas". Vestia um terno escuro, gravata bordô, sapatos impecáveis e usava ócul

O Veneno em Forma de LuxoBiancaA cobertura em que eu morava era um dos últimos vestígios do sobrenome Machado ainda causar algum impacto no meio social paulistano. Herdada parcialmente após o divórcio dos meus pais e mantida com a ajuda de um acordo financeiro amargo com minha mãe, o imóvel me permitia manter as aparências. No mundo que eu conhecia — e adorava pertencer — as aparências sempre valiam mais que a verdade.A decoração era luxuosa, com peças de design italiano, quadros de artistas contemporâneos que ninguém conhecia, mas custavam o suficiente para impressionar. Eu sabia montar um cenário. Sabia compor uma imagem. E para quem cresceu entre almoços em clubes e eventos com champanhe antes mesmo de saber conjugar todos os verbos, manter a pose era uma arte.O escândalo envolvendo Heitor Castellan explodiu como eu esperava. Melhor ainda: exatamente no tempo certo. O vídeo dele dançando, bêbado, comigo agarrada ao seu pescoço e as fotos do quarto do motel foram estrategicament

Revelações e Ruptura Lívia Quando vi Felipe entrando no apartamento ao lado de Cecília, o tempo pareceu parar. Meus olhos passaram por ele como se quisessem encontrar alguma resposta visível, alguma explicação estampada em seu rosto. Mas só vi hesitação e um certo arrependimento. Cecília, por outro lado, segurava firme meu olhar. Ela parecia mais tensa do que o normal, e isso me deixou ainda mais desconfiada. — O que ele está fazendo aqui? — perguntei, sem conseguir disfarçar o tom gélido. — Ele tem algo para te contar. E você precisa ouvir, Lívia. Por mim, por você mesma — Cecília disse, sentando-se ao meu lado, como uma ponte entre nós. Respirei fundo, ainda abraçada ao travesseiro no sofá. Estava de moletom, descalça, com o cabelo preso em um coque torto. Sentia-me exposta, vulnerável e cansada demais para lidar com mais decepções. Felipe permaneceu em pé, um tanto constrangido, até que eu, com um gesto rápido de mão, o autorizei a falar. — Eu cometi um erro, Lívia. Um erro