Um Jogo Mais Perigoso Naquela manhã, o clima em São Paulo parecia conspirar com os sentimentos de Heitor. O céu estava nublado, o ar pesado, como se a cidade inteira estivesse prestes a desabar em uma tempestade. Ele entrou no carro sem rumo definido. Precisava sair do escritório, respirar, afastar-se dos relatórios, dos acionistas e, principalmente, dos próprios pensamentos. Dirigiu por mais de uma hora. Pela marginal, depois atravessou a Avenida Paulista, entrou por ruas menores, passou por lugares que conhecia e outros que não via desde a juventude. Queria se perder. Mas a única coisa que ocupava sua mente era ela. Sem pensar muito, estacionou diante de um pequeno prédio comercial discreto em Moema. Desceu, atravessou a calçada com passos firmes e entrou em um café. Era ali que ele e Lívia haviam almoçado pela primeira vez depois de uma reunião, ainda nos primeiros meses de negociação. Um lugar sem luxo, mas com charme e memória. Sentou-se na mesma mesa do canto ficou ali p

Tempestade e Promessa A sexta-feira chegou com o peso de uma expectativa incontida. Heitor passou o dia tentando se concentrar nos compromissos da empresa, mas seu pensamento estava ancorado no mesmo ponto: vinte horas. O reencontro. O lugar onde tudo havia começado. O momento que poderia redefinir o rumo daquilo que insistia em sobreviver entre eles. À noite em seu apartamento vestiu-se com sobriedade: camisa preta, jeans escuro e o relógio que ganhara do pai, um amuleto que usava sempre que precisava de força. Saiu do apartamento um pouco antes do horário e seguiu rumo ao restaurante onde havia jantado com Lívia pela primeira vez, logo após fecharem o primeiro grande contrato. Enquanto isso, Lívia também encerrava um dia tenso. A auditoria havia se resolvido sem complicações, mas a agenda lotada, as cobranças e os olhares dos pares da diretoria a deixaram exausta. Ao entrar em casa, jogou os sapatos longe e ficou por alguns minutos sentada no chão da sala, de olhos fechados. Res

O Acordo da Rendição Heitor O olhar de Bianca me queimava como uma brasa incômoda. Eu tentava me concentrar em Lívia, nos olhos dela, no sorriso que eu tanto desejei de volta… mas era impossível ignorar o veneno que vinha da outra mesa. Aquela sensação de ser observado, julgado, medido. Só que agora eu não me importava com o julgamento. Só queria sair dali, levar Lívia comigo, para um lugar onde ninguém pudesse nos alcançar. Pedi a conta com pressa, mas sem perder a elegância. Quando me levantei, toquei suavemente as costas de Lívia. Era mais do que um gesto de cavalheirismo. Era proteção. Era posse no melhor sentido que eu conhecia: quero você comigo, agora e depois. Lívia Senti o toque dele, firme e ao mesmo tempo suave. Mas também senti aquele calafrio que só os olhos maldosos sabem provocar. Sabia que ela ainda estava ali, nos observando. Não precisei olhar para saber. Meu corpo reconhece a tensão antes da mente. Mas não me curvei. Me levantei ereta, com o queixo alinha

A Confissão Heitor Encostei o carro na porta do prédio e fiquei apenas olhando para ela. Os cabelos ainda bagunçados da nossa última rodada de prazer no hotel, os lábios vermelhos marcando aquele sorriso preguiçoso e saciado. Ela se inclinou, me deu um beijo quente, daqueles que roubam o ar e deixam a alma desnorteada. — Isso é um convite pra eu subir? — perguntei, a voz baixa, suja de desejo. Lívia Beijei o canto da boca dele e sussurrei: — Não... é pra você ficar pensando em mim. Hoje eu preciso descansar. Você acabou comigo, me deu uma coça com esse pau gostoso. Heitor Soltei uma risada abafada, puxando o lóbulo da orelha dela com os dentes antes de revidar: — E você, com essa bocetinha maravilhosa, vai me deixar louco. Nos beijamos com mais intensidade, quase ferozes, sem nos importarmos com o mundo ao redor. Quando ela se afastou, os olhos brilhando e o sorriso de canto, eu soube: estava completamente entregue. Lívia Saí do carro com aquele sorrisinho bobo no rosto. E

Capítulo 30 – Flores, Bilhetes e Começos Lívia Acordei ainda sentindo as marcas do fim de semana. O corpo leve, a alma silenciosamente gritando o nome dele. Era segunda-feira, e a semana exigia foco, mas a minha mente insistia em revisitar cada instante do nosso confinamento erótico. Escolhi um vestido azul-marinho acinturado, salto fino, blazer de corte reto e batom cor de boca. Tudo comedidamente calculado, mas com o toque exato de provocação. Se o destino quisesse me testar, eu estava pronta. Cecília apareceu na porta do meu quarto com uma xícara de café na mão e um olhar afiado. — Pronta, diretora? — perguntou com aquele tom debochado que só ela conseguia sustentar sem parecer ofensiva. — Sempre. E você, senhora superintendente? — rebati, prendendo o cabelo em um coque alto e finalizando o visual com brincos de pérola discretos. Morávamos juntas desde a faculdade, mas a amizade vinha de antes. Desde os três anos de idade. Uma vida inteira partilhada. Cecília era contadora de