O Jogo Virou (ele não respondeu mais nenhuma mensagem durante o dia. Nem um emoji, nem um comentário sutil, nem mesmo aqueles três pontinhos de digitação que criam expectativa) (Lívia percebe. Mas não insiste) (ela segura o celular por alguns segundos, pensa em escrever algo... mas apaga. Prefere não correr atrás. Não dessa vez) (o silêncio dele a irrita. Mas também a protege. E por isso ela resolve recuar) — (quando está prestes a sair do banco no final da tarde, a recepcionista surge com um sorriso curioso) — Dra. Lívia, entregaram pra senhora agora há pouco. — Pra mim? (um buquê imenso de lírios brancos, perfumados, envoltos por papel prateado e um laço discreto) (pega o cartão preso entre as flores. Reconhece a letra no mesmo instante) Cartão – escrito por Heitor: "A noite foi mais do que incrível. O silêncio não é desinteresse — é medo. Medo do que você despertou. Não é todo dia que um CEO perde o controle. Mas quando perde… é porque alguém tocou a alma." (ela so

Gelo e Fogo (no café da manhã do hotel, Lívia cruza o salão com a cabeça erguida, os passos firmes e o vestido leve esvoaçando em torno das coxas. O evento de encerramento havia terminado, mas os encontros entre executivos, gerentes e clientes seguiriam durante o dia em pequenos grupos) (se aproxima de uma mesa, cumprimenta com um sorriso um grupo de gerentes do interior. Conversa educada, descontraída. Um cliente importante do agronegócio se aproxima e lhe oferece um café) — Obrigada, aceitei — ela diz com elegância. (Heitor observa de longe. Camisa social dobrada nos antebraços, sem blazer, mas ainda com o olhar de CEO dominante. Ele a vê sorrindo, interagindo com colegas, com homens — homens que não ele) (ele trinca a mandíbula. A xícara de café que segura quase estala em seus dedos) — Você tá brincando comigo... (ela cruza as pernas devagar. Ri de algo que o outro gerente diz. Ajeita o cabelo. Não olha na direção de Heitor nem por um segundo. Mas sabe. Sente) “Ele tá me ve

Furacão Lívia(Heitor estava sentado na varanda do seu apartamento em São Paulo, camisa de algodão amassada, copo de whisky pela metade e os olhos perdidos na vista noturna da cidade)(fazia três noites que acordava suando. E sempre com o mesmo nome nos lábios)— Lívia...(a mesma imagem sempre o acordava: ela caminhando na praia, o vestido colado ao corpo pelo vento, os olhos desafiadores e tristes. O beijo. A despedida. A carta...)(ele havia lido a carta tantas vezes que já sabia cada palavra de cor. E ainda assim, não conseguia esquecer a dor silenciosa que ela deixara com aquela letra firme)—(a campainha toca. Ele não esperava ninguém. Vai até a porta, destranca. Felipe entra sem cerimônia, como sempre)— Irmão! Que cara é essa? Parece que te passaram pra trás num contrato bilionário.— Felipe...— Caralho, você tá um caco. Isso é jet lag emocional ou você tá mesmo se alimentando só de whisky e silêncio?— Voltei da Bahia pior do que fui.— Isso é novidade. Você sempre volta do

Entre o Orgulho e o Desejo O movimento na agência era intenso naquela manhã. Clientes sendo recebidos na recepção, analistas se deslocando com pastas e sorrisos treinados. A atmosfera de metas, foco e elegância reinava. Lívia, como sempre, mantinha-se impecável em sua sala. Vestia um blazer creme, calça de alfaiataria na mesma tonalidade, cabelo preso em um rabo de cavalo baixo, a maquiagem leve, porém estratégica. Estava concentrada digitando o fechamento de uma proposta para o comitê regional quando a recepcionista bateu à porta. — Dra. Lívia… o senhor Heitor Castellan está aqui. Solicitou atendimento com a gerente geral. Lívia travou por um segundo. Depois retomou o ritmo natural, com o olhar frio e o coração acelerando discretamente. — Mande entrar. A porta se abriu. Ele entrou como sempre: imponente, seguro, com o blazer cinza-escuro ajustado, os olhos levemente cansados, mas atentos. Trazia uma pasta nas mãos e o charme perigoso no olhar. — Bom dia, gerente Montecchia. —

Capítulo 19 – O Substituto A luz natural invadia a sala envidraçada do escritório de Heitor Castellan, refletindo sobre o piso de madeira escura. Ele estava ali, sentado em sua cadeira de couro, o paletó pendurado na parte de trás da porta e a manga da camisa social levemente dobrada. Os olhos estavam fixos na tela do notebook, mas a mente vagueava. Desde a visita à agência, não conseguia se concentrar. A imagem de Lívia, fria e impecável, ainda o perturbava. Sua voz firme, a segurança com que o afastou, o jeito calculado de mantê-lo longe e perto ao mesmo tempo. Ele pensava em mandar uma mensagem. Talvez algo neutro. Um "obrigado pelo atendimento". Um convite velado para um novo contato. Mas algo o travava. O orgulho. O medo. A certeza de que ela ainda esperava algo mais do que palavras. Foi interrompido por uma notificação de e-mail. Assunto: Atualização de Responsável – Conta Grupo Castellan. Ele clicou, sem pressa. Leu a mensagem com os olhos apertando cada linha. "Informamos